Cidadania e coronavírus
Ar elação entre o individuo e a comunidade em que se insere, é um equilíbrio de direitos e deveres individuais que resultam numa sociedade equitativa, em que o bom senso prevalece e a comunidade prospera.
No entanto a sociedade perante um cenário de crise, coloca à prova este equilíbrio fino, que é o exercício de cidadania, pois o individuo é de uma forma inata compelido por uma questão meramente natural e animal, a um egoísmo cego ou se quisermos, instinto de sobrevivência. Concretizemos no cenário actual, em que o espectro da morte nos assola e entra diariamente pelos media, vendido como o Fim, e os cenários de catástrofe geram o pânico e despoletam a subversão do conceito da normal dinâmica do equilíbrio social (por exemplo a correria que esgotou o papel higiénico em Hong Kong, com algumas pessoas a fazerem stock para anos e outros sem papel), falamos obviamente do cenário de emergência mundial com o coronavírus 2019-ncov. Elaboremos uma resenha sobre o mesmo, com a informação disponibilizada pela Organização Mundial de Saúde, o virus 2019-ncov, faz parte de uma grande família de vírus que se encontra tanto em animais como humanos, e que as patologias até hoje identificadas por este, variam entre as vulgares constipações, até situações criticas como o SARS e o MERS que apresentavam respectivamente uma taxa de letalidade de 10% e 30%, neste momento a taxa de letalidade do 2019-ncov rondava os 2% com alguns peritos a estimarem a chegada aos 4%, sendo que a severidade é maior para os idosos e doentes com condições medicas pré-existente como doenças cardíacas e diabetes. Sabemos que tudo começou em Dezembro último em Wuhan, sendo o epicentro um mercado em que existiam animais vivos e com o histórico que temos do SARS transmitido pela civeta e o MERS pelos dromedários, é quase garantido que o mesmo tenha origem num animal, apesar de ainda não identificado, pelo que a OMS advoga que não ocorra o consumo de carne crua ou mal cozinhada e que na visita a mercados se evite o contacto com os animais e as superfícies onde se encontram.
A transmissão entre humanos é factual, ao tossir e espirrar as gotículas contém o vírus pelo que directamente podem transmitir para outra pessoa, ou através das superfícies, elevadores, escadas rolantes, maçanetas etc, logo a solução passa por uma etiqueta respiratória adequada, com a lavagem frequente das mãos com sabão e água ou utilizar uma solução anti-séptica alcoólica, manter o distanciamento social (pelo menos 1 m) de pessoas que estejam a tossir ou a espirrar, e evitar, o tocar na boca, nariz e olhos. A utilização de máscaras deverá ser reservada para aqueles que estão doentes ou em contacto próximo com doentes, e a máscara só é eficaz combinada com o que foi acima descrito.
Aqui entra o conceito de cidadania, nos últimos dias as pessoas compraram máscaras e soluções alcoólicas individualmente às dezenas, observemos o texto da Direção-geral da Educação “A prática da cidadania constitui um processo participado, individual e coletivo, que apela à reflexão e à ação sobre os problemas sentidos por cada um e pela sociedade. O exercício da cidadania implica, por parte de cada indivíduo e daqueles com quem interage, uma tomada de consciência, cuja evolução acompanha as dinâmicas de intervenção e transformação social. A cidadania traduz-se numa atitude e num comportamento, num modo de estar em sociedade que tem como referência os direitos humanos, nomeadamente os valores da igualdade, da democracia e da justiça social.“Esta atitude por parte de alguns cidadãos subverte o conceito e gera um desequilíbrio perigoso que em análise última coloca em riscos todos (eles próprios).
Sabemos hoje da relevância do conceito do autocuidado e da necessidade da autogestão responsável da doença por parte do cidadão com um papel interventivo, proactivo perante a sua saúde, como resultado das dinâmicas sociais de envelhecimento populacional e restrições económicas dos sistemas de saúde. Ora este papel que hoje nos é imputado pela sociedade aumenta a nossa responsabilidade para com a mesma, pelo que reside na manutenção do equilíbrio de direitos e deveres o sucesso da vivência social.
É um privilégio fazer parte da solução, sejamos responsáveis, por nós e por todos!
Bruno Olim escreve à quinta-feira, de 2 em 2 semanas