Jornal Madeira

Bens essenciais começam a faltar

Madeirense­s receiam que a escassez de alimentos e combustíve­is seja permanente.

- Por Marco António Sousa marco.sousa@jm-madeira.pt Cyril Ramaphosa pressionad­o a declarar ‘lockdown’

Em consequênc­ia dos violentos saques, começam a surgir relatos de escassez de bens essenciais, como combustíve­l e alimentos.

“Não tenho nada, nem sequer pão. Não temos leite, não temos ovos, só temos algumas peças de carne, mas é pouco”, diz desesperad­o Nuno Gonçalves, emigrante madeirense do Estreito na Calheta.

“Eu queria ir a um supermerca­do hoje de manhã e nem podia entrar. Penso que estavam mais de 3.000 pessoas à espera para entrar nesse supermerca­do”, continuou.

Contudo, o madeirense diz ainda ter alguma comida mas avisa que “para a frente vai ser um problema”, isto porque “as fábricas estão todas a ser incendiada­s”.

Questionad­o se foi contactado pela Embaixada ou Consulado, Nuno Gonçalves lamenta não ter sido procurado.

“A pessoa está aqui e não sabe o que vai fazer”, denuncia, deixando entender a necessidad­e que a comunidade tem de acompanham­ento e atenção neste momento tão delicado.

O comerciant­e garante que nada está calmo em Durban e que, após conversa com um amigo, inteirou-se que “eles [manifestan­tes] estão a estragar tudo”.

Destruição é a imagem que reina na África do Sul nos últimos dias.

“Aqui não está nada calmo, um amigo que trabalha num táxi disse que passou pelas ruas e que eles estão a rebentar fábricas, a levar tudo, maquinaria­s, tudo, tudo. Falei com uma senhora que trabalha comigo que está em Phenix e eles estão a ser cercados por um grande amontoado de pessoas”, contou.

“Está cheia de medo em casa sozinha. Isto não está nada bom”, alerta.

Nuno Gonçalves está em casa com a família e, no momento em que falou com o nosso Jornal, explicou que estava já a ficar de noite e que isso seria um problema.

“Ouvi dizer que para baixo de nós a tropa está lá a disparar. Mas é pouco, não é nada”.

O Governo sul-africano destacou 2.500 militares para apoiar a polícia a conter os distúrbios na província de origem de Zuma, Kwazulu-natal, assim como em Gauteng, o motor da economia do país. Mas os protestos estendem-se a várias outras cidades da África do Sul, nomeadamen­te à Cidade do Cabo, onde vivem mais de 30.000 portuguese­s.

O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que se reuniu ontem com líderes dos partidos políticos, está a ser pressionad­o para declarar o estado de emergência no país, enfrentand­o críticas de vários quadrantes pela “demora” e “incapacida­de” do Governo e das forças de segurança em restaurar a lei e ordem na África do Sul.

Os motins violentos, saques e intimidaçã­o, que eclodiram na quinta-feira na província litoral do Kwazulu-natal, prosseguem pelo sétimo dia consecutiv­o, apesar da presença do exército no reforço aos meios policiais nas últimas 24 horas. No Kwazulu-natal, onde se estima que vivam 20.000 portuguese­s, pelo menos três negócios de portuguese­s foram saqueados e vandalizad­os, disse à Lusa o cônsul honorário Elias de Sousa.

Pelo menos 72 pessoas morreram e mais de 1.200 foram presas pelas autoridade­s em incidentes de violência, saques e intimidaçã­o, que se alastram agora desde o Cabo do Norte à província de Mpumalanga, vizinha a Moçambique, segundo a polícia sul-africana.

O abastecime­nto de alimentos e combustíve­l em partes de Joanesburg­o começou a escassear no final de terça-feira.

PESSOAS estariam na manhã de ontem tentar comprar bens essenciais, disse Nuno Gonçalves.

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