“Pobreza não tem cor política, é uma questão de humanidade”
O presidente da Rede Europeia Anti-pobreza apela à convergência de toda a sociedade civil.
O padre Agostinho Jardim Moreira lembrou ontem, na apresentação do Diagnóstico Social do Funchal, realizada nos Paços do Concelho, que são necessárias “cinco gerações” para uma família sair da pobreza e que este fenómeno “não é uma opção”, mas sim “uma injustiça”.
O presidente da Rede Europeia Anti-pobreza defende que a pobreza “ultrapassa ideologias” e que se impõe uma convergência de toda a sociedade civil. A pobreza não tem cor política, é uma questão de humanidade”, afirmou.
Num momento em que os partidos estão a disputar as eleições autárquicas, lembrou o dia em que foi à Assembleia da República e pediu aos deputados para recolherem as bandeiras e trabalharem em prol dos mais necessitados, numa ocasião em que, segundo disse, não conseguiu pô-los em convergência.
Tendo ao lado o presidente da Câmara do Funchal (candidato ao lugar nas próximas eleições), Jardim Moreira partilhou com os presentes uma conversa que teve com um outro edil, em São Vicente, em que este lhe dizia que tinham arranjado casa para uma idosa e que quando voltaram ao local, uns tempos depois, já estava tudo como dantes. Isto para dizer que “não basta dar casa”, que é também preciso “saber viver”.
De igual modo, entende que não basta dar comida e que a alimentação correta é importante para a promoção da saúde, uma regra para todos, e especialmente para as populações mais vulneráveis, com fracos recursos para médicos e medicamentos.
No que respeita à saúde, nomeadamente no domínio da saúde mental das pessoas em causa, frisou que a atual ministra tem ideias coincidentes com as dele. Relativamente à parte da educação e da cidadania, o padre (que é pároco há 52 anos, no Porto) disse que espera um convite, desde 1991, para ir às escolas falar sobre as questões que explicam a pobreza.
Partindo do pressuposto de que “a falsa política não interessa”, e a propósito do diagnóstico ontem apresentado, diz que este tipo de estudo “é fundamental” porque a “pobreza tem explicações científicas”.
Miguel Silva Gouveia, que marcou presença no início da sessão, disse que o estudo foi apoiado pela autarquia numa lógica de verificar, corroborar a política feita e melhorar as respostas sociais.
Destacou a área da habitação, em que, segundo disse aos jornalistas à margem da apresentação, é uma questão que afeta duas mil famílias, que apesar de terem trabalho fixo não conseguem suportar rendas na ordem dos 700 euros. Haverá 2.000 famílias, segundo disse, que têm necessidade premente de habitação social. A pensar num próximo mandato, espera, com a colaboração dos proprietários, colocar alguns dos prédios devolutos existentes na cidade no mercado do arrendamento.