Santo António e a Quaresma de Pádua
rivais, partidos e personagens públicos; os prisioneiros são libertados e Frei António obtém uma amnistia, um ato de clemência; leva a autoridade comunal a emitir a seguinte lei: “A pedido do venerável irmão, o beato António...no futuro nenhum devedor ou cidadão poderá perder a sua liberdade por causa da sua dívida. Pode ser sequestrada a sua propriedade, não a sua pessoa e a sua liberdade”; consegue libertar as prostitutas do “torpe mercado”, a que estavam sujeitas.
Frei António tem uma ampla visão da pregação, não a reduz à interioridade do indivíduo, mas a criar um novo mundo. Como pregador e teólogo sente-se obrigado nos confrontos com a sociedade e a história, sem limitar-se apenas à vida privada do cristão. A religião tem uma ligação e referência do mundo interior com o mundo exterior, com um Deus que se incarnou para vivermos como irmãos, é ao lado deste Deus que António se coloca à sua plena disposição.
Os trabalhos da Quaresma deixaram Frei António exausto, completamente arruinado. Decidiu então retirar-se ao silêncio que tanto amava, onde queria terminar os seus “Sermões para as festas dos Santos”. Um dia durante a refeição em Camposanpiero sofre um infarto. Diz aos religiosos para morrer em Pádua, no conventinho de Santa Maria dos Anjos. Os frades colocam-no numa carroça puxada por bois, mas junto de Pádua está a morrer, fica em Arcella, num conventinho de Clarissas, onde depois de confessar-se, exclama: “Vejo o meu Senhor” e morre.
Toda a cidade de Pádua e arredores está de luto. A devoção popular, segundo a Crónica da época, fala de “furor e fervor”. Em 1350 é aberto o túmulo e descobre-se que a língua está intacta, o mesmo acontece em 1981, e então se descobre, com grande espanto, que não só a língua, mas também as cordas vocais estão intactas. Durante a canonização, antes de um ano da sua morte, contam-se 53 milagres, de paralíticos, cegos, surdos, mudos, epiléticos, mortos que ressurgem, náufragos que se salvam, estes acontecimentos são documentados com nomes e lugares, sinais realizados na vida de Jesus e que também, hoje, são testemunhas do fulgor da ressurreição.