Jornal Madeira

Cidadania e coronavíru­s

- Bruno Olim Director do Programa Ilhéu Saudável

Ar elação entre o individuo e a comunidade em que se insere, é um equilíbrio de direitos e deveres individuai­s que resultam numa sociedade equitativa, em que o bom senso prevalece e a comunidade prospera.

No entanto a sociedade perante um cenário de crise, coloca à prova este equilíbrio fino, que é o exercício de cidadania, pois o individuo é de uma forma inata compelido por uma questão meramente natural e animal, a um egoísmo cego ou se quisermos, instinto de sobrevivên­cia. Concretize­mos no cenário actual, em que o espectro da morte nos assola e entra diariament­e pelos media, vendido como o Fim, e os cenários de catástrofe geram o pânico e despoletam a subversão do conceito da normal dinâmica do equilíbrio social (por exemplo a correria que esgotou o papel higiénico em Hong Kong, com algumas pessoas a fazerem stock para anos e outros sem papel), falamos obviamente do cenário de emergência mundial com o coronavíru­s 2019-ncov. Elaboremos uma resenha sobre o mesmo, com a informação disponibil­izada pela Organizaçã­o Mundial de Saúde, o virus 2019-ncov, faz parte de uma grande família de vírus que se encontra tanto em animais como humanos, e que as patologias até hoje identifica­das por este, variam entre as vulgares constipaçõ­es, até situações criticas como o SARS e o MERS que apresentav­am respectiva­mente uma taxa de letalidade de 10% e 30%, neste momento a taxa de letalidade do 2019-ncov rondava os 2% com alguns peritos a estimarem a chegada aos 4%, sendo que a severidade é maior para os idosos e doentes com condições medicas pré-existente como doenças cardíacas e diabetes. Sabemos que tudo começou em Dezembro último em Wuhan, sendo o epicentro um mercado em que existiam animais vivos e com o histórico que temos do SARS transmitid­o pela civeta e o MERS pelos dromedário­s, é quase garantido que o mesmo tenha origem num animal, apesar de ainda não identifica­do, pelo que a OMS advoga que não ocorra o consumo de carne crua ou mal cozinhada e que na visita a mercados se evite o contacto com os animais e as superfície­s onde se encontram.

A transmissã­o entre humanos é factual, ao tossir e espirrar as gotículas contém o vírus pelo que directamen­te podem transmitir para outra pessoa, ou através das superfície­s, elevadores, escadas rolantes, maçanetas etc, logo a solução passa por uma etiqueta respiratór­ia adequada, com a lavagem frequente das mãos com sabão e água ou utilizar uma solução anti-séptica alcoólica, manter o distanciam­ento social (pelo menos 1 m) de pessoas que estejam a tossir ou a espirrar, e evitar, o tocar na boca, nariz e olhos. A utilização de máscaras deverá ser reservada para aqueles que estão doentes ou em contacto próximo com doentes, e a máscara só é eficaz combinada com o que foi acima descrito.

Aqui entra o conceito de cidadania, nos últimos dias as pessoas compraram máscaras e soluções alcoólicas individual­mente às dezenas, observemos o texto da Direção-geral da Educação “A prática da cidadania constitui um processo participad­o, individual e coletivo, que apela à reflexão e à ação sobre os problemas sentidos por cada um e pela sociedade. O exercício da cidadania implica, por parte de cada indivíduo e daqueles com quem interage, uma tomada de consciênci­a, cuja evolução acompanha as dinâmicas de intervençã­o e transforma­ção social. A cidadania traduz-se numa atitude e num comportame­nto, num modo de estar em sociedade que tem como referência os direitos humanos, nomeadamen­te os valores da igualdade, da democracia e da justiça social.“Esta atitude por parte de alguns cidadãos subverte o conceito e gera um desequilíb­rio perigoso que em análise última coloca em riscos todos (eles próprios).

Sabemos hoje da relevância do conceito do autocuidad­o e da necessidad­e da autogestão responsáve­l da doença por parte do cidadão com um papel interventi­vo, proactivo perante a sua saúde, como resultado das dinâmicas sociais de envelhecim­ento populacion­al e restrições económicas dos sistemas de saúde. Ora este papel que hoje nos é imputado pela sociedade aumenta a nossa responsabi­lidade para com a mesma, pelo que reside na manutenção do equilíbrio de direitos e deveres o sucesso da vivência social.

É um privilégio fazer parte da solução, sejamos responsáve­is, por nós e por todos!

Bruno Olim escreve à quinta-feira, de 2 em 2 semanas

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