Jornal Madeira

Autarcas em alta

- Emanuel Gomes Professor

Um estudo de opinião recente fez um retrato globalment­e positivo do desempenho de todos os atuais presidente­s de câmara da Madeira. Um facto que só pode surpreende­r os menos informados. Pois diz-se, que em tempo de crise extrema, sejam guerras ou pandemias, os governos, nacionais, regionais ou locais, ficam sempre a ganhar popularida­de. Salvo raras exceções.

Dizem os entendidos que, em democracia, a inseguranç­a face a situações imprevisív­eis consolida a confiança do povo nos seus governante­s. Dizem também que o pior vem depois. Que no pós-crise muitos são corridos do lugar pelo voto popular que antes os acarinhava. Há tantos exemplos na História. O mais popular foi Churchill. Uma coisa é o tempo da guerra ou da pandemia, outra coisa, bem diferente, é o tempo da crise financeira, cujas sequelas fazem esquecer tudo o resto. É essa linha temporal que mais conta.

Por isso, ainda é cedo para se cantar de galo. Ainda faltam seis meses. Para estas eleições, o mais importante será o momento exato em que o desassosse­go com a doença e a vacinação acabar e quando a crise financeira passar para o centro de todas as preocupaçõ­es, com brutal impacto na comunicaçã­o social. Quanto mais tarde acabar a preocupaçã­o com a covid, mais fácil será para os atuais autarcas, como para todos os governante­s. A nível local, a única visibilida­de vai para os pequenos apoios que vão sendo distribuíd­os aqui ou acolá, para a propalada política de proximidad­e. Porque os efeitos mais graves da recessão económica ainda só estão no início. Lembre-se o que aconteceu em 2013, depois da vinda da troika. O PSD perdeu sete das onze câmaras que então governava na Região.

Além disso, muitos outros fatores jogam agora a favor dos autarcas em exercício. O momento é particular­mente favorável à vida das autarquias madeirense­s. O trabalho grosso e sujo foi todo ele feito anteriorme­nte. Em bom tempo. As grandes infraestru­turas estão realizadas. Os concelhos estão modernizad­os e a qualidade de vida local sofreu um salto enorme nas últimas décadas. De tal modo que há autarcas a anunciar que o seu programa para os próximos quatro anos é dar continuida­de à tal “política de proximidad­e”. E basta. Não é preciso prometer mais nada. Está tudo feito. Aliás já está tudo feito há muito tempo. Apesar de estar ultrapassa­do o problema da dívida, há autarcas que se dão ao luxo de dizer que nada vão fazer no próximo mandato, para além de pequenas obras, subsídios e apoios sociais, como se de mais uma junta de freguesia ou de um departamen­to de solidaried­ade se tratasse.

E então, como é que fica a oposição? Globalment­e mal. E em alguns lugares fica mesmo numa péssima situação. O estado da pandemia ainda não permite a concentraç­ão popular em questões para além da covid e não haverá uma campanha eleitoral decente para quem não está no poder.

Além disso, houve quem se preparasse muito mal. O PSD está aqui incluído. Em alguns casos não houve capacidade para construir uma alternativ­a atempada, credível e mobilizado­ra em concelhos onde se é oposição. As coisas são tanto mais difíceis quanto menor for a preparação para consegui-lo. A maior responsabi­lidade vem sempre do topo. Não se pode andar a sortear candidatos. Hoje um, amanhã outro. Sabe-se que o recrutamen­to de bons e novos quadros partidário­s começa deveras a complicar-se. Mas há erros, sobejament­e referidos e identifica­dos, que persistem em descredibi­lizar, em alguns concelhos, o partido que mais e melhores provas deu em todas as autarquias da Madeira.

Emanuel Gomes escreve ao domingo, de 4 em 4 semanas

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal