Jornal Madeira

“A nossa única caixa multibanco

- Por Bruna Nóbrega Bruna.nobrega@jm-madeira.pt

Já imaginou viver num sítio onde não pode levantar dinheiro? Sendo obrigado a se deslocar às localidade­s mais próximas para fazê-lo? Ora bem. Esta é a atual realidade da população do Seixal que, há cerca de um mês, vê a sua única caixa multibanco avariada.

A queixa foi ouvida pela equipa de reportagem do JM mesmo antes de descer para o centro da freguesia. Nádia Paixão é comerciant­e há mais de 26 anos no único estabeleci­mento do Miradouro do Véu da Noiva, localizado na antiga estrada que liga o Seixal a São Vicente, e o problema da caixa multibanco já faz parte do seu dia a dia.

“Há pouco tempo esteve aqui uma senhora que veio tomar café porque não havia multibanco a funcionar no Seixal. Contou que tinha ido ao Porto Moniz e uma das caixas também estava avariada e a outra não tinha dinheiro. Então veio cá para depois ir a São Vicente levantar dinheiro”, relatou.

Mas as histórias não se ficam por aqui. A comerciant­e referiu que um dia teve de utilizar o seu próprio carro para levar um cliente até ao Seixal, para que este conseguiss­e fazer o levantamen­to monetário. Porém, chegando ao local verificara­m que a caixa não tinha dinheiro, pelo que se obrigou a levar a pessoa até São Vicente. “Pelo menos não perdi esse cliente”, vincou.

Nesta que é uma das mais emblemátic­as paisagens da Madeira e que traz muitos turistas à freguesia, Nádia Paixão queixou-se também da ausência de sinalizaçã­o. “Este é o principal problema para nós, porque às vezes os clientes chegam cá e dizem: ‘Mas afinal o Véu da Noiva é o estabeleci­mento?’ e eu lá tenho de dizer que o Véu da Noiva é ao fundo, a cascata”, mencionou.

De facto, a única placa a identifica­r aquele ponto turístico está localizada mesmo em frente ao espaço comercial, já longe do olhar dos condutores que passam na estrada regional. “É a única placa e fomos nós [estabeleci­mento comercial] que a mandámos fazer”, expôs.

Os cenários do Seixal são de cortar a respiração, mas por detrás da beleza das verdejante­s escarpas há também em cada esquina um lembrete constante para o perigo de queda de pedras. A comerciant­e já foi, inclusive, uma das vítimas deste tipo de incidentes.

“Aqui atrás do nosso estabeleci­mento, na estrada do túnel do Véu da Noiva, é muito perigoso. Cai muitas pedras, já atingiu muitos carros. O meu carro já foi atingido. Tive sorte nesse dia, mas se reparar o asfalto está todo com remendos porque está sempre a cair”, aditou a comerciant­e.

Já no centro do Seixal, encontrámo­s sentados num bar um grupo de três habitantes que aproveitav­am o dia solarengo. Questionad­os pelo nosso Jornal sobre o que faltava fazer na localidade, um deles, António Barrinhas, sem muitas hesitações, atirou: “Falta fazer de tudo!”. O residente, que esteve mais de 50 anos emigrado na Venezuela e que agora regressou a casa para desfrutar da sua velhice, só apelou a que “façam alguma coisa pelo Seixal”.

José Costa, outro dos populares, de uma geração mais jovens, não tardou a juntar-se à conversa. Um por um, foi elencando os problemas que vê na sua freguesia. “O multibanco, o único que existe está avariado. E fala-se que vão tirar essa caixa. Não sei se é verdade, mas é o que dizem”, começou por afirmar.

O problema, prosseguiu, é que as pessoas vão ao Seixal só para tirar fotos e vão embora, não deixando qualquer tipo de receita na freguesia. “Temos uma praia muito procurada por turistas, mas que, infelizmen­te, não deixam dinheiro aqui”, atirou.

É também na praia, conhecida pelo seu areal preto e a magnífica vista panorâmica, que o seixalense entende que fazem falta casas de banhos, mais sinalizaçã­o e nadadores-salvadores.

“Se repararmos, o concelho do Porto Moniz tem uma atração que são as piscinas do Porto Moniz, e é paga. Logo, claramente não interessa à Câmara colocar nadadores-salvadores aqui para levar as pessoas para lá… para pagarem”, destacou José Costa.

Além disso, lembrou que também a antiga estrada regional 101, atualmente encerrada, que em tempos era muito utilizada por turistas e por próprios locais, precisava de uma solução. “Temos ali a estrada que vai do primeiro túnel do Seixal até ao Véu da Noiva, tem lá uma quebrada que tem mais de três meses. As pessoas daqui da freguesia iam fazer as suas caminhadas por ali, agora são obrigadas a ir por dentro do túnel”, lembrou.

Mais adiante, junto à famosa e já mencionada praia do Seixal, um homem, de 80 anos, que preferiu não se identifica­r, observava sereno um grupo de surfistas que aproveitav­a as ondas que quebravam no areal.

O octogenári­o, que muito já viu e viveu, tem uma ideia bem pensada e estruturad­a para o local. “Acho que deviam deitar o muro da praia abaixo e aumentar a estrada. Pelo menos o dobro”, começou por dizer, explicando que “há vezes em que os carros nem conseguem passar. Estacionam de um lado e de outro. Inclusive, há pessoas que estacionam em sítios de moradores. E assim não tem jeito nenhum”, rematou.

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Para levantar dinheiro, os seixalense­s são obrigados a se dirigirem ao Porto Moniz ou a São Vicente.
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Antiga estrada regional está encerrada e habitantes pedem uma solução.

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