Falta gente no ponto de mira
Ninguém sabe ao certo as circunstâncias, as motivações ou os factos concretos que precipitaram, nas últimas semanas, a chamada à pedra de crónicos suspeitos de falcatruas públicas e privadas, com notório prejuízo do Estado e dos contribuintes forçados a pagar todo o tipo de devaneios dos protegidos.
Era o que quase todos reclamávamos, é o que aí está a ser feito.
Também é muito provável que, quando o Benfica voltar a acertar na baliza contrária, quando a litigância de má fé e as sucessivas diligências de batalhões de advogados bem pagos começarem a vencer-nos pelo cansaço – veja-se os processos dos Espíritos Santos, Sócrates, gestores de topo e banqueiros – a esperança nalguma réstia de justiça cairá quase ao mesmo ritmo das acusações que vão caindo uma a uma, cinco ou seis anos depois, no meio dos calhamaços dos processos e da retrógrada Justiça que tanto jeito dão para escapadelas cirúrgicas.
Ficaremos com a sensação de ‘justiça’, apenas porque os ‘donos disto tudo’ terão dormido três a quatro noites numa pedra fria, “pão com manteiga de manhã” e “frango assado no forno” ao jantar – segundo o relato minucioso de um dos jornais portugueses que mais tem pugnado por alguma Justiça.
Até aqui, nada de novo.
O que seria legítimo esperar é que fossem também ‘chamados à colação’ a legião de facilitadores que depressa passam de autênticos bajuladores corruptíveis a magníficos gestores e governadores que sofrem de amnésia. Porque nunca se lembram de nada nas salas de interrogatório ou de inquirição, apesar do arquivo de fotografias e de notícias mostrá-los felizes, radiantes, eufóricos até, porque sugeriram, facilitaram, colaboraram, engendraram, desenharam e executaram todas as engenharias financeiras que mandam a conta para os contribuintes.
A consciência cívica deve abranger não só as patifarias gigantescas, como também preocupar-se com outras de menor dimensão, que não se verificam apenas nalguns bancos, nos grandes clubes de futebol ou outras instituições de reputação inatacável, pelo menos até uma certa altura.
O ‘ponto de mira’ deve ser orientado em tempo útil, para não permitir o crescimento e desenvolvimento de monstrozinhos. É tempo de premiar e de distinguir apenas aqueles que assumem nobres responsabilidades nas instituições com funções reguladoras e exercem-nas com sentido de equidade, justiça e respeito pela coisa pública.
Não é preciso ser em Lisboa. Pode ser também por aqui.
Nunca se lembram de nada, apesar do arquivo de fotografias e de notícias mostrá-los radiantes, eufóricos até, porque sugeriram, facilitaram, engendraram e executaram as engenharias financeiras que mandam a conta para os contribuintes.