As Selvagens: ilhas e ilhéus
A Reserva Natural das Ilhas Selvagens é constituída pela Selvagem Grande, onde se localiza a estação principal de apoio à área protegida, pela Selvagem Pequena, por uma série de ilhéus, sendo o principal o Ilhéu de Fora, e por toda a área marinha adjacente até à batimétrica dos 200 metros
A Selvagem Grande (245 hectares), de forma pentagonal, é caracterizada por uma zona planáltica que cai abruptamente sobre o mar em falésias vulcânicas resultantes da erosão. Este planalto eleva-se a cerca de 100 metros de altitude, e o ponto mais alto situa-se no Pico da Atalaia, a 163 metros, seguido do Pico dos Tornozelos, com 137 metros.
A Selvagem Pequena (20 hectares) apresenta forma irregular e perfil baixo, sendo quase totalmente coberta por areia calcária, de origem marinha. Atinge uma altitude máxima de 49 metros, no Pico do Veado, onde existe um Farol. O Ilhéu de Fora (8 hectares) é também coberto por areia calcária e atinge uma altitude máxima de 18 metros, no Pitão Pequeno.
Devido à localização geográfica, isolamento e condições de colonização muito difíceis, apresentam habitats bem conservados que são representativos e importantes para a conservação ‘in situ’ da biodiversidade macaronésica.
As Ilhas Selvagens possuem habitats únicos no mundo, com ecossistemas inalterados e em estado pristino que estão praticamente intocados, em especial na Selvagem Pequena e Ilhéu de Fora. Estas ilhas contêm a percentagem mais elevada de endemismos por unidade de superfície, de toda a Macaronésia.
A flora terrestre compreende cerca de 100 espécies das quais 11 são endémicas destas ilhas.
São as mais antigas ilhas da Região Autónoma da Madeira, tendo emergido durante o Oligocénico, há cerca de 28-29 milhões de anos. Distinguem-se ainda pela existência de fases de atividade magmática separadas por cerca de 26 milhões de anos (entre 29.5 e 3.4 milhões de anos atrás) e dois significativos intervalos entre episódios de atividade eruptiva (12 milhões de anos no caso do 1.º intervalo; 4.6 milhões no caso do
2.º intervalo) sendo estes excecionais na sua duração e únicos entre ilhas vulcânicas oceânicas. Ao nível do património cultural, ainda é possível encontrar vestígios da ocupação passada, como muros de pedra, uma velha cisterna e respetivas canalizações. para um panorama científico mais revelador do nosso território, neste caso, das ilhas Selvagens”, disse o governante. “A natureza não tem dono nem fronteiras e o trabalho em conjunto é mais eficiente e mais inteligente se partilharmos as experiências adquiridas”.
A expedição às Selvagens é uma parte importante do projeto financiado por fundos nacionais (Fct-fundação para a Ciência e Tecnologia) e que tem uma duração de três anos. “O principal objetivo deste projeto é investigar a diversidade e função das comunidades microbianas em espeleotemas nas Ilhas Selvagens, para entender quais os microrganismos que crescem nestes ecossistemas extremos e qual o seu papel na formação de minerais”, descreveu ao JM a investigadora Ana Zélia Miller, após dois dias nas Selvagens.
Os trabalhos de investigação decorrem até 30 de julho. No próximo fim de semana a expedição é reforçada com mais nove investigadores, incluindo o médico Francis Zino e um jornalista da National Geographic, que se juntam ao projeto Microceno, liderado pela investigadora da Universidade de Évora, Ana Zélia Miller.
Os geólogos Francesco Sauro (Universidade de Bolonha) e Matteo Massironi (Universidade de Pádua) estudarão a génese destas grutas e os seus minerais, com recurso a equipamento de ponta, nomeadamente um espectrómetro de fluorescência de raios-x portátil, um scanner laser portátil e drones, permitindo fazer o primeiro modelo tridimensional de alta resolução da Selvagem Grande.
A bioquímica Ana Teresa Caldeira ( Universidade de Aveiro) irá estudar a atividade antimicrobiana e enzimática das bactérias presentes nas grutas, temas de interesse particular para a indústria farmacêutica.
O estudo destes ambientes adquiriu hoje uma importância especial, dadas as alterações climáticas globais em curso. Assim, a reconstrução do paleo-clima de uma ilha com quase nenhuma intervenção humana, com recurso a técnicas moleculares e isotópicas, pode servir para compreender o impacto que estas alterações têm sobre a biodiversidade.
Para a deslocação às Selvagens, os membros da expedição utilizam o navio patrulha ‘Douro’ da Armada Portuguesa e duas embarcações privadas. Nas Selvagens, o grupo conta com o acompanhamento e apoio logístico do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza (IFCN).