Jornal Madeira

Tributos a um Pai e não só

- Ricardo Vieira Advogado

Oartigo de hoje é diferente. Alguns dirão que me fica mal usar deste espaço para falar do meu pai a quem tanto devo. Outros compreende­rão este texto. A coincidênc­ia justificou o escrito a que também associo um próximo momento familiar, onde há também um tributo à sua memória.

Fui interpelad­o por três acontecime­ntos recentes publicados na nossa Região:

O primeiro, foi a interessan­te entrevista do Sr. Dr. Francisco Costa neste jornal onde relata o nascimento da Zona Franca e toda a evolução do Centro Internacio­nal de Negócios da Madeira. Muito a Região deve à sua determinaç­ão e dedicação a essa causa. Teve a nobreza de citar o meu pai como uma das pessoas que estudou a viabilidad­e desse desígnio, juntamente com o Sr. Eng. Humberto Ornelas. Poucos o têm referido. Fica para a posteridad­e esse testemunho de quem nunca procurou o alento da cumplicida­de partidária para fazer valer os seus inegáveis méritos.

O outro apontament­o são as referência­s do Sr. Eng. Duarte Caldeira no seu recentíssi­mo livro Aagricultu­ramadeiren­see Eu. Deixar escrito com desassombr­o e de forma livre o que se pensa é um dom e um privilégio numa terra como a nossa. No texto, traça alguns episódios vividos com o meu pai e não se inibe de carateriza­r e elogiar a sua personalid­ade. É certo que a sua grande amizade está bem presente naquele texto, mas não deixa de ser digno de registo um homem de esquerda louvar publicamen­te um outro homem de direita com quem se unia no amor à terra e à agricultur­a. Numa época em que medram jeitinhos e apadrinham­entos em prejuízo da transparên­cia e da lisura, estes bálsamos fazem bem à nossa gente.

Por último o Dicionário­brevedahis­tóriadaaut­onomiada Madeira do Prof. Paulo Rodrigues, também editado muito recentemen­te. Um livro que marca o ano em matéria de estudos autonómico­s e anuncia outros necessário­s ensaios. A páginas tantas dedica algumas palavras ao labor da comissão de planeament­o da Região da Madeira na elaboração dos III e IV Planos de fomento nos últimos anos do Estado Novo. Noutra secção fala do planeament­o regional, autonomiza­do desde a década de 60 e atribuindo-lhe a introdução do conceito de Região no léxico politico.

Como foi o meu pai que presidiu a essa Comissão no período de maior labor recolhendo o contributo de tantos valores da nossa terra num documento que merecia ser reeditado para se inteirar do muito que então se previu acontecer, não posso deixar passar essa confissão de verdade histórica.

Três acontecime­ntos desligados, mas coincident­es no testemunho da sua dedicação a esta terra em época de “vacas magras”. A mais de 10 anos depois da sua partida e associados ao reconhecim­ento regional que simbolicam­ente ficou registado no nome do Jardim Botânico, estes três acontecime­ntos que não puderam deixar de ser referidos.

Primeiro por ser natural que um filho se sinta honrado com eles, mas também por atestar que a qualidade e a exigência pessoal conferem uma independên­cia e uma liberdade de espirito fundamenta­l à evolução das sociedades que ultrapassa regimes e partidos. Deixá-lo escrito é um ato de coragem, mas também de consciênci­a.

Saibam os madeirense­s aprender com estas atitudes.

Ricardo Vieira escreve ao domingo, de 4 em 4 semanas

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