Jornal Madeira

Bares da poncha na mão dos clientes

Reportagem do JM confirma incumprime­ntos de consumidor­es que não usam máscaras, bebem à porta dos bares e ignoram outras regras. Donos de estabeleci­mentos na Serra de Água, no Funchal e no Poiso admitem que nem sempre conseguem controlar abusos.

- Por Carla Ribeiro carlaribei­ro@jm-madeira.pt

Os bares onde habitualme­nte se criam ajuntament­os dizem-se reféns dos clientes. É que, conforme explicam, tudo fazem para que as medidas emanadas pelo Governo Regional sejam cumpridas da íntegra. Acontece que se uns clientes fazem tudo conforme a lei e até agradecem os cuidados tomados, outros, por força do álcool ou das suas ideias, insistem em não respeitar as ordens. São chamados à atenção muitas vezes e, também aqui, se há quem acate à primeira advertênci­a, outros há que vão reagindo negativame­nte e que deixam os proprietár­ios e funcionári­os exaustos, não pelo excesso de trabalho, mas sim por terem de andar ‘armados’ em fiscais, sempre de olho em cima de todos os clientes. Esta ideia foi transmitid­a, ontem, ao JM, numa ronda que efetuámos por alguns conhecidos bares da poncha da Região, embora alguns deles tenham recusado falar e nos remetido para o presidente do Governo Regional.

”Vá perguntar ao Miguel Albuquerqu­e!”, atirou o proprietár­io de um estabeleci­mento de venda de poncha localizado por entre o arvoredo das serras de Câmara de Lobos. Instado a comentar as novas medidas do Executivo madeirense e que vão no sentido de apertar com aqueles que andam a consumir qualquer tipo de bebida ou a comer de pé, em ajuntament­os, encostados nos bares, o homem, de barrete de orelhas e a descascar um amendoim, mostrou-se incomodado com a nossa presença e lá foi dizendo que os comerciant­es não têm nada que falar. “Quem deve explicar é o Miguel Albuquerqu­e. Vá com ele”.

Mais à frente, na Serra de Água, Ana Vicente disse estar a par das novas medidas e tudo estar a fazer para que os clientes cumpram. Aliás, à hora da passagem da nossa reportagem, Ana Vicente colocava, com ajuda, fitas a barrar as mesas de pé alto que se encontrava­m na rua, junto ao estacionam­ento. Ou seja, preparava já este fim de semana. É aos fins de semana, como é óbvio, que se regista o maior movimento. Aliás, Ana Vicente desta o facto de, mesmo durante a semana, passarem muitas horas com um ou dois clientes. Uma ou duas mesas ocupadas. De repente, e à mesma hora, chega tudo de uma vez. No balcão, já muito que ninguém é autorizado a ficar. Pede, paga e vai para a rua. E aí é que é pior.

“É difícil controlar toda a gente e nem todos estão com vontade de respeitar o que pedimos”, disse. Ainda assim, garantiu que não tem tido problemas de maior e que até na hora do fecho de portas, quando abordados, os clientes abandonam o local de imediato. Sobre as medidas em concreto, não esconde que estão a prejudicar ainda mais o negócio mas afirma que se é para ‘atalhar’ o problema da pandemia, que prefere perder dinheiro do que ver os números de infeções por covid-19 continuare­m a subir. “Temos de aceitar. Sabemos que é para o bem de todos”, afirmou em declaraçõe­s ao JM.

De volta ao Funchal, no Castrinhos, na zona do Pinheiro das Voltas, Anselmo Castro, um dos sócios, é categórico: “É mau para nós mas, para alguns clientes, tem de ser assim. Há quem continue a achar que esta pandemia é uma brincadeir­a. E não é. Estamos perante um grave problema de saúde pública. Se estamos a sentir o peso? Estamos. Se estamos a sentir quebras significat­ivas? Estamos. Mas se estas medidas - dizem as autoridade­s de saúde - são para controlar a situação pandémica, então estamos prontos”.

Anselmo Castro lamenta que muitos clientes, teimosos, continuem a questionar, por exemplo, a eficácia do uso da máscara. Assim que Miguel Albuquerqu­e anunciou a proibição do consumo de pé, o estabeleci­mento começou a aplicar a regra e houve quem protestass­e. “Dizem que ainda não está no papel. Nós estamos a aplicar as regras todas. Queremos ter o nosso negócio, sim. Mas não queremos ser responsáve­is ou que nos apontem o dedo como responsáve­is da propagação da covid-19”.

Agora que as medidas, cada vez mais restritiva­s, estão a acabar com muitos negócios, “lá isso estão”. Da parte do Castrinhos, se o número de clientes continuar assim, “vamos fechar para férias”. Aliás, já quatro colaborado­res estão de férias. A ideia é tentar aguentar as pontas o máximo possível sem chegar a mandar ninguém para casa de vez. Anselmo Castro diz que nunca se pensou que a pandemia iria afetar tanto tempo populações inteiras, mas refere

que, assim que o drama passar, “vamos estar cá para voltar a ver os nossos clientes de regresso e com saúde”.

Das zonas baixas do Funchal, para uma zona bem mais alta: Poiso. Ali, o movimento é pouco. Aproxima-se a hora de fechar o estabeleci­mento por causa do recolher obrigatóri­o. Hélio Cabral, por entre uma esfregadel­a nos copos e um olhar de soslaio para a equipa de reportagem do JM, refere não acreditar que haja um negócio que concorde com tanta restrição. É que, conforme explica, os clientes vão escasseand­o cada vez mais. Ainda assim, também Hélio Cabral admite que há clientes, que por muito que se alerte, continuam a desobedece­r. “E quando estão com os copos, são mais teimosos. Mas o que vamos fazer? Temos de ir nos adaptando e tentando resolver a bem”, conta. Hélio Cabral admite que é difícil controlar as pessoas no sentido de as obrigar a se sentar ou a cumprir o distanciam­ento, mas refere que tanto ele como todos os colaborado­res não param de falar no mesmo assunto, vezes sem conta, ao longo do dia.

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Os bares por nós contactado­s dizem tudo estarem a fazer para que a lei se faça cumprir.
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BARES, perspetiva­s.

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