O último adeus a Jorge Sampaio
As cerimónias fúnebres do antigo presidente foram marcadas por longos aplausos e homenagens sentidas. Marcelo Rebelo Sousa recordou o ex-governante como o herói que nunca o quis ser.
O país disse, ontem, o último adeus ao antigo presidente da República Jorge Sampaio, que morreu esta sexta-feira aos 81 anos, ao longo de uma manhã emotiva e marcada por discursos elogiosos do trabalho e personalidade do anterior chefe de Estado.
O dia da derradeira despedida do ex-governante iniciou-se com o cortejo fúnebre que partiu do Picadeiro Real, junto ao Palácio de Belém, até ao Mosteiro dos Jerónimos, para uma homenagem nacional, que reuniu cerca de 300 pessoas.
Com a urna já no centro dos claustros do Mosteiro, onde o corpo de Jorge Sampaio foi recebido pela família e mais altas figuras do Estado, ouviu-se a voz de anterior chefe de Estado no arranque deste tributo, através da reprodução de um excerto do seu discurso na tomada de posse em março de 1996 e de uma intervenção na CNN sobre Timor-leste, uma das causas a que dedicou parte da sua vida. A cerimónia de despedida ficou ainda marcada por diversos momentos musicais e intervenções, com especial destaque para as palavras dos filhos, Vera e André Sampaio, que recordaram o seu pai como “um homem bom”, que sabia que na vida e na política “nada se pode fazer sozinho”.
“O nosso pai era um homem bom, atento e disponível, para quem as pessoas contavam cima de tudo, não as pessoas em geral, mas cada pessoa com nome e rosto”, destacou a filha mais velha, lembrando que Jorge Sampaio “não gostava de arrogância” e “cultivava a amizade e a camaradagem”.
“Foi lutador e pacificador, sabia
Na última homenagem a Jorge Sampaio, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que o ex-governante "nunca que quis ser herói, mas foi". "Amou Portugal pela fragilidade e tantas vezes na fragilidade. Mais do que isso, fez dessa fragilidade, sua, nossa, de todos nós, força: sua, nossa, de todos nós", considerou o chefe de Estado.
Já o primeiro-ministro António Costa caracterizou o antigo presidente como “um exemplo de rigor ético, de sobriedade e honradez pessoal, de simpatia e empatia humana, de proximidade às pessoas, sobretudo às mais desfavorecidas, excluídas ou esquecidas”. A democracia portuguesa “pode e deve orgulhar-se por ter sido servida por um político maior como Jorge Sampaio e a República deve louvar-se por ter sido presidida por um cidadão exemplar como ele”, aditou.
Por fim, nesta sessão evocativa falou ainda Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, que recordou “o amigo” Jorge Sampaio, que “escolheu colocar as suas qualidades ao serviço de causas” e cujo exemplo “vai certamente perdurar e inspirar muitas gerações”.
ouvir e sabia decidir, valorizava a convergência, mas também os momentos de divergência, foi um homem justo, corajoso, mas sem medo de chorar, foi um homem
bom, um pai extraordinário”, afirmou André Sampaio, visivelmente emocionado, apontando ainda que o progenitor “foi estadista e simultaneamente cidadão comum, que foi amado sem gostar de ser venerado”.
Neste adeus marcaram presença personalidades como o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o Rei de Espanha Filipe VI, o primeiro-ministro de Cabo Verde, o presidente do parlamento de Timor-leste e os representantes de todos os Estados-membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa. A estas figuras juntaram-se ainda membros do Governo, líderes partidários, os dois ex-Presidentes da República, Cavaco Silva e Ramalho Eanes, e alguns ex-primeiros-ministros, como José Sócrates ou Pedro Passos Coelho, líderes partidários e deputados. No exterior, a homenagem foi acompanhada por centenas de pessoas através de um ecrã gigante.
Do Mosteiro dos Jerónimos, o cortejo fúnebre seguiu para a última paragem do ex-chefe de Estado. No cemitério do Alto de São João, Jorge Sampaio recebeu uma longa ovação de vários populares que ali se encontram, alguns dos quais com cravos vermelhos na mão. No fim da cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa entregou à família a bandeira portuguesa que cobriu a urna de Jorge Sampaio, que foi sepultado no jazigo da família numa cerimónia privada, reservada aos familiares, amigos e altas figuras próximas do anterior presidente.
Recorde-se que Jorge Sampaio, faleceu aos 81 anos no dia 10 de setembro no Hospital de Santa Cruz, em Oeiras, onde estava internado desde dia 27 de agosto, devido a dificuldades respiratórias, tendo o Governo decretado três dias de luto nacional.