Terrenos baldios
De olhos postos na paisagem verdejante e serena da freguesia de São Roque do Faial, o JM encontrou Gabriel Silva. À nossa equipa de reportagem confessou não ter razões de queixa e que são poucos os serviços que não encontra na sua localidade. Apenas um aspeto mereceu reparos menos positivos: a agricultura, que, conforme nos conta, já viveu tempos melhores. “Às vezes falta água e não há quem trabalhe. Naqueles lados era tudo limpo. Agora está a ver?”, afirmou, convidando-nos a contemplar também os terrenos por mondar.
“Já ninguém planta nada. Este silvado até é um perigo para as casas”, acrescentou a Dona Maria, que, entretanto, se juntou à conversa. “Não tem ninguém na freguesia. É um lugar muito pacato. Os mais novos procuram outras coisas. Para andar com as mãos assim já não querem…”, continuou, estendendo as mãos para mostrar como trabalharam uma vida, sem medo de se sujarem.
Mais abaixo, o JM juntou-se à conversa de três vizinhos e o tema em cima da mesa não foi muito diferente. A agricultura já não é o que era, garantem. “Metade dos terrenos estão todos abandonados. Os mais novos estão a ir embora e para a agricultura não é qualquer pessoa que queira ir”, constatou Lídia Abreu, reclamando que a mão de obra está cada vez mais cara. “Os homens são caros. É 50 euros, oito horas por dia. É melhor deixar baldio”, acrescentou.
Já para Eduardo Gomes, o maior problema nem é este. “É a bicharada. Isto estava tudo plantado, até ao fundo da ribeira. Feijão, vimes, inhame, trigo e batata doce de fartura. Agora já não se pode plantar porque a bicharada come tudo”, continuou, apontando que, apesar das medidas de controlo e dos apoios, como a oferta de raticida, o pombo-torcaz, os ratos e os coelhos continuam a prejudicar as produções. A estes infortúnios, acrescentam ainda que a água de rega continua a ser motivo de desagrado. “Como há mais terreno em baldio e menos pessoal a trabalhar, devia haver mais água. Ao regar só de 12 em 12 dias, com o sol que dá, queima a cultura e quando vamos regar já está tudo ‘murchinho’ e já não dá resultado nenhum. Nem dá vontade de trabalhar. Devíamos regar de 8 em 8 dias, mas uma pessoa reclama e fazem ouvidos de mercador…”, apontou Lídia Abreu. “O poço tem água suficiente, mas não deixam”, continuou Lídio Rochinha.
De resto, o que falta é povo, apontam-nos. Mas “a vida melhorou, menos mal”, concluiu Eduardo Gomes.