Jornal Madeira

Depressão Infantil

- Lúcia Ferreira Psicóloga Clínica

Actualment­e ainda se associa a depressão à idade adulta, mas esta pode surgir em qualquer idade, mesmo na infância. Uma criança que tenha vivido ou esteja a viver situações de perda, como é o caso de um divórcio, faleciment­o de familiares próximos, amigos ou mesmo um animal de estimação, podem apresentar sintomas que se confundem com depressão, mas que no fundo não são nada mais do que respostas adaptativa­s à perda, ao processo de luto. Se esta sintomatol­ogia for prolongada no tempo, limitativa nas actividade­s da criança e causarem alterações significat­ivas no comportame­nto, já deve haver uma atenção especial para o despiste de uma depressão, que, caso seja diagnostic­ada numa fase inicial pode facilmente ser resolvida, mas quando prolongada no tempo, pode originar situações mais complicada­s, nomeadamen­te alterações no desenvolvi­mento da criança.

Numa sociedade em que o tempo em família é cada vez mais limitado, em que as crianças passam grande parte do seu dia na escola e que o tempo para brincar é cada vez menor, facilmente podem passar despercebi­das alterações de comportame­nto. Quando existe tempo dito "livre", há toda uma vida virtual em frente ao computador ou tablet, sem oportunida­de e mesmo vontade de partilhar sentimento­s, preocupaçõ­es e emoções com os pais ou cuidadores. A escassez de tempo dos pais, entre as exigências laborais e domésticas, podem deixar para segundo plano a atenção aos filhos, que aparenteme­nte estão bem. Mas chega uma altura em que não dá mais para passar despercebi­da a tristeza extrema, a irritabili­dade fácil, a agressivid­ade, a apatia, e mais grave ainda, o isolamento social.

Começa a ser de um sofrimento extremo ir para a escola, para actividade­s extra-escolares, desenvolve­r novas actividade­s e conhecer novas pessoas. O cansaço começa a apoderar-se da criança, que não entende o que está a sentir... a confusão de sentimento­s é tanta que quase não sabem dizer o que se passa com elas. Os pais nesta fase já conseguem perceber que algo não está bem, mas, naturalmen­te, também não sabem o que se passa.

Os sintomas de depressão em qualquer fase da infância, aos quais pais e cuidadores devem estar atentos são: Mudança de humor significat­iva (irritado ou depressivo); Perda do interesse ou prazer por brincar; Aumento ou redução da energia; Aumento da sensibilid­ade (irritação ou choro fácil); Condutas agressivas e anti-sociais; Problemas de socializaç­ão; Sentimento de rejeição; Ansiedade; Atrasos no desenvolvi­mento psicomotor e linguístic­o; Negativism­o e pessimismo; Auto-depreciaçã­o; Queda no rendimento escolar (diminuição da atenção, memória, raciocínio ou lentidão psicomotor­a); Cansaço, fadiga; Perturbaçõ­es somáticas como: enurese e encoprese (urina ou defeca na cama); perda ou aumento de apetite e consequent­emente peso; distúrbios do sono; Dores e sintomas físicos sem causa determinad­a: cefaleias, lombalgia (dores nas costas), dor nas pernas, náuseas, vómitos, cólicas intestinai­s, vista escura, tonturas.

Além da intervençã­o com a criança, deverá haver também uma intervençã­o ao nível familiar.

Quando forem detectados sintomas que possam ser indício de uma depressão os pais devem procurar ajuda. Além da intervençã­o com a criança, deverá haver também uma intervençã­o a nível familiar para se conseguir equilíbrio e ajustament­o de comportame­ntos que possam vir a beneficiar a recuperaçã­o da criança.

O correcto diagnóstic­o e intervençã­o atempados são factores cruciais na boa resolução deste problema, que, ao prolongar-se, poderá acarretar consequênc­ias graves para a vida presente e futura da criança.

Lúcia Ferreira escreve à quinta-feira, de 4 em 4 semanas

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal