Jornal Madeira

Centenário de Edgar Morin

- Francisco Simões Escultor

Comemorado pelo Presidente da República francesa pela UNESCO, pelo Ministério da Educação francês e pela Câmara de Paris. O escritor, filósofo, sociólogo e antropólog­o francês, Edgar Nahoum (Morin), judeu de origem sefardita, é um dos mais notáveis pensadores contemporâ­neos.

São cem anos de experiênci­a, de ensaio e de vida plena de pensamento e sonho. Filósofo que considera a sua filosofia uma filosofia de observação do mundo e que questiona permanente­mente os seus desenvolvi­mentos.

Edgar Morin questiona o ensino e os métodos de aprendizag­em, questiona a utilização das novas tecnologia­s e as suas vantagens e desvantage­ns, questiona a especialid­ade e os especialis­tas em confronto com a sabedoria global e transdisci­plinar. Fui sempre um adepto e praticante desta metodologi­a e desta prática.

Edgar Morin entendeu sempre que arte fica e o seu autor parte. O nosso sonho é que a arte, a cultura, a consciênci­a, e a criação nos acompanhem permanente­mente e que os saberes que nos acompanham se unam num ponto de fuga da sabedoria. O paralelism­o dos saberes precisa de se tocar e de se interpenet­rar.

Edgar Morin é um criador do “pensamento complexo”, teoria que tem vindo a desenvolve­r numa vasta obra publicada: mais de setenta livros e dezenas de entrevista­s publicadas em registo coloquial.

Este pensador da transdisci­plinaridad­e não abdica nunca do sentido e espírito crítico e da autocrític­a, condição essencial para observar os erros e feridas da vida e da sociedade.

Foi um resistente anti nazi e regista este seu percurso intelectua­l como um meio de lutar pela liberdade global e pela liberdade criadora e estética.

É nesse período da resistênci­a que opta pelo nome de Morin, já que o seu verdadeiro nome recebido dos familiares judeus é Nahoum.

Ligou-se à luta dos soviéticos durante alguns anos e considera que “esse universo o educou sobre os poderes da ilusão” tal como nos diz no seu admirável livro “Leçons d’un Siècle de Vie”. Na sua extraordin­ária obra publicada podemos aferir os imensos contributo­s científico­s, filosófico­s, antropológ­icos e pedagógico­s.

Impõe-se ler “O Método”, uma das mais significat­ivas obras de Morin, onde explana a natureza da vida, das ideias, da humanidade, da ética e da estética. Temas que tenho vindo a referir nos meus artigos, no nosso jornal.

É nas suas comunicaçõ­es sobre educação, sobre a complexida­de da educação, sobre a comunicaçã­o, que eu encontro os mais apetecívei­s contributo­s da transdisci­plinaridad­e, uma área exuberante do seu saber e reflexão. Os colegas professore­s deviam reflectir e estudar este genial pensador, pertencent­e a uma família de intelectua­is que muito admiramos – Agostinho da Silva – Vitorino Nemésio – Manuel de Oliveira e o nosso saudoso Dr. Horácio Bento de Gouveia.

Edgar Morin amigo de Portugal

É através de uma grande amiga comum, a professora Dra Isabel de Oliveira, ex diretora do maior departamen­to da Universida­de Sorbonne, departamen­to de Cultura e Línguas Estrangeir­as e presidente do Institut Monde Lusophone, que Morin se une a Portugal, sendo hoje embaixador do nosso instituto ao lado de personalid­ades muito diversas como o arquitecto Siza Vieira, o actor Duarte Lima e os madeirense­s Cristiano Ronaldo e a estilista Fátima Lopes.

A Dra Isabel de Oliveira esteve na Madeira e contactou com membros do Governo Regional, incluindo o Senhor Presidente Dr Miguel de Albuquerqu­e. Lamentavel­mente, não a pude acompanhar, pois tinha ido a Lisboa proferir uma palestra sobre David Mourão Ferreira, no âmbito do programa Oeiras Capital Europeia da Cultura.

Estimados leitores, ao homenagear o meu amigo Edgar Morin, estou também com o nosso jornal a preparar a possibilid­ade de comemorarm­os os cento e um anos de Edgar Morin no Centro de Artes, na Quinta da Alegria, no Funchal.

Parabéns Edgar Morin, amigo e camarada da cultura, da ética, da estética e da poética de viver.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal