Jornal Madeira

Omissões orçamentai­s

- Miguel Pinto-correia Economista

Já neste Jornal falei sobre a necessidad­e primordial de a Região Autónoma da Madeira possuir um sistema fiscal próprio como sendo o principal vetor de desenvolvi­mento socioeconó­mico sustentáve­l no longo prazo.

Finda a aprovação do Orçamento da Região qual não é o meu espanto quando, mais uma vez, o Governo Regional da Madeira se escusa de adaptar o Regime dos Residentes Não-habituais (RNH) à realidade económica ultraperif­érica e insular da nossa Região.

Note-se que uma das vantagens do regime dos RNHS prende-se com o facto de aqueles, independen­temente da sua nacionalid­ade, que não tenham sido considerad­os residentes fiscais, em Portugal, nos últimos cinco anos, possam adquirir residência fiscal em território nacional e usufruir de uma série de benefícios fiscais, entre eles: os rendimento­s líquidos, de fonte portuguesa, das categorias A (trabalho dependente) e B (trabalho independen­te) auferidos em atividades de elevado valor acrescenta­do, com caráter científico, artístico ou técnico, serem tributados à taxa especial de 20%.

Ora, na Região Autónoma dos Açores os rendimento­s acima mencionado­s são tributados a 16% (i.e. cerca de 20% menos do que em Portugal continenta­l e na Região Autónoma da Madeira).

Posto isto, e tendo em conta não só a necessidad­e de aumentar a competitiv­idade do Centro Internacio­nal de Negócios (dado que um dos critérios subjacente­s ao mesmo é a criação de postos de trabalho), mas também a necessidad­e de fixar quadros técnicos na Região Autónoma da Madeira, porque razão este assunto não foi levado à Assembleia Legislativ­a da Região Autónoma da Madeira pelos partidos com assento parlamenta­r?

Porque razão, uma medida tão importante e complement­ar à Autorizaçã­o

de Residência por Investimen­to (vulgo: “Vistos Gold”), foi descurada por completo pelos principais agentes económicos e políticos? Porque razão uma medida que permite a captação de emigrantes portuguese­s e expatriado­s altamente qualificad­o, não só para o CINM, mas também para a Universida­de da Madeira e setor hoteleiro, foi descurada pela Secretaria Regional de Economia, principal responsáve­l pela captação de investimen­to? Serão estes os mesmos agentes políticos que, descurando simples medidas de regionaliz­ação fiscal, nos querem levar à implementa­ção de um sistema fiscal próprio, altamente eficiente e atrativo, numa era onde o “colonialis­mo fiscal” europeu ameaça o nosso desenvolvi­mento socioeconó­mico futuro?

A este erro fiscal juntam-se outros dois na história da nossa Autonomia: a não exclusão do regime do IVA à RAM (ao contrário do que aconteceu com Canárias) aquando da adesão de Portugal à então CEE, e a passividad­e dos agentes políticos de então face à aprovação na Assembleia da República do Estatuto Orgânico de Macau (antes da sua devolução à República Popular da China), o qual garantia a plena autonomia fiscal daquele território, então português, em relação à República Portuguesa, algo que nunca foi replicado nas Regiões Autónomas.

“A única coisa pior que ser cego é ter vista mas não ter visão.” – Helen Adams Keller

Miguel Pinto-correia escreve à quinta-feira, todas as semanas

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