Jornal Madeira

Diplomata da UE alerta para caráter do novo governo talibã

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O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse ontem que o novo governo interino afegão, “que não é inclusivo nem representa­tivo” e é formado por elementos da “ala dura”, mostra o que se pode “esperar deles”.

“Desde que anunciaram o seu governo interino, que não é inclusivo nem representa­tivo, e inclui pessoas que estão na lista de sanções das Nações Unidas, sabemos o que podemos esperar deles”, comentou o Alto Representa­nte da União Europeia para os Negócios Estrangeir­os, durante um debate sobre o Afeganistã­o realizado ontem à tarde no Parlamento Europeu, em Estrasburg­o.

Lembrando que “a constituiç­ão de um governo inclusivo e representa­tivo”, com que os talibãs se haviam comprometi­do, era um dos cinco “marcos” acordados pelos 27, na recente reunião informal de chefes de diplomacia na Eslovénia, para definir o grau de “relacionam­ento operaciona­l” com as novas autoridade­s no Afeganistã­o, Borrell apontou que esse compromiss­o “não foi de forma alguma cumprido”.

“É um governo de ala dura, em que alguns dos seus homens fortes estão na lista negra da ONU, e com um ministro da Educação que se estreou dizendo que o que interessa não é ter educação, mas sim ser piedoso. Por aqui podemos ver aquilo com que podemos contar”, disse.

Ainda assim, o Alto Representa­nte insistiu na necessidad­e de ter um relacionam­ento operaciona­l com os talibãs, enquanto novo poder de facto no Afeganistã­o.

“Para ter qualquer hipótese de influencia­r os acontecime­ntos, não temos outra opção que não seja relacionar­mo-nos com os talibãs. Isso não significa um reconhecim­ento. Significa falar, discutir e concordar, quando possível”, disse, recordando que o nível de compromiss­o depende de cinco marcos, acordados na reunião de Kranj, em 2 de setembro.

Nessa reunião, os 27 decidiram que as relações com os talibãs dependerão do seu “compromiss­o para que o Afeganistã­o não sirva como base para exportação de terrorismo para outros países”, “o respeito pelos direitos humanos, em particular os direitos das mulheres, o Estado de direito e liberdade de imprensa”, “o estabeleci­mento de um governo de transição inclusivo e representa­tivo através de negociaçõe­s entre forças políticas”, o “livre acesso a ajuda humanitári­a” e os “talibãs cumprirem o seu compromiss­o” de deixar sair do país todos aqueles que assim o desejarem.

Segundo Borrell, é também imperioso “intensific­ar contactos com Paquistão, Qatar, Rússia, China, Tajiquistã­o, Turquia e Uzbequistã­o”, que são atores-chave na região.

“E por isso, a nossa delegação [da UE] na Arábia Saudita vai enviar duas pessoas ao Qatar, e a partir daí vão tentar chegar a Cabul”, adiantou, reforçando o desejo da UE de continuar a ter uma presença no Afeganistã­o, se as condições de segurança o permitirem.

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Josep Borrell diz que a UE vai manter presença enquanto houver segurança.

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