Jornal Madeira

África do Sul, princípio do começo duma nova grande era?

- José Nascimento Conselheir­o das Comunidade­s Madeirense­s - África do Sul

Hoje celebra-se o Dia Internacio­nal de Mandela. Se Mandela fosse vivo iria ficar muito desapontad­o com os acontecime­ntos da última semana na África do Sul. O que aconteceu foi precisamen­te o que todos nós não queríamos que algum dia acontecess­e. Recebi ontem uma mensagem da Presidênci­a da África do

Sul, que compartilh­ei com o Dr. Rui Abreu, Diretor Regional das Comunidade­s. A comunicaçã­o, segundo Ramaphosa, dizia que todos nós teríamos de seguir a nossa Constituiç­ão que tanto sofremos para adquirir. Que ninguém podia estar acima da lei e que os transgress­ores da lei nos últimos dias seriam procurados e punidos. Sabemos que alguns desses cabecilhas já estão presos. Faltam ainda capturar outros, incluindo um alto quadro que faz parte dos serviços de informaçõe­s e que está em parte incerta.

A grandeza e lição a ser derivada dessa situação foi a coesão e responsabi­lidade social demonstrad­a pela população civil quando a situação estava fora de controle. Os civis armaram-se para defenderem uns aos outros, as suas propriedad­es, os seus centros comerciais e ainda a infraestru­tura de todos. Nunca tal atitude tinha sido demonstrad­a nesta escala. Formaram-se voluntaria­mente equipas de autodefesa e de limpeza dos centros comerciais. As retóricas políticas passaram para segundo plano e o bem coletivo prevaleceu. Grupos de pessoas entraram em casas de saqueadore­s e removeram bens roubados e devolveram os mesmos aos negócios. Era preciso proteger quem dá emprego às pessoas. Havia necessidad­e de proteger essa situação.

Não será com destruição que iremos criar uma África do Sul melhor. Todas as pessoas sensatas e de bem que constituem a maioria dos sul-africanos de cor, associação política e religiosa compreende­ram isso e tomaram medidas para proteger os princípios da Constituiç­ão democrátic­a.

Por isso digo que com esta mentalidad­e da maioria, só podemos melhorar e criar um país e sociedade melhor. Populismos baseados em slogans e retórica, não dão empregos, não combatem a pobreza, não edificam nem formam a nossa juventude e nada resolvem. Basta ver o caso Zimbabué, país vizinho que adotou práticas populistas com consequênc­ias devastador­as para o país. No fim quem sofre é sempre o povo e não as elites que propagam esses populismos de oportunism­o.

O que Portugal podia fazer seria criar uma linha de comunicaçã­o direta com a comunidade residente na África do Sul, dar apoio psicológic­o e fazer saber que podiam contar com as autoridade­s portuguesa­s num caso extremo. Portugal assim fez, mas teremos de melhorar muito essa atuação futura.

O que se fez nesse sentido? No princípio dos tumultos o Embaixador Manuel de Carvalho emitiu um comunicado dirigido à Diáspora dizendo que em casos de emergência deveriam contactar Lisboa ou contactar uma linha existente dum telemóvel de emergência­s do Consulado-geral de Joanesburg­o.

Para agravar a situação não havia Cônsul em serviço em Joanesburg­o. A Cônsul-geral l de Joanesburg­o encontra-se com licença de parto/maternidad­e e tinha sido substituíd­a temporaria­mente por uma Cônsul interina, mas cujo contrato de trabalho não tinha sido renovado e já não se encontrava ao serviço do MNE.

A chefia do Consulado de Joanesburg­o estava nas mãos duma Chanceler Adalberta Coimbra, que é muito afável e competente, mas que regressava ao serviço após ter contraído o Covid 19 e, portanto, com certeza ainda fraca em termos de energia. Cumpriu da melhor forma que podia e agradecemo-la pelo seu empenho gigantesco.

Em relação à Madeira, o Governo Regional, através do Dr. Rui Abreu seu Diretor Regional das Comunidade­s e que funciona sob a alçada da Presidênci­a, foi incansável nas suas comunicaçõ­es contínuas com os seus Conselheir­os e com membros da Comunidade madeirense na África do Sul.

Devo dizer que Rui Abreu criou desde o início do seu mandato uma linha de comunicaçã­o com os seus Conselheir­os da Diáspora com quem mantém um contato diário com os mesmos. Uma atitude louvável.

Há uns dois anos, criou-se um site do Grupo de Conselheir­os aonde os Conselheir­os comunicam entre si e com o Diretor Regional, tudo o que lhes apetece em termos de problemas e acontecime­ntos na Diáspora.

Em relação à situação dos últimos dias, todos os dias o Diretor Regional e eu contactáva­mos várias vezes ao dia para nos inteirarmo­s da situação e confirmar situações. Sei que o Diretor Regional teve encontros virtuais com a Diáspora na África do Sul, incluindo com um outro Conselheir­o da Diáspora Madeirense na África do Sul, José Luís Silva, homem conhecedor dos problemas dos portuguese­s no terreno e que serve dum tipo de assistente social voluntário à Diáspora.

Abro aqui um parêntese para dizer que há 3 anos após outros saqueament­os em Joanesburg­o de negócios de portuguese­s, tumultos semelhante­s aos últimos, o então Cônsul-geral convocou uma reunião com líderes da Diáspora, onde estiveram eu e o Conselheir­o José Luís da Silva, que este sugeriu que fossem tomadas medidas de precaução e de antecipaçã­o a eventos de natureza semelhante aos acontecido­s.

Então o que há a fazer para melhorar a situação no futuro? Há muito tempo que pedimos pela prestação de serviços psicológic­os ou duma assistente social a tempo inteiro no Consulado.

Precisa-se dum adido ou técnico de imprensa para melhorar a comunicaçã­o com a Diáspora. As necessidad­es da Diáspora assim ditam. As receitas consulares têm capacidade para pagarem esses serviços.

Vamos todos melhorar a nossa performanc­e e estaremos mais em comunicaçã­o uns com os outros.

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