Metade do coração luso, metade venezuelano
“A cada dois anos venho cá à Madeira, aproveito para visitar o meu pai. Confesso, quando venho aqui sinto uma divisão, estou aqui, gosto desta tranquilidade, desta qualidade de vida, posso tomar um café às 21h00 ou 22 horas, sentimos segurança, a qualidade de vida é extraordinária”, descreve, visivelmente agradado com o que sente sempre que está de regresso à sua ilha.
“É a minha pátria, nasci aqui, mas também confesso, sinto falta do barulho, o corre-corre, estar a dormir e receber uma chamada para assistir alguém. Isso faz-me falta, faz parte da minha vida. Vou regressar à Venezuela dentro de 15 dias, e já estou um pouco nostálgico, nem que seja pela falta desta terra”.
Mas há algo que “dói” no coração deste médico neste regresso a terras de Simón Bolívar.
“Uma coisa que me dói, agora que vou regressar à Venezuela, é ver uma mulher, com crianças no lixo a ir buscar comida. Conheço um senhor em Los Teques que tem uma frutaria e as pessoas esperam que ele feche o negócio para irem buscar comida e aproveitarem a fruta para levar para casa. Isto é o que se vê lá agora”, descreve.
Para José Gomes Pereia, “existem duas ‘Venezuelas’”. “Pode chegar à Venezuela e, após a visita, dizerme que não vê. Mas vai a outra Venezuela e vê as pessoas que trabalham de forma direta ou indireta para o Governo e que têm aqueles negócios, aqueles tremendos carros”. “Onde está a fome, a necessidade? É incongruente, temos duas ‘Venezuelas’”, conclui.