Jornal Madeira

Museu da Família Teixeira

- Daniel Bastos Professor

Oarquipéla­go da Madeira, cais singular de chegadas e partidas no oceano Atlântico, tem sido, ao longo da história portuguesa, um dos território­s nacionais mais fortemente marcado pelo fenómeno da emigração.

Um dos principais destinos da emigração madeirense na segunda metade do séc. XX, foi indubitave­lmente a Venezuela, país da América do Sul, onde se estima que vivam atualmente cerca de 400 mil emigrantes portuguese­s, conquanto os lusodescen­dentes possam ser 1,3 milhões, essencialm­ente radicados na capital, Caracas, e sobretudo ligados aos sectores da hotelaria, construção civil e alimentaçã­o.

O relevante legado histórico da emigração lusa para a pátria de Simón Bolívar, maioritari­amente oriunda da Madeira, está desde o início da segunda década do séc. XXI plasmado na missão e visão do Museu da Família Teixeira, situado na Fajã da Murta, freguesia do Faial, no concelho de Santana.

Um espaço museológic­o concebido pelo empresário Anaclet Teixeira de Freitas, e que tem como principal desígnio homenagear e perpetuar a memória dos seus progenitor­es, Albino Teixeira e Conceição Caires, naturais de Fajã da Murta, e que nos anos 50, tal como milhares de conterrâne­os, encetaram uma trajetória migratória familiar para a Venezuela à procura de melhores condições de vida.

Nos anos 60, com apenas sete anos de idade, Anaclet Teixeira, foi ao encontro dos pais em Caracas onde viria no alvorecer da década de 80 a especializ­ar-se em gastronomi­a judaica-ortodoxa. Área alimentar, que aliada a uma incansável capacidade de trabalho, ao culto do mérito e a uma constante dedicação à família, permitiram-lhe construir um verdeiro império comercial, atualmente refletido nas conhecidas cadeias de lojas “Rey David” na capital venezuelan­a.

Detentor de vários investimen­tos na América Latina, assim como na sua terra natal, onde tem investido em hotéis e imobiliári­o, contexto que confluiu para que no passado dia 1 de julho, Dia da Região Autónoma da Madeira e das Comunidade­s Madeirense­s, tenha sido agraciado pelo Governo Regional com a insígnia autonómica de bons serviços, Anaclet Teixeira erigiu em Fajã da Murta um espaço museológic­o que alberga as memórias, objetos, cartas e fotografia­s da família.

Um núcleo museológic­o, aberto ao público e com entrada gratuita, aformosead­o por um jardim com vinte palmeiras trazidas do Egipto, uma capela, um coreto e uma adega, que ao preservar a história de vida da Família Teixeira, dinamiza e perpetua a memória histórica do fenómeno da emigração no Arquipélag­o da Madeira, em particular do legado migratório luso-venezuelan­o.

Um núcleo museológic­o, aberto ao público e com entrada gratuita.

Como destaca a socióloga das migrações, Maria Beatriz Rocha-trindade, no artigo

o Museu da Família Teixeira “constitui um espaço museológic­o revelador de muitos factos que se encontram intimament­e ligados à vida pessoal de um migrante, que partiu para a Venezuela pelo chamamento do seu pai e que a partir daí construiu habilmente e de forma particular­mente inteligent­e o sucesso obtido”.

O exemplo de vida Anaclet Teixeira, empreended­or de sucesso que apesar de várias vicissitud­es da vida nunca olvida as suas raízes e família, como espelha a construção do museu dedicado a homenagear e perpetuar a memória dos seus pais, inspira-nos a máxima do ensaísta francês Joseph Joubert: “A memória é o espelho onde observamos os ausentes”.

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