Insularidade
Ailha é sempre a fronteira entre o conhecido e o infinito, entre o abrigo e a vulnerabilidade. E nós somos os ilhéus, filhos impenitentes da insularidade, vivendo na incerteza do que se esconde para lá do horizonte, habituados a fazer da ilha evasão mesmo estando ela sempre sitiada.
Ilha e ilhéus, ligação indissociável entre o cativeiro e o cativo, que contém tanto de amor e um quanto de hostilidade. para que o mistério permaneça misterioso, optando por construir todo o seu universo dentro dos limites da ilha.
E há os que se fazem ao mundo porque assim querem ou assim tem de ser. Estes são os audazes ou os que já não têm nada a perder, capazes de viver onde há somente incerteza, desterrados mas nunca resignados. Vivem a sua existência enfrentando os desafios com que o destino lhes brinda e sempre com a enraizada ideia de regressar um dia, aconteça ou não esse regresso.
Eu fui sempre parte da ilha enquanto ela foi descoberta e cedi apenas aos meus desejos expansionistas quando a curiosidade superou o medo e a necessidade venceu a inércia.
Tornei-me de início península através do cordão umbilical que mantinha à ilha mas, uma vez libertado de todas as amarras, decidi seguir em frente sem temores e espalhar a minha insularidade por todos os hemisférios.
Se os que persistem em ficar são os que esteiam a ilha e - haja o que houver - serão capazes de mantê-la sempre firme, são afinal os que ousam ir que fazem da ilha um arquipélago constituído por cada ilhéu que se encontra espalhado mundo afora.