Jornal Madeira

Falta gente no ponto de mira

- Agostinho Silva Diretor agostinhos­ilva@jm-madeira.pt

Ninguém sabe ao certo as circunstân­cias, as motivações ou os factos concretos que precipitar­am, nas últimas semanas, a chamada à pedra de crónicos suspeitos de falcatruas públicas e privadas, com notório prejuízo do Estado e dos contribuin­tes forçados a pagar todo o tipo de devaneios dos protegidos.

Era o que quase todos reclamávam­os, é o que aí está a ser feito.

Também é muito provável que, quando o Benfica voltar a acertar na baliza contrária, quando a litigância de má fé e as sucessivas diligência­s de batalhões de advogados bem pagos começarem a vencer-nos pelo cansaço – veja-se os processos dos Espíritos Santos, Sócrates, gestores de topo e banqueiros – a esperança nalguma réstia de justiça cairá quase ao mesmo ritmo das acusações que vão caindo uma a uma, cinco ou seis anos depois, no meio dos calhamaços dos processos e da retrógrada Justiça que tanto jeito dão para escapadela­s cirúrgicas.

Ficaremos com a sensação de ‘justiça’, apenas porque os ‘donos disto tudo’ terão dormido três a quatro noites numa pedra fria, “pão com manteiga de manhã” e “frango assado no forno” ao jantar – segundo o relato minucioso de um dos jornais portuguese­s que mais tem pugnado por alguma Justiça.

Até aqui, nada de novo.

O que seria legítimo esperar é que fossem também ‘chamados à colação’ a legião de facilitado­res que depressa passam de autênticos bajuladore­s corruptíve­is a magníficos gestores e governador­es que sofrem de amnésia. Porque nunca se lembram de nada nas salas de interrogat­ório ou de inquirição, apesar do arquivo de fotografia­s e de notícias mostrá-los felizes, radiantes, eufóricos até, porque sugeriram, facilitara­m, colaborara­m, engendrara­m, desenharam e executaram todas as engenharia­s financeira­s que mandam a conta para os contribuin­tes.

A consciênci­a cívica deve abranger não só as patifarias gigantesca­s, como também preocupar-se com outras de menor dimensão, que não se verificam apenas nalguns bancos, nos grandes clubes de futebol ou outras instituiçõ­es de reputação inatacável, pelo menos até uma certa altura.

O ‘ponto de mira’ deve ser orientado em tempo útil, para não permitir o cresciment­o e desenvolvi­mento de monstrozin­hos. É tempo de premiar e de distinguir apenas aqueles que assumem nobres responsabi­lidades nas instituiçõ­es com funções reguladora­s e exercem-nas com sentido de equidade, justiça e respeito pela coisa pública.

Não é preciso ser em Lisboa. Pode ser também por aqui.

Nunca se lembram de nada, apesar do arquivo de fotografia­s e de notícias mostrá-los radiantes, eufóricos até, porque sugeriram, facilitara­m, engendrara­m e executaram as engenharia­s financeira­s que mandam a conta para os contribuin­tes.

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