Autarcas em alta
Um estudo de opinião recente fez um retrato globalmente positivo do desempenho de todos os atuais presidentes de câmara da Madeira. Um facto que só pode surpreender os menos informados. Pois diz-se, que em tempo de crise extrema, sejam guerras ou pandemias, os governos, nacionais, regionais ou locais, ficam sempre a ganhar popularidade. Salvo raras exceções.
Dizem os entendidos que, em democracia, a insegurança face a situações imprevisíveis consolida a confiança do povo nos seus governantes. Dizem também que o pior vem depois. Que no pós-crise muitos são corridos do lugar pelo voto popular que antes os acarinhava. Há tantos exemplos na História. O mais popular foi Churchill. Uma coisa é o tempo da guerra ou da pandemia, outra coisa, bem diferente, é o tempo da crise financeira, cujas sequelas fazem esquecer tudo o resto. É essa linha temporal que mais conta.
Por isso, ainda é cedo para se cantar de galo. Ainda faltam seis meses. Para estas eleições, o mais importante será o momento exato em que o desassossego com a doença e a vacinação acabar e quando a crise financeira passar para o centro de todas as preocupações, com brutal impacto na comunicação social. Quanto mais tarde acabar a preocupação com a covid, mais fácil será para os atuais autarcas, como para todos os governantes. A nível local, a única visibilidade vai para os pequenos apoios que vão sendo distribuídos aqui ou acolá, para a propalada política de proximidade. Porque os efeitos mais graves da recessão económica ainda só estão no início. Lembre-se o que aconteceu em 2013, depois da vinda da troika. O PSD perdeu sete das onze câmaras que então governava na Região.
Além disso, muitos outros fatores jogam agora a favor dos autarcas em exercício. O momento é particularmente favorável à vida das autarquias madeirenses. O trabalho grosso e sujo foi todo ele feito anteriormente. Em bom tempo. As grandes infraestruturas estão realizadas. Os concelhos estão modernizados e a qualidade de vida local sofreu um salto enorme nas últimas décadas. De tal modo que há autarcas a anunciar que o seu programa para os próximos quatro anos é dar continuidade à tal “política de proximidade”. E basta. Não é preciso prometer mais nada. Está tudo feito. Aliás já está tudo feito há muito tempo. Apesar de estar ultrapassado o problema da dívida, há autarcas que se dão ao luxo de dizer que nada vão fazer no próximo mandato, para além de pequenas obras, subsídios e apoios sociais, como se de mais uma junta de freguesia ou de um departamento de solidariedade se tratasse.
E então, como é que fica a oposição? Globalmente mal. E em alguns lugares fica mesmo numa péssima situação. O estado da pandemia ainda não permite a concentração popular em questões para além da covid e não haverá uma campanha eleitoral decente para quem não está no poder.
Além disso, houve quem se preparasse muito mal. O PSD está aqui incluído. Em alguns casos não houve capacidade para construir uma alternativa atempada, credível e mobilizadora em concelhos onde se é oposição. As coisas são tanto mais difíceis quanto menor for a preparação para consegui-lo. A maior responsabilidade vem sempre do topo. Não se pode andar a sortear candidatos. Hoje um, amanhã outro. Sabe-se que o recrutamento de bons e novos quadros partidários começa deveras a complicar-se. Mas há erros, sobejamente referidos e identificados, que persistem em descredibilizar, em alguns concelhos, o partido que mais e melhores provas deu em todas as autarquias da Madeira.
Emanuel Gomes escreve ao domingo, de 4 em 4 semanas