Dia dos namorados ou dos enamorados?
Foi estabelecido, não se sabe bem por quem, mas sabe-se porquê, que o dia 14 de Fevereiro fosse o dia dos Namorados. Namorados ou Enamorados? Diferenças? Sim, Muitas. Dizem os dicionários que, na sua linguagem fria e mais ou menos técnica “namorados é um casal de animais racionais e ou irracionais em fase de conhecimento mútuo, visando um relacionamento conjugal. Início de um relacionamento dominado por impulsos, fase experimental do relacionamento” E… “enamorado? Apaixonado, encantado, enfeitiçado, cheio de amor.
Daqui se conclui que simplesmente namorar é estabelecer um acordo tácito com alguém, em que cada um dos pares terá as suas obrigações dentro da relação para fazê-la funcionar. Simplesmente namorar é escolher racionalmente uma pessoa para nos fazer companhia e que preencha determinados requisitos, com o intuito de evitarmos problemas e contratempos. Namorar é facilitar a rotina do final de semana. Quem namora, não precisa ficar correndo atrás de companhia para uma pizza, o convívio de uma bebida ou um cinema.
E quem está Enamorado, como é? Os enamorados querem muito mais do que uma companhia para sair no final de semana, para uma bebida a dois. Quem está enamorado sente o coração pular no peito só de ouvir o toque do telemóvel. Quem simplesmente namora diz eu te amo como quem fala "vou até ali comprar cigarros". Quem está enamorado diz eu te amo pelos poros da alma. O amor verdadeiro é algo tão estridente que até mesmo, por onde um casal enamorado passa, as pedras da rua sabem que ali há amor.
Os Enamorados não precisam de um dia só para si porque os dias são seus. Todos. Cheios. Os dias dos enamorados têm sempre sol mesmo em dia de chuva e da chuva nem sentem o molhado. A lua acende luzes pela noite toda. Os enamorados não precisam de presentes caros num dia que alguém, vá lá saber-se quem, estabeleceu como uma data para amar. Como se o amor fosse coisa de um dia só. Fixo. Escrito nas folhas de um qualquer calendário. Uma flor. Um beijo inesperado numa qualquer hora de um qualquer dia é presente mais valioso que o “presentinho” dado em dia fixo, enfeitado com coraçõezinhos e fitinhas. Habitualmente vermelhas que, dizem, é a cor do amor, comprado numa qualquer loja abarrotada de sugestões que, no dia seguinte voltam para os armários até que o marketing volte a lembrar o dia de um tal santo, de nome Valentim que, dizem, se tornou patrono dos namorados porque um imperador dos tempos de Roma, Cláudio II, entendeu que perdia as suas batalhas porque os soldados solteiros uma vez casados, não se arriscavam mais, com a intenção de voltar vivos. Isso, segundo Cláudio II, enfraquecia as legiões romanas. Daí a proibir o casamento dos soldados foi um passo.
Mas, há sempre um mas em todas as histórias. Um padre, de nome Valentim, começou a incentivar e a celebrar casamentos secretamente, mas, quando Cláudio II soube, mandou prender o padre, interrogou-o diante do povo decretando-lhe “prisão domiciliar”.
Uma velha história que, ao longo dos tempos foi, como todas as histórias, sofrendo alterações, adaptações e acrescentada com um ponto aqui, um ponto ali. Uma história que, mais do que amor ou paixão, transporta também, consigo, muitos interesses escondidos.
Hoje a maioria dos namorados nem sabe quem foi São Valentim. O que, diga-se, também não é muito importante. Sabe, apenas que tem a “obrigação” de dar à companheira, ou ao companheiro, num dia escrito nos calendários, um presente. Como se o Amor se reduzisse a um dia comprado numa qualquer loja de lembranças.
Octaviano Correia escreve à sexta-feira, todas as semanas