Bens essenciais começam a faltar
Madeirenses receiam que a escassez de alimentos e combustíveis seja permanente.
Em consequência dos violentos saques, começam a surgir relatos de escassez de bens essenciais, como combustível e alimentos.
“Não tenho nada, nem sequer pão. Não temos leite, não temos ovos, só temos algumas peças de carne, mas é pouco”, diz desesperado Nuno Gonçalves, emigrante madeirense do Estreito na Calheta.
“Eu queria ir a um supermercado hoje de manhã e nem podia entrar. Penso que estavam mais de 3.000 pessoas à espera para entrar nesse supermercado”, continuou.
Contudo, o madeirense diz ainda ter alguma comida mas avisa que “para a frente vai ser um problema”, isto porque “as fábricas estão todas a ser incendiadas”.
Questionado se foi contactado pela Embaixada ou Consulado, Nuno Gonçalves lamenta não ter sido procurado.
“A pessoa está aqui e não sabe o que vai fazer”, denuncia, deixando entender a necessidade que a comunidade tem de acompanhamento e atenção neste momento tão delicado.
O comerciante garante que nada está calmo em Durban e que, após conversa com um amigo, inteirou-se que “eles [manifestantes] estão a estragar tudo”.
Destruição é a imagem que reina na África do Sul nos últimos dias.
“Aqui não está nada calmo, um amigo que trabalha num táxi disse que passou pelas ruas e que eles estão a rebentar fábricas, a levar tudo, maquinarias, tudo, tudo. Falei com uma senhora que trabalha comigo que está em Phenix e eles estão a ser cercados por um grande amontoado de pessoas”, contou.
“Está cheia de medo em casa sozinha. Isto não está nada bom”, alerta.
Nuno Gonçalves está em casa com a família e, no momento em que falou com o nosso Jornal, explicou que estava já a ficar de noite e que isso seria um problema.
“Ouvi dizer que para baixo de nós a tropa está lá a disparar. Mas é pouco, não é nada”.
O Governo sul-africano destacou 2.500 militares para apoiar a polícia a conter os distúrbios na província de origem de Zuma, Kwazulu-natal, assim como em Gauteng, o motor da economia do país. Mas os protestos estendem-se a várias outras cidades da África do Sul, nomeadamente à Cidade do Cabo, onde vivem mais de 30.000 portugueses.
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que se reuniu ontem com líderes dos partidos políticos, está a ser pressionado para declarar o estado de emergência no país, enfrentando críticas de vários quadrantes pela “demora” e “incapacidade” do Governo e das forças de segurança em restaurar a lei e ordem na África do Sul.
Os motins violentos, saques e intimidação, que eclodiram na quinta-feira na província litoral do Kwazulu-natal, prosseguem pelo sétimo dia consecutivo, apesar da presença do exército no reforço aos meios policiais nas últimas 24 horas. No Kwazulu-natal, onde se estima que vivam 20.000 portugueses, pelo menos três negócios de portugueses foram saqueados e vandalizados, disse à Lusa o cônsul honorário Elias de Sousa.
Pelo menos 72 pessoas morreram e mais de 1.200 foram presas pelas autoridades em incidentes de violência, saques e intimidação, que se alastram agora desde o Cabo do Norte à província de Mpumalanga, vizinha a Moçambique, segundo a polícia sul-africana.
O abastecimento de alimentos e combustível em partes de Joanesburgo começou a escassear no final de terça-feira.
PESSOAS estariam na manhã de ontem tentar comprar bens essenciais, disse Nuno Gonçalves.