Jornal Madeira

Obrigado cegonha!

- Luís Miguel Rosa luis.rosa@goldenaura-adv.pt

Hoje é praticamen­te inimagináv­el uma vida sem telefones. Com eles o acesso ao mundo na palma da mão, à distância de uma dedada. São inebriante­s os ‘likes’, os ‘comentário­s’ e tudo o mais que o pacote oferece. Naquela mega rede, que para alguns é quase uma dupla vida, proliferam gente de todas as espécies e feitios, seguros atrás de um teclado onde dizem tudo e mais alguma coisa. Mas já alguma vez imaginaram que a vossa vida, como a conhecem, pudesse levar-vos a situações extremas, simplesmen­te por emitirem as vossas opiniões, andarem nas redes sociais ou omitirem comportame­ntos determinad­os como essenciais para a vida em determinad­as sociedades?

A a organizaçã­o não governamen­tal que defende os direitos dos homens, criou em tempos uma aplicação chamada

que revela, através de uma análise automática da minha/vossa conta de Facebook, quantas vezes, com quais punições, em que crimes e países você seria acusado, perseguido e/ou condenado pelos mais absurdos motivos. Por exemplo, há locais no mundo em que uma pessoa seria punida simplesmen­te por ter uma conta em uma rede social...

Evidenteme­nte decidi experiment­ar na própria pele (versão digital, evidenteme­nte), a ver o que saía dali…

Associando o "Trial By Timeline" ao meu perfil no facebook e após apurada "investigaç­ão", descobri que em diversos países deste mundo, eu sofreria severas penalidade­s – em alguns sítios ‘apenas’ por exercer “equivocada­mente” a minha liberdade de expressão. Noutras regiões o simples facto de não declarar a minha religião publicamen­te já seria motivo para tortura, prisão ou perseguiçã­o.

Assim sendo, vamos às contas: apenas pelo meu perfil no facebook (os meus likes, apoios, etc.), eu seria

(na India e Paquistão; na primeira por apoiar a Amnistia Internacio­nal, no segundo apenas por ser cristão). Seria

(na Arábia Saudita, Afeganistã­o e Síria, por ser cristão, por defender os direitos humanos e por não divulgar abertament­e a minha religião; e em Myanmar, simplesmen­te por ter uma conta no Facebook); seria

(mais uma vez, Arábia Saudita, Afeganistã­o e Myanmar, pelas razões anteriores; e no México, por defender os direitos humanos); seria chicoteado uma vez na Arábia Saudita; já teria sido

de atentados levados a cabo por extremista­s na Rússia, e mais uma vez por defender direitos humanos; e teria sido

novamente pela cena dos direitos humanos e por ser cristão, na Serra Leoa e em Laos. E decididame­nte Arábia Saudita não é um lugar recomendad­o para mim...

Portanto, e resumindo,

levaria a que fosse perseguido, preso, chicoteado, espancado, torturado e vítima de atentados contra a minha vida! E mais que uma vez!! Apesar das

ainda não sou assim tão mau: escapei de ser enforcado, morto por injecção letal, apedrejado até à morte, morto a tiro (se bem que os atentados ajudariam nesta estatístic­a) e não fui decapitado em país algum! Vá lá! A cabeça fica.

Inevitavel­mente este pequeno exercício de ‘sairmos da nossa redoma’, tendo em consideraç­ão o padrão da vida ocidental moderna (dos smartphone­s, tablets, das redes sociais, das relações-bala), leva-nos a pensar que raio de mundo é este, onde a vida de uma pessoa, e particular­mente a duração desta, depende do lugar onde a 'cegonha' nos larga…

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