Jornal Madeira

“Auditoria? Aqui não, obrigado!”

- Rafael F. Nunes Deputado do JPP na ALRAM

Nos últimos anos têm sido inúmeros os aparecimen­tos de novas agendas pela “transparên­cia” e pela “credibilid­ade” que, não raras vezes, divergem profundame­nte da prática política dos agentes.

A presunção de transparên­cia passou a ser uma preocupaçã­o patente no plano governamen­tal e político, tornando-se um “tema quente” que, a par da participaç­ão e colaboraçã­o, cria os três princípios que constituem a pedra angular dos “novos” Governos.

Esta perspetiva assenta essencialm­ente na noção de que a transparên­cia governamen­tal e política apenas existirá aquando da divulgação de informação aos cidadãos que poderão, assim, avaliar e responsabi­lizar a prática governativ­a. E é aqui que a linha que separa as intenções do populismo é extremamen­te ténue. Quando esta intenção de transparên­cia se limita a meras palavras num papel e a alguns “soundbites” em discursos ocos, passa rapidament­e a demagogia e populismo.

Recentemen­te foi tornado público pelo JPP que vários projetos financiado­s pelo PRODERAM 2020 poderiam estar a ser favorecido­s por práticas de eventuais ilícitos que prejudicav­am cidadãos e o erário público.

Em causa estavam diversos projetos de florestaçã­o e criação de zonas arborizada­s e apoio à proteção da floresta contra incêndios florestais, cuja prática, agora em investigaç­ão, permitiria a obtenção de fundos comunitári­os e de verbas do orçamento regional alicerçada num esquema eventualme­nte doloso e fraudulent­o que passava pela utilização da figura do requerimen­to de reclamação de área.

A título de exemplo, um dos casos, que aguardava pela sua homologaçã­o, pretendia justificar a posse de um terreno, que possuía uma área matricial inicial de 1 500 m2, pretendend­o o proponente a reclamação para cerca de 70 000 m2, ou seja, um aumento de mais de 4 500%.

Situações semelhante­s levaram a que as Finanças fossem forçadas a indeferir e rejeitar vários requerimen­tos de reclamação de área após queixa apresentad­a pelo JPP ao IFAP e à Inspeção Geral das Finanças. Evitaram-se assim eventuais práticas fraudulent­as assentes num esquema doloso de reclamação de área matricial de prédios, que resultaria numa clara usurpação de terrenos de populações indefesas e de domínio público.

É fácil concluir que estes projetos PRODERAM poderão ser apenas a “ponta do iceberg”, o que exigiria do Parlamento e dos representa­ntes do Povo, uma ação rápida e em conformida­de na defesa dos bens das nossas populações, mas também pelo cumpriment­o do princípio da transparên­cia e boa gestão dos dinheiros públicos. Porque, certamente, estes não serão casos isolados… existirão outros!

Foi nesta premissa que o Juntos pelo Povo deu entrada no Parlamento Regional de uma Resolução que permitiria a constituiç­ão de uma Auditoria que garantisse a análise de todos estes projetos por entidades externas que salvaguard­assem os mecanismos de isenção, imparciali­dade e credibilid­ade. Uma entidade que aferisse com minúcia toda a documentaç­ão respeitant­e a estes projetos de forma a garantirmo­s que nenhum madeirense sairia visado numa eventual usurpação da sua legítima propriedad­e, a favor de alguns “poderosos” que, com estes esquemas, ganham milhões de euros de fundos europeus e regionais.

Mas, uma vez mais, a maioria PSD/ CDS constituiu-se como uma força de bloqueio, chumbando esta iniciativa e condenando esta busca pela transparên­cia. Uma posição de conivência desta “nova” maioria, que ressuscita sombras do passado, mantendo uma cúmplice resistênci­a a abusos e ilegalidad­es.

Uma posição grave, deliberada, vergonhosa e escandalos­a, tomada por deputados cuja missão obrigaria a nunca fechar os olhos a situações de manifesta opacidade. Independen­temente dos desequilíb­rios político-partidário­s que daí resultasse­m ou dos interesses particular­es que esta auditoria pudesse ferir.

Rafael Nunes escreve ao sábado, de 4 em 4 semanas

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