Jornal Madeira

MNE português diz que serviços estão focados nos portuguese­s

- Por Marco António Sousa marco.sousa@jm-madeira.pt

Desespero. Palavra que traduz o estado de espírito dos comerciant­es madeirense­s na África do Sul após quatro dias de saques, de vandalismo, de roubo e de incêndios. A violência parece não dar tréguas e a fúria dos manifestan­tes é tamanha que ninguém os consegue parar.

“No domingo, a loja estava aberta e as pessoas começaram a gritar aqui em baixo. Ligaram-me a dizer que estavam a entrar para dentro da loja e que não os conseguiam parar”, descreve Nuno Gonçalves, emigrante madeirense que viu a sua loja ser totalmente ‘varrida’ na tarde/noite desta terça-feira, em Durban.

“A polícia estava lá e depois foram embora. Não fizeram nada, não dispararam para ninguém. Deixaram os manifestan­tes tomarem conta de tudo”, disse revoltado.

O homem natural do Estreito da Calheta descreve “contentore­s estragados, alguns roubados, coisas pelo chão”.

“Uma desgraça, só me apetece chorar”, lamenta.

O madeirense explica que ninguém conseguia fazer nada devido à grande quantidade de manifestan­tes que estava a invadir o seu estabeleci­mento comercial.

“Não se conseguia fazer nada, eles eram muitos. Os seguranças não podiam fazer nada”.

Nuno Gonçalves aponta o dedo à inércia da polícia local. “Nem tinham balas, não estão preparados para uma coisa desta”, aponta.

“Não temos dormido quase nada. Estamos toda a noite preparados para que aconteça algo. Trancamos tudo. Só se ouvia disparos durante toda a noite, barulho. Estávamos com medo que viessem para as casas”, descreve, visivelmen­te receoso.

Felizmente, diz-nos o madeirense que “toda a comunidade tem ajudado bastante”.

“Todos têm colocado contentore­s e outras coisas para impedi-los de virem, para mandá-los para trás.

Eles [manifestan­tes] vêm de todo o lado dos campos Squatters. Está a ser um problema muito grande”, continua.

Desafiado a descrever a destruição no seu negócio, Nuno Gonçalves garantiu, comovido, que tinha dificuldad­es em explicar. “Está tudo destruído. Toda a eletricida­de, água a derramar, chão inundado, montras partidas, não consigo explicar, é uma desgraça”.

“A gente precisa de fé”, concluiu o comerciant­e.

O ministro dos Negócios Estrangeir­os português afirmou ontem que os serviços diplomátic­os na África do Sul estão focados no apoio aos portuguese­s e voltou a pedir cautela à comunidade, num momento em se verificam várias manifestaç­ões violentas. “Espero que os acontecime­ntos que estão a afligir a África do Sul terminem o mais depressa possível”, afirmou Augusto Santos Silva à Lusa, confiando que a normalidad­e regresse.

Nas ruas do país, milhares de sulafrican­os têm saqueado lojas, atacado equipament­os públicos e vandalizad­o as ruas, protestand­o contra a crise económica e exigindo a libertação do ex-presidente Jacob Zuma, preso na semana passada por desrespeit­o a uma ordem do Tribunal Constituci­onal, a mais alta instância judicial do país. “Tomei muito boa nota dos apelos à calma e ao respeito pelas decisões dos tribunais sul-africanos que o Presidente [Ramaphosa] fez e tem insistente­mente feito”, disse o chefe da diplomacia portuguesa.

A África do Sul conta com cerca de 450 mil portuguese­s e lusodescen­dentes e Santos Silva admitiu que os serviços consulares estão focados no apoio à comunidade. “Como todos compreende­rão, a minha prioridade, a minha preocupaçã­o, é com a situação dos portuguese­s”, disse. “Infelizmen­te já temos a lamentar prejuízos em bens, […] mas felizmente no momento em que falo não há nenhuma notícia de que a segurança física dos portuguese­s tivesse estado em perigo”, acrescento­u o governante. O ministro reafirmou os apelos feitos pela secretária de Estado das Comunidade­s Portuguesa­s, Berta Nunes, pedindo “a máxima cautela e a máxima prudência” por parte dos compatriot­as num momento de crise social no país.

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Os manifestan­tes destroem lojas, estabeleci­mentos e centros comerciais num abrir e fechar de olhos.
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