‘Milagre’, ouviu-se a partir da bancada da oposição
A maioria só deixou passar um projeto da oposição, entre oito que subiram a votações. Justifica serem propostas a destempo, ou deveriam ser introduzidas em São Bento. Outras fomentariam desequidade.
Acentua-se aquilo que fora perspetivado logo após a concretização da coligação, parlamentar e governativa, para o quadriénio na Madeira: bipolarização do plenário madeirense. Não necessariamente de ideologias, mas seguramente de intenção de votos.
De um lado, PSD e CDS, formando a maioria de 24 deputados, coesa e fiscalizadora de todas as propostas oriundas da bancada contrária. Nesta, pontificam PS, JPP e PCP, igualmente ‘unos’, se bem que com uma ou outra oscilação de conteúdo, que mesmo sabendo que as propostas não irão passar, vão colocando, pelo menos, na agenda, temas da atualidade.
A maioria entende se tratar de propostas ‘demagogas’, que visam tão somente tentar passar para a ‘sociedade civil’ que PSD e CDS estarão contra determinadas classes, com estes a clamarem, sim, uma equidade que terá de ser respeitada.
Casos flagrantes, ao longo desta semana, foram, por exemplo, subsídios adicionais para assistentes operacionais do SESARAM, ou regalias, consoante a idade, para os professores. Regalias que seriam cumpridas com um Orçamento Regional, que o PS chumbou. Todavia, nessa reclamada coerência, à mesma hora, era desvirtuada na Câmara Municipal, com o PSD a reivindicar subsídios adicionais para quem recolhe o lixo. Onde também reprovou o respetivo orçamento.
Incongruências da política que vão dando para tudo, ao ponto de ontem a bancada da oposição se ter deslumbrado com o facto de PSD e CDS terem deixado passar uma proposta do PS, abstendo-se. Tratou-se tão somente de permitir a recomendação da consagração da data de 16 de agosto como dia regional dos arquivos. ‘Insignificante’, no seu propósito, mas o suficiente para uma manifestação de regozijo, mesclado, com muito sarcasmo, na bancada ‘adversária’. “Um milagre”, conforme se ouviu.
No mais, nada passou, excetuando, naturalmente, os votos de louvor e congratulação onde, para já, vai se mantendo uma espécie de ‘pacto de não agressão’, que vai permitindo essa unanimidade.
De resto, no conteúdo do debate político, a metodologia vai também ganhando raízes. “Será sempre assim estes quatro anos?”, chegou a questionar Carlos Rodrigues (CDS), criticando a acérrima defesa do PS em relação às medidas que não chegam de Lisboa, sendo a diferenciação de tratamento no financiamento das universidades das duas regiões autónomas um dos temas da atualidade, ontem reforçado com a ausência de apoios aos meios aéreos.
O PS contrapõe, muitas vezes coadjuvado por JPP e PCP, que o Terreiro do Paço não é culpado de tudo, longe disso, e recupera muito dos 40 anos de governação do PSD para alicerçar causas de insucessos.
Ontem, os ânimos chegaram a se exaltar. Precisamente porque Rubina Leal condenou Lisboa por não ‘contribuir’ na presença do helicóptero na Região, avivando que "foi o Governo de Miguel Albuquerque que o trouxe e é a Região que suporta o meio aéreo", e evocando os 600 mil euros investidos em 2019.
Na falta de melhor, Victor Freitas historiou os longos anos em que a Região recusou utilizar o meio aéreo e disse, também, que essa era uma competência regional. Os ânimos fervilharam, muito por culpa, também, da alusão feita pelo deputado socialista de "muitas mortes" no período em que, disse, o PSD e o Governo Regional recusavam o recurso ao helicóptero.
Foi o culminar de uma semana transformada em mais um ‘clássico’ Região – Lisboa em que, verdadeiramente, só se assistiram a ‘autogolos’ para a… população madeirense.