Jornal Madeira

Terrenos baldios

- Por Edna Baptista edna.baptista@jm-madeira.pt

De olhos postos na paisagem verdejante e serena da freguesia de São Roque do Faial, o JM encontrou Gabriel Silva. À nossa equipa de reportagem confessou não ter razões de queixa e que são poucos os serviços que não encontra na sua localidade. Apenas um aspeto mereceu reparos menos positivos: a agricultur­a, que, conforme nos conta, já viveu tempos melhores. “Às vezes falta água e não há quem trabalhe. Naqueles lados era tudo limpo. Agora está a ver?”, afirmou, convidando-nos a contemplar também os terrenos por mondar.

“Já ninguém planta nada. Este silvado até é um perigo para as casas”, acrescento­u a Dona Maria, que, entretanto, se juntou à conversa. “Não tem ninguém na freguesia. É um lugar muito pacato. Os mais novos procuram outras coisas. Para andar com as mãos assim já não querem…”, continuou, estendendo as mãos para mostrar como trabalhara­m uma vida, sem medo de se sujarem.

Mais abaixo, o JM juntou-se à conversa de três vizinhos e o tema em cima da mesa não foi muito diferente. A agricultur­a já não é o que era, garantem. “Metade dos terrenos estão todos abandonado­s. Os mais novos estão a ir embora e para a agricultur­a não é qualquer pessoa que queira ir”, constatou Lídia Abreu, reclamando que a mão de obra está cada vez mais cara. “Os homens são caros. É 50 euros, oito horas por dia. É melhor deixar baldio”, acrescento­u.

Já para Eduardo Gomes, o maior problema nem é este. “É a bicharada. Isto estava tudo plantado, até ao fundo da ribeira. Feijão, vimes, inhame, trigo e batata doce de fartura. Agora já não se pode plantar porque a bicharada come tudo”, continuou, apontando que, apesar das medidas de controlo e dos apoios, como a oferta de raticida, o pombo-torcaz, os ratos e os coelhos continuam a prejudicar as produções. A estes infortúnio­s, acrescenta­m ainda que a água de rega continua a ser motivo de desagrado. “Como há mais terreno em baldio e menos pessoal a trabalhar, devia haver mais água. Ao regar só de 12 em 12 dias, com o sol que dá, queima a cultura e quando vamos regar já está tudo ‘murchinho’ e já não dá resultado nenhum. Nem dá vontade de trabalhar. Devíamos regar de 8 em 8 dias, mas uma pessoa reclama e fazem ouvidos de mercador…”, apontou Lídia Abreu. “O poço tem água suficiente, mas não deixam”, continuou Lídio Rochinha.

De resto, o que falta é povo, apontam-nos. Mas “a vida melhorou, menos mal”, concluiu Eduardo Gomes.

 ??  ?? Apesar das medidas de controlo, o pombo-torcaz continua a prejudicar as produções nesta freguesia.
Apesar das medidas de controlo, o pombo-torcaz continua a prejudicar as produções nesta freguesia.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal