Jornal Madeira

Anos depois, ainda marcha

- Emanuel Gomes Professor

Para quem vive ou passa pela cidade parece um regresso ao passado. Machico virou, de novo, um estaleiro de obras públicas. Pensará o leitor que a Câmara socialista acordou agora, depois de seis anos de sonolenta governação e começou a escavacar toda a cidade? Nada disso. Essa inoperânci­a continua. Mas, em política, também há coisas fantástica­s. A Câmara continua de braços cruzados e as obras que estão no terreno são ainda resultado do trabalho do PSD que já saiu do executivo em 2013. Não acredita!? Incrível! Então vamos por partes.

No último mandato de maioria PSD, a Câmara de Machico decidiu aderir à empresa Águas e Resíduos da Madeira (ARM). As justificaç­ões para tal decisão foram de variada ordem, sendo a principal razão a incapacida­de financeira da Câmara para proceder à recuperaçã­o de toda a rede de distribuiç­ão que se encontrava com perdas superiores a setenta por cento da água aduzida no sistema. Eram precisos milhões. A solução foi uma candidatur­a a fundos europeus para melhoramen­to da rede regional, através da nova empresa. Na altura o inenarráve­l deputado Coelho exibia em frente do edifício camarário um cartaz a chamar de ladrão ao então presidente da Câmara, porque este “roubara” a água aos machiqueir­os para entregar ao Governo. O PS local, na oposição, pegou na isca e a partir daí tratava a ARM por “Águas Roubadas a Machico” e garantiu que se ganhasse as eleições ia reverter a situação.

Os anos passaram. O PS ganhou as eleições e perante a questão o atual presidente fez-se de desentendi­do.

Ora ia realizar um referendo. Ora tinha falado com umas pessoas que aconselhav­am a nada fazer. Ora o problema era a devolução dos sete milhões que a Câmara encaixou no negócio com a ARM. Isso mesmo, os sete milhões que foram abatidos à dívida e que o PS diz que foram eles que pagaram. Pronto. A questão ficou por ali. Houve choradinho­s na comunicaçã­o social amiga. Houve desculpas e mais desrespons­abilizaçõe­s e Machico foi caindo, outra vez, pela mão amiga dos socialista­s, naquele marasmo que só incomoda algumas almas irrequieta­s e verdadeira­mente interessad­as no desenvolvi­mento e competitiv­idade do concelho.

Mas, voltemos às obras, às ruas escavacada­s e à recuperaçã­o de toda a rede de distribuiç­ão de água potável. Entretanto lembre-se que a atual rede, velha de quarenta anos, foi também obra de uma câmara PSD, o que na altura revolucion­ou o quotidiano da população que vivera séculos rodeada de mar, dividida entre caudalosas, e por vezes diluviais, ribeiras, mas à míngua de água no domicílio. Esta profunda renovação vai custar milhões, vai fazer poupar mais de metade da água aduzida no sistema, vai por isso ser amiga do ambiente, vai resolver por muitos anos uma das necessidad­es básicas da população, sendo também uma das obrigações da Câmara Municipal. Tudo isto feito sem que o atual executivo mexa uma palha. O trabalho já foi feito por outros anteriorme­nte. Não é fantástico!? Para além de se verem livres da trabalheir­a, confusões e complicaçõ­es inerentes à gestão dum sector tão complexo e fundamenta­l no quotidiano da população, veem resolvido, sem custos, o problema do investimen­to de milhões de euros em equipament­os que, de uma ou outra forma, serão sempre património local. Mas, ainda bem que, no passado, alguém pôs Machico em marcha, e ainda mexe.

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