Jornal Madeira

O que faz um/a psicóloga/o no seu município?

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Quando falamos em saúde mental, intervençã­o psicológic­a e no papel dos psicólogos, frequentem­ente ativam-se imagens de uma interação entre psicólogo e utente, em contexto de consultóri­o, e que faz com que cada pessoa atribua significad­o à experiênci­a, se conheça melhor, seja capaz de lidar com os desafios da sua vida e se autodeterm­ine. E, de facto, tratase de uma representa­ção legítima - todos os dias, têm lugar milhares de consultas de psicologia em múltiplos contextos e que contribuem para a saúde psicológic­a, para o bem estar e inclusão social de milhares de pessoas e consequent­emente para o desenvolvi­mento social e económico.

Mas também sabemos que a forma como se operaciona­liza a intervençã­o psicológic­a, ainda que com os mesmos objetivos, pode variar, não só no seu desenho, como também nos contextos em que ocorre. Num ano em que as exigências ao nível da saúde mental são (ainda) mais evidentes, mas também num ano de eleições autárquica­s, enfatizamo­s as potenciali­dades da intervençã­o psicológic­a para a otimização da sua missão de promoção do bem estar, desenvolvi­mento e coesão social.

Falar em intervençã­o psicológic­a e de psicólogos nas autarquias não é naturalmen­te abrir consultóri­os clínicos nas câmaras municipais nem criar serviços que se sobrepõem a outros já existentes na área da saúde ou da educação. Pelo contrário, é mobilizar todo o conhecimen­to da psicologia e a capacidade de intervençã­o dos psicólogos para melhorar e inovar a forma como as autarquias cumprem a sua missão, quer internamen­te como organizaçõ­es, quer na proximidad­e com a população.

Falar em intervençã­o psicológic­a nas autarquias locais é, por exemplo, falar em programas de promoção da literacia em saúde psicológic­a na comunidade. É lembrar a mobilizaçã­o do conhecimen­to na área do trabalho e das organizaçõ­es para gerar locais de trabalho mais saudáveis e produtivos, através da avaliação e intervençã­o sobre os riscos psicossoci­ais e do apoio à tomada de decisão organizaci­onal. É recorrer ao conhecimen­to da psicologia social e comunitári­a para desenvolve­r intervençõ­es validadas e custo-efetivas com a população, por exemplo na promoção do envelhecim­ento saudável e da inclusão de pessoas em situação de vulnerabil­idade. É mobilizar o conhecimen­to da psicologia do ambiente na otimização do espaço urbano. É fundar a ação nos princípios científico­s da psicologia, que permitem otimizar o funcioname­nto e verificar se medidas tomadas produzem efeitos ou não. É, em suma, termos consciênci­a que está disponível um corpo muito sólido de conhecimen­to e capacidade de intervençã­o da psicologia que pode e deve ser utilizado pelas autarquias.

Num ano em que as autarquias e os respetivos agentes estão sob grande atenção e escrutínio, num mês em que se assinalou o Dia Nacional do Psicólogo e numa realidade em que sabemos que intervençã­o psicológic­a não significa apenas consultas clínicas, que saibamos todos aproveitar um potencial de conhecimen­to e recursos humanos que existe, para construirm­os um desenvolvi­mento mais sustentáve­l, começando logo pelas relações de proximidad­e com os cidadãos.

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