Mal-estar na Universidade com ‘cheiro’ a eleição interna
O concurso para Professor Associado na Universidade da Madeira (Ciências de Educação), que Liliana Rodrigues ganhou com vantagem substancial, está em fase de reclamação há dois longos meses. Nélson Veríssimo e Alice Mendonça acusam a escolhida do júri de ter incluído “declarações falsas” no seu currículo.
Os reclamantes também recorreram ao Ministério Público, que já arquivou o processo, não tendo ficado provada nenhuma das irregularidades aventadas pelos docentes que perderam o concurso e sem que Liliana Rodrigues tivesse chegado a ser constituída arguida.
A decisão final do júri do concurso é que ainda não saiu, suspeitando-se no meio académico que os jurados ainda nem tiveram acesso à contra-argumentação apresentada no final de agosto pela acusada. Há insinuações de eventual interesse em que a ‘manta de suspeições’ se prolongue até ao processo eleitoral em curso para a nova reitoria, dada a proximidade de Liliana Rodrigues a uma das candidaturas em perspetiva.
Instados a pronunciarem-se ao JM sobre este caso, a Reitoria diz que “não comenta assuntos relacionados com concursos a decorrer na UMA” e Liliana Rodrigues escusa-se a proferir quaisquer declarações que possam ser entendidas como pressão ao júri do concurso. Alice Mendonça declarou, entre outros aspetos, que a eventual adulteração do currículo da vencedora do concurso “consubstancia uma infração disciplinar por violação do dever de isenção e do dever de zelo”, enquanto Nélson Veríssimo disse ao JM que, sobre este assunto, “tudo o que tinha para dizer à Imprensa já foi publicado no Funchal Notícias”, onde é colunista. Recorde-se que Liliana Rodrigues também é colunista, no JM.
As supostas ‘declarações falsas’
Nenhum dos quatro protagonistas do processo especificou ao JM quais as supostas ‘declarações falsas’ que estarão em causa. No entanto, vários dos defensores e fontes próximas de Liliana Rodrigues têm tecido comentários nas redes sociais e fora delas. Através delas, o JM conseguiu depreender que em causa estão detalhes confundidos, propositadamente ou não, entre “ter lecionado e regido” – o currículo de Liliana Rodrigues terá indicado apenas a palavra “regência”, uma vez que não deveria lecionar em período de campanha eleitoral para as Eleições Europeias.
Alice Mendonça e Nélson Veríssimo terão declarado que uma revista científica onde Liliana Rodrigues fez publicações não era ‘internacional’, constatação já contrariada e comprovada pelo diretor da mesma. Foram também apontadas dúvidas sobre a regência da UC Dissertação, que terão sido desfeitas com a exibição da distribuição oficial do serviço docente no período em causa.
Das acusações deduz-se que os reclamantes entendem que Liliana Rodrigues esteve desligada da Universidade durante o período em que foi eurodeputada, eleita pelo PS Madeira. Os factos apontados pela ex-deputada demonstram o contrário, enquanto parte integrante dos relatórios do CIE-UMA - Centro de Investigação em Educação, de que Liliana Rodrigues é membro desde 2013. Até o projeto Inclueuropa, bastante mediatizado durante três anos, é posto em causa, o que a sua mentora terá desmontado ao recordar que tanto as Olimpíadas como as curta-metragens do projeto tiveram lugar nas instalações da UMA, enquanto instituição de acolhimento.
Entre as supostas ‘declarações falsas’ há uma passível de ser tirada a limpo de forma muito simples: os reclamantes alegam que a visada não tem “quase duas décadas” de docência na UMA, Liliana Rodrigues atesta a data em que entrou no DCE como assistente convidada a tempo parcial, em 2000/2001. Precisamente 20 anos. Ou duas décadas.
Há também dúvidas sobre a proposta de criação de um curso de mestrado, que Liliana já terá desfeito, até porque o mestrado em causa mereceu aprovação por unanimidade do Conselho Científico da Faculdade de Ciências Sociais. Há também uma confusão – propositada ou não – com a utilização da designação ‘sebentas’ e o tempo verbal usado para publicação de livros: os denunciantes dizem que Liliana insinuou já ter publicado, a visada alega que escreveu ‘será publicado.’
Há dúvidas também sobre datas e o tipo de colaboração que Liliana Rodrigues dedicou ao pós-doutoramento de uma docente brasileira. As partes esgrimem argumentos contraditórios. Há também duas estudantes da República Checa ‘metidas ao barulho’: os denunciantes dizem que a coorientação de doutoramento é uma “ilusão”, Liliana apresenta os ‘learning agreements’ das duas e uma troca de mensagens onde uma estudante lhe pede para voltar a ser coorientadora no semestre seguinte.
Quanto à organização de eventos científicos, Liliana Rodrigues comprova ter feito parte da maioria das comissões organizadoras de 15 colóquios do CIE-UMA, tendo sido presidente de duas delas. Nélson Veríssimo e Alice Mendonça dizem que são “falsas afirmações.” Igual dilema é apresentado pelos denunciantes em relação a 16 participações em comissões científicas de encontros científicos. Liliana Rodrigues corrige: não são 16, mas sim 17.