Jornal Madeira

Agora desvacinem-se...

- Pedro Nunes Médico-dentista

Há 3 noites que não durmo. Não consigo pregar olho. Passo horas às voltas na cama. A minha mulher anda desconfiad­a. Suspeita que eu tenho alguma coisa a ver com esta vacina Astrazénec­a

(ou Astrazenéc­a, ou Astrazénic­a, ou o diabo, sei lá). É que quando ela foi chamada para ser vacinada, eu sugeri que se deixasse para o fim. Por 2 razões! 1.º porque ela já tinha estado em contacto com o vírus de perto (mais perto era impossível, juro) e não tinha sido contaminad­a. 2.º porque eu não confiava na vacina. Se querem que vos seja sincero, continuo a não confiar. Tão pouco desconfio. Estou como quem as descobriu. A ver no que vai dar! Penso que daqui a um aninho já vos posso dizer qualquer coisa. Até lá são testes.

E há quem não se importe de ser cobaia. Mas há quem não esteja para aí virado! Não aponto o dedo a nenhum deles. Juro. Entendo. Uns acenam como se a vacina fosse um bem maior. Um “sacrifício” pelos netos e bisnetos! Sim, eu ouvi essa teoria em algum lado. Está certo. Se tudo correr bem, sim. Porém, outros dizem que gostam muito dos descendent­es que estão por vir, mas não lhes apetece muito correr o risco de, morrendo da cura, não os conhecer. Correto também.

Mas a minha mulher queria mesmo a minha opinião. Confia em mim os olhos da cara. Tinha que a aconselhar e perante esta indecisão, não fiz mais nada. Joguei a moeda ao ar. E joguei. E joguei. E joguei. Até dar pelo “sim à vacinação”. Reforcei a posição com a então recente declaração da Agência Europeia de Medicament­os que dizia que a vacina era “segura e eficaz”.

Lá foi ela. À chegada foi recebida por uma fila, sem distanciam­ento, que dava meia volta à UMA. De repente, a bicha foi dividida e em menos de nada foi picada no braço. Por precaução, foi obrigada a ficar alguns minutos sob observação. Como ficou com zero de olhos esbugalhad­os, nada de erupções cutâneas, patavina de língua inchada, nicles de espasmos musculares e com a temperatur­a sempre abaixo dos 37,5.º, foi convidada a “desamparar a loja”.

Para minha surpresa, confesso, não se queixou de quase nada. Teve frio uma noite. Braço dorido na outra. Na terceira já não se passava nada. Valente! Pensei eu então que a questão estava meia resolvida. Daí a uns meses, a 2.a dose tratava do resto!

Eis senão quando, por estes dias, o meu mundo desabou. A DGS, o Infarmed e a task-force para a vacinação contra a COVID-19 realizaram uma conferênci­a de imprensa. Por instantes ainda acreditei que iam anunciar a descoberta de uma vacina Rosa. Aquela que, pelo que se diz, garante imunidade total. Mas não! Afinal era para informar que a Astra (com o nervoso já nem sei outra vez o resto do raio do nome) só deve ser administra­da a maiores de 60 anos. De facto, eu não lhes posso apontar nada. Eles continuam a defender a segurança e efectivida­de da vacina. Só que não é para todos. Daqui a dias ainda podem vir a acrescenta­r que a dita cuja é “segura e eficaz sim, mas apenas para cima de sexagenári­os que se façam acompanhar pelos encarregad­os de educação ou pelo padrinho do batismo”. Valha-me Deus. Mas e agora? O que faço com a minha mulher? Mando-a ao Tecnopolo para lhe extraírem a 1.a dose? Espero que a contactem? Por favor, alguém me ajude. A Direção Regional de Saúde que me diga alguma coisa. Vou já avisando que me recuso a pô-la num lar. Bem sei que há para aí um no Porto Moniz muito bom. Um em que põem as pessoas a dormir num instante e sem prescrição médica. Em que atribuem alcunhas aos utentes. E sei lá mais o quê... Mas eu não abro mão! Não passo sem a minha mulher. Desculpem-me, já agora, os que se queixam que eu falo muito nela. Deixem-me. Eu falo do que eu quiser. Preocupem-se é se eu falar das vossas. Agora da minha, o problema é meu. Acho eu!

Para terminar e a pedido de um amigo... Alguém sabe se os cães farejadore­s também detectam ex covids? Se sim, por onde? Foram treinados para cheirar os orifícios superiores ou inferiores? Reforço que não é para mim. É para um amigo meu.

Pedro Nunes escreve ao domingo, todas as semanas

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