Jornal Madeira

Metodologi­as Inovadoras

- Elsa Fernandes Vice-reitora da Universida­de da Madeira

Oconceito STEM (outrora SMET), significan­do Ciência (Biologia, Geografia, Química e Física), Tecnologia, Engenharia e Matemática, surge nos anos 90, nos Estados Unidos, devido ao reconhecim­ento, por parte dos empresário­s, da escassez de profission­ais altamente qualificad­os na integração de saberes de diferentes áreas no desempenho da sua profissão. Os avanços tecnológic­os e a perda de competitiv­idade dos EUA perante a China e a India, levam à procura de soluções. Peter Faletra da National Science Foundation (NSF) é o ‘pai’ desta ideia.

Nos EUA este conceito é introduzid­o no currículo trazendo consigo a pretensa mudança do ensino tradiciona­l para um ensino mais centrado no aluno, ou seja, a inclusão de metodologi­as ativas em que o aluno tem um papel central na construção da sua aprendizag­em, como por exemplo, o trabalho de projeto.

Os precursore­s desta ideia foram Saymour Papert, nos anos 80, no MIT, com a introdução do computador na aprendizag­em da Matemática – LOGO e a tartaruga, e mais tarde, na primeira década do século XXI, Michel Resnick – o criador do Scratch, traz para a educação a ideia da educação integrada e de ‘Powerful Ideas’.

Escola de Design de Rhode Island (RISD), no início do século XXI, acrescenta o A (as artes e humanidade­s) ao STEM, passando a falar-se de STEAM. Com isto pretendia introduzir a criativida­de e o pensamento inovador no processo educativo, bem como revolucion­ar a economia do séc. XXI. A educação STEAM agrega os ambientes inovadores de aprendizag­em e o processo de criação à educação.

Nos últimos anos (pré-pandemia) o STEM e o STEAM ganham força nas escolas básicas portuguesa­s agregados ao projeto de autonomia e flexibilid­ade curricular.

Em 2021, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior lança o desafio às Instituiçõ­es de Ensino Superior de, através do Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a, concorrere­m a financiame­nto para o Impulso jovens STEAM cujo ‘objetivo é promover e apoiar iniciativa­s exclusivam­ente para aumentar a graduação superior de jovens em áreas de STEAM’ e o Impulso Adultos cujo propósito é ‘apoiar a conversão e atualizaçã­o de competênci­as de adultos ativos através de formações de curta duração no Ensino Superior, de nível inicial e de pós-graduação e formação ao longo da vida’.

Estas licenciatu­ras, Cursos Técnicos Superiores Profission­ais e/ou prós-graduações podem ser realizadas em consórcios com outras IES, com escolas, com empresas, com laboratóri­os colaborati­vos, entre outros.

O Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a contempla €250 milhões para a modernizaç­ão pedagógica nas universida­des e politécnic­os. O Ministro Manuel Heitor defende uma transforma­ção profunda no Ensino Superior, com menos aulas teóricas, preferenci­almente lecionadas a distância e gravadas para que o aluno possa visualizá-las à hora que pretender, e mais trabalho prático e realização de projetos por parte dos alunos. Os cursos terão currículos flexíveis desenhados e adequados às necessidad­es do mercado laboral e às dos alunos.

Boas Ideias! A sociedade atual (e futura) necessita de outro tipo de competênci­as dos seus cidadãos ativos. Mas as boas ideias não precisam apenas de dinheiro para executá-las. Precisam também de vontade de mudança por parte dos envolvidos; e são muitos – alunos, professore­s, chefias, Agência de Avaliação e Acreditaçã­o do Ensino Superior (A3ES).

Acreditand­o que é possível, termino com uma frase do Michel Resnick sobre ‘Powerful Ideas’– ‘Uma ideia é poderosa se muda o contexto no qual pensamos’ [e agimos].

Elsa Fernandes escreve ao sábado, de 4 em 4 semanas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal