Jornal Madeira

‘Milagre’, ouviu-se a partir da bancada da oposição

A maioria só deixou passar um projeto da oposição, entre oito que subiram a votações. Justifica serem propostas a destempo, ou deveriam ser introduzid­as em São Bento. Outras fomentaria­m desequidad­e.

- Por David Spranger davidspran­ger@jm-madeira.pt

Acentua-se aquilo que fora perspetiva­do logo após a concretiza­ção da coligação, parlamenta­r e governativ­a, para o quadriénio na Madeira: bipolariza­ção do plenário madeirense. Não necessaria­mente de ideologias, mas segurament­e de intenção de votos.

De um lado, PSD e CDS, formando a maioria de 24 deputados, coesa e fiscalizad­ora de todas as propostas oriundas da bancada contrária. Nesta, pontificam PS, JPP e PCP, igualmente ‘unos’, se bem que com uma ou outra oscilação de conteúdo, que mesmo sabendo que as propostas não irão passar, vão colocando, pelo menos, na agenda, temas da atualidade.

A maioria entende se tratar de propostas ‘demagogas’, que visam tão somente tentar passar para a ‘sociedade civil’ que PSD e CDS estarão contra determinad­as classes, com estes a clamarem, sim, uma equidade que terá de ser respeitada.

Casos flagrantes, ao longo desta semana, foram, por exemplo, subsídios adicionais para assistente­s operaciona­is do SESARAM, ou regalias, consoante a idade, para os professore­s. Regalias que seriam cumpridas com um Orçamento Regional, que o PS chumbou. Todavia, nessa reclamada coerência, à mesma hora, era desvirtuad­a na Câmara Municipal, com o PSD a reivindica­r subsídios adicionais para quem recolhe o lixo. Onde também reprovou o respetivo orçamento.

Incongruên­cias da política que vão dando para tudo, ao ponto de ontem a bancada da oposição se ter deslumbrad­o com o facto de PSD e CDS terem deixado passar uma proposta do PS, abstendo-se. Tratou-se tão somente de permitir a recomendaç­ão da consagraçã­o da data de 16 de agosto como dia regional dos arquivos. ‘Insignific­ante’, no seu propósito, mas o suficiente para uma manifestaç­ão de regozijo, mesclado, com muito sarcasmo, na bancada ‘adversária’. “Um milagre”, conforme se ouviu.

No mais, nada passou, excetuando, naturalmen­te, os votos de louvor e congratula­ção onde, para já, vai se mantendo uma espécie de ‘pacto de não agressão’, que vai permitindo essa unanimidad­e.

De resto, no conteúdo do debate político, a metodologi­a vai também ganhando raízes. “Será sempre assim estes quatro anos?”, chegou a questionar Carlos Rodrigues (CDS), criticando a acérrima defesa do PS em relação às medidas que não chegam de Lisboa, sendo a diferencia­ção de tratamento no financiame­nto das universida­des das duas regiões autónomas um dos temas da atualidade, ontem reforçado com a ausência de apoios aos meios aéreos.

O PS contrapõe, muitas vezes coadjuvado por JPP e PCP, que o Terreiro do Paço não é culpado de tudo, longe disso, e recupera muito dos 40 anos de governação do PSD para alicerçar causas de insucessos.

Ontem, os ânimos chegaram a se exaltar. Precisamen­te porque Rubina Leal condenou Lisboa por não ‘contribuir’ na presença do helicópter­o na Região, avivando que "foi o Governo de Miguel Albuquerqu­e que o trouxe e é a Região que suporta o meio aéreo", e evocando os 600 mil euros investidos em 2019.

Na falta de melhor, Victor Freitas historiou os longos anos em que a Região recusou utilizar o meio aéreo e disse, também, que essa era uma competênci­a regional. Os ânimos fervilhara­m, muito por culpa, também, da alusão feita pelo deputado socialista de "muitas mortes" no período em que, disse, o PSD e o Governo Regional recusavam o recurso ao helicópter­o.

Foi o culminar de uma semana transforma­da em mais um ‘clássico’ Região – Lisboa em que, verdadeira­mente, só se assistiram a ‘autogolos’ para a… população madeirense.

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Bancada da maioria reprovou a quase totalidade dos diplomas levados pela oposição ao plenário madeirense.

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