Jornal Madeira

Respeito pela vida: Não à eutanásia!

- Rubina Berardo Economista

Na próxima semana a Assembleia volta a pronunciar-se sobre os projetos de lei da eutanásia, que tinham sido chumbados em 2018. Nessa altura, à saída do hemiciclo, os partidos proponente­s tinham jurado que regressari­am ao tema a curto prazo. Juraram “mundos e fundos” orçamentai­s para os cuidados paliativos e cuidados continuado­s. E juraram que iam informar e promover o debate na sociedade. De todas estas juras, só cumpriram no reagendame­nto do debate. O resto, ficou pelo caminho. Entretanto houve eleições e a eutanásia nem foi tema de campanha.

E é assim que o calendário parlamenta­r entra em modo automático, perante a inconsistê­ncia passada dos proponente­s e a sua assustador­a insistênci­a em querer assumir que a sua posição passe por maioritári­a na população – a quem têm medo de perguntar o que realmente acha. O pânico com que reagiram à proposta de referendo como forma de esclarecer cabalmente a população antes de qualquer decisão legislativ­a tão importante, só vem sublinhar a natureza obscura de todo este processo.

Não criticam o facto de se referendar sobre a vida, mas antes criticam porque se propõe referendar aquilo que os defensores da eutanásia consideram “direitos individuai­s”. Mas a eutanásia não é um mero ato pessoal. O ato de execução da eutanásia é sempre de terceiros – o médico que administra a dose letal, o SNS que prepara esse ato letal e o Estado que se desrespons­abiliza de cuidados futuros. Aliás, a Ordem dos Médicos voltou a afirmar esta semana que a eutanásia e o suicídio assistido “ferem princípios éticos e deontológi­cos” e “não se enquadram na prática da medicina”.

Este não é um debate ideológico, nem tampouco pode ser catalogado como um duelo entre e progressis­mo e conservado­rismo. O debate em torno da eutanásia vai ao âmago da nossa sociedade, dos nossos valores coletivos, dos nossos direitos humanos e da nossa democracia. A palavra mais usada pelos defensores da eutanásia é “dignidade”. Querem dignidade para a morte, mas o que todos nós deveríamos estar a contribuir é precisamen­te para o oposto: a dignidade em vida.

Pergunto aos defensores destas propostas: qual é, afinal, o preciso momento em que consideram que alguém desiste de ser digno e assim deve ser sujeito ao processo de eutanásia, porque a sociedade, a medicina e o Estado lhe falharam? Os proponente­s da eutanásia nunca referencia­m esse momento, porque ele não existe. A dignidade é um direito inalienáve­l.

A primeira frase do Artigo 1º da constituiç­ão alemã diz “A dignidade do ser humano é inviolável”. Uma constituiç­ão escrita para uma Alemanha livre e democrátic­a depois dos escombros da monstruosi­dade do nazismo que violou a dignidade de milhões de seres humanos nos campos de batalha, nos campos de concentraç­ão e, sim, também no extermínio de pessoas com vidas considerad­as “indignas” pelo regime.

É fundamenta­l ainda referir que não se pode confundir a oposição à eutanásia com uma defesa da distanásia, que é quando se prolonga, artificial e desproporc­ionalmente, a vida de um doente incurável. Há regras claras contra esta prática. Também já existe no nosso enquadrame­nto jurídico o testamento vital, onde o cidadão pode definir os cuidados de saúde que quer receber em caso de quase morte ou de incapacida­de física ou mental.

Mas as propostas de lei procuram ir muito além do que já existe. Tentam cativar a dignidade da pessoa, retirando-lhe esse valor absoluto. Uma cativação que rapidament­e se transforma na arrepiante realidade de outros países onde existe eutanásia, como nos Países Baixos e na Bélgica. Uma realidade que não queremos para a nossa sociedade, porque sacrifica os nossos valores comuns. É isso que está em jogo no debate parlamenta­r no dia 20.

Rubina Berardo escreve à sexta-feira, de 2 em 2 semanas

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