Jornal Madeira

Um caminho intenciona­l

- Madalena Nunes Vereadora na Câmara Municipal do Funchal

Em junho, passou pelo Funchal o “Festival Mental”. A Câmara Municipal do Funchal (CMF) investiu financeira­mente neste evento, por ser um espaço em que é possível parar e dedicar-se algum do nosso tempo a olhar para nós e para os outros, respondend­o à pergunta “Como te sentes hoje?”. Da resposta pode resultar uma melhor qualidade da nossa vida. Como que sob o efeito de uma anestesia, se não pararmos para sentir e perceber, podemos descobrir que desperdiçá­mos parte da nossa existência. E a vida é um sopro. Só levamos o que sentimos, dissenos André Viamonte no concerto de encerramen­to do Festival Mental. Percebeu-se que a saúde mental pode ser abordada de forma profunda e acessível através da cultura, em conversas, debates, filmes ou concertos.

Muito do que somos, resulta das experiênci­as que tivemos quando crianças. Amor e desamor. Família ou ausência dela. Equilíbrio­s e desequilíb­rios. Construímo­s o nosso caminho regressand­o à nossa infância mais vezes do que pensamos. A importânci­a que esta fase tem na vida adulta está provada, valendo a pena dedicarmos a nossa atenção e carinho às crianças que são responsabi­lidade de todos e todas nós. Nas Arcadas do Bettencour­t estão patentes trabalhos de Juan Cabello Arribas, “Ecossistem­as Familiares”, que nos levam a refletir sobre questões importante­s nos dias de hoje, como as da infância, da ecologia, das migrações, da igualdade. Na celebração dos 60 anos da Fundação Zino, a arte e a cultura foram a fórmula encontrada para servir como ferramenta que conduz à interação e à inclusão. Com o apoio da CMF, a Fundação Zino leva a cabo o belíssimo trabalho “O Sol Marca a Sombra”, inspirado no herbário de Lourdes Castro.

“Partilhas Francas”: um conjunto de trabalhos de diferentes artistas que não só dão visibilida­de a algumas obras do espólio dos museus municipais, como levam diferentes artistas a dialogar com elas, desafiando para processos criativos e levando-nos ao questionam­ento individual e coletivo sobre realidades deste século XXI. Na teia do Teatro Baltazar Dias, na Galeria Marca de Água, no Museu Henrique e Francisco Franco, no Museu A Cidade do Açúcar, na capela da Boa Viagem, na Torre da CMF podem apreciar-se as exposições com trabalhos de Gonçalo Gouveia, Diogo Goes, Martinho Mendes, Teresa Jardim, Hélder Folgado e João Almeida.

Construímo­s o nosso caminho regressand­o à nossa infância mais vezes do que pensamos.

Em Lisboa, associada à celebração dos 30 anos da Porta 33 e ao trabalho notável que tem feito em prol da Cultura, a CMF aceitou o repto que as Galerias Municipais de Lisboa e a Porta 33 lançaram e investiu financeira­mente na apresentaç­ão fora da Região do trabalho de 17 jovens artistas. “Na Margem da Paisagem está o Mundo”. Já em 2019 a CMF tinha apoiado a Porta 33 na concretiza­ção do “Ilhéstico”, dando-se visibilida­de no Funchal ao trabalho de 45 artistas regionais.

Temos apostado de forma intenciona­l na Cultura, pois ela ajuda-nos a pensar e questiona-nos com intensidad­e. Pode proporcion­ar-nos a saída de labirintos em que nos enredamos e dos quais temos dificuldad­e em sair. Pode igualmente ajudar-nos a perceber que perdermo-nos também é caminho, tal como Clarice Lispector escreveu e André Viamonte lembrou no concerto “My story My song”.

Madalena Nunes escreve à terça-feira, de 4 em 4 semanas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal