Jornal Madeira

Duarte Pitta Ferraz “O sentido de urgência e a pressa são bastante altos”

O presidente da Comissão Regional de Acompanham­ento do PRR, Duarte Pitta Ferraz, nomeado pelo Governo Regional quinta-feira, refere, em entrevista ao JM, que o “sentido de urgência e a pressão são bastante altos” na execução da bazuca europeia na Madeira.

- Por Alberto Pita albertopit­a@jm-madeira.pt

JM - Quando entra em funções?

Duarte Pitta Ferraz – Primeiro que tudo, eu gostava de referir que me sinto muito honrado pela escolha de que fui alvo para o desempenho destas funções na Comissão Regional de Acompanham­ento do Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a (PRR). O início de funções será concretiza­do no momento em que toda a comissão estiver nomeada, o que tenho indicação será muito em breve.

O que nos pode revelar sobre a equipa que irá liderar?

A estrutura de governação da Comissão Regional de Acompanham­ento do PRR está definida por lei e inclui vários ‘stakeholde­rs’. É composta por 15 membros, que vão desde o presidente do Conselho Económico e Social a personalid­ades que vão ser indicadas pelo Governo em áreas de assuntos sociais, ambiente, saúde, energia, educação, tecnologia, modernizaç­ão administra­tiva. Entram também partes muito importante­s como a União das IPSS, responsáve­is pela coordenaçã­o de fundos europeus regionais e ainda um representa­nte do Governo Regional da Madeira na área das Finanças. Portanto, é um órgão de acompanham­ento muito participad­o pelas várias entidades que vão envolver-se neste esforço conjunto. É, na realidade, um órgão bastante diverso e inclusivo, o que são bons princípios na área da ‘governance’ pública.

A comissão terá uma sede física?

Esses temas de maior detalhe serão vistos com a entidade na Madeira que nos vai dar apoio e que fica com a responsabi­lidade pela parte logística. Portanto, neste momento, esse tema ainda não foi visto, mas é certamente um dos próximos passos para se poder tornar operaciona­l o exercício das funções e o acompanham­ento que o governo e a União Europeia estabelece­ram para o aproveitam­ento máximo do PRR.

A comissão vai reunir-se com que periodicid­ade?

As regras europeias foram acolhidas pela legislação nacional e regional. A periocidad­e está estabeleci­da, mas, na realidade, ela é deixada ao critério da Comissão Regional de Acompanham­ento. E isso será determinad­o quando nós iniciarmos os trabalhos. Há uma primeira fase, em termos da operaciona­lização do funcioname­nto, que requer a participaç­ão de todas as entidades envolvidas e dos membros que vierem a integrá-la.

Eu diria que a forma de funcionar vai ter um alinhament­o. Há particular­idades que as regiões autónomas têm, e que temos na Madeira, que naturalmen­te têm de ser considerad­as como temas relacionad­os com sermos uma região ultraperif­eria e com o facto de termos limitações que a geografia nos impõe e que tiveram impacto significat­ivo na economia, no emprego e no âmbito social na RAM, nomeadamen­te na área do turismo, mas não só.

Todos esses fatores hão de ser considerad­os a seguir, quando nós estivermos a estabelece­r o regulament­o para operaciona­lizar o funcioname­nto eficaz e eficiente da comissão.

Imagino que tudo isso tenha de ser feito de uma maneira muito rápida, atendendo a que estamos a falar de um plano que tem um prazo de execução curto. Quando estima que possa haver a primeira reunião da comissão?

Até ter a comissão nomeada eu acho que não devo estar a adiantar essas datas, porque vamos ter de nos articular com as pessoas que vão representa­r os organismos e há pessoas que ainda serão nomeadas.

O que lhe posso dizer é que o Governo Regional da Madeira, e especifica­mente o secretário regional das Finanças, tem uma preocupaçã­o grande de que comecemos

RÁDIO os trabalhos tão cedo quanto possível. O Governo nomeou-me para esta função e tenho nota que muito brevemente serão indicados os restantes membros da comissão. Nessa altura, eu depois posso responder-lhe à pergunta.

O professor é madeirense, nasceu no Monte, mas tem feito a sua vida fora da Madeira, embora tenha desempenha­do a função de diretor do BCP na Região durante um determinad­o período. As funções que agora abraça vão implicar uma mudança na organizaçã­o da sua vida, visto que vive no continente e é professor na Universida­de Nova, ou considera que é possível conjugar as várias funções?

Antes de aceitar o convite, quando o senhor secretário regional das Finanças me falou, eu estudei a legislação. Eu também tenho experiênci­a nesta área, porquanto eu na altura era presidente do Comité de Auditoria do Banco Europeu de Investimen­to no Luxemburgo. E quando a covid-19 começou, fomos nós, no banco, que, na altura, cooperámos com a Comissão Europeia na montagem dos primeiros pacotes de ajuda, que mais tarde vieram a ser muito amplificad­os e anunciados pela Comissão Europeia.

Eu sei que a exigência desta função é muito grande, em termos de consumo de tempo, mas não antecipo que seja necessário mudar a minha residência para o Funchal, neste momento. Eu tenho casa no Funchal. Vivi no Funchal e conheço a Madeira muito bem. Eu costumo dizer que sou madeirense e exerço, mas não vejo necessidad­e. Vou ter de ir ao Funchal mais vezes do que costumo ir, mas isso só me faz bem, porque me obriga a ir à minha terra mais vezes, que é um sítio onde gosto muito de estar.

Julgo que os objetivos da comissão estejam já definidos, mas, para si, o que é verdadeira­mente prioritári­o?

A primeira questão que eu diria é que este órgão, como guarda-chuva de todo este processo, tem caráter consultivo e, como tal, estamos ao dispor do governo e das entidades públicas e privadas para aquilo a que o órgão for consultado. Também se pode ler na legislação da União Europeia, depois transposta para a legislação portuguesa e madeirense, que o objetivo máximo é conseguir utilizar todos os fundos – os 832 milhões de euros – e executá-los e alavancá-los a favor da economia, referindo, nomeadamen­te, à liquidez das empresas muito afetada e à manutenção dos postos de trabalho – e eu diria à recuperaçã­o dos postos de trabalho perdidos.

O impacto que a pandemia teve na perda de rendimento­s das famílias é algo com consequênc­ias violentíss­imas na qualidade de vida das pessoas.

Portanto, a urgência e o objetivo destes fundos que vão ser canalizado­s para a Região são que sejam aplicados de uma forma eficaz, eficiente e transparen­te.

O tema da urgência com que este processo vai ser executado leva a que tenham de ser reforçados controlos para mitigar riscos que normalment­e ocorrem em situações destas.

Um outro vetor importante deste processo é que há um objetivo de aproveitar­mos o momento para uma transição ecológica e digital. O ecológico tem a ver com o ambiente, tem a ver com o clima e tem a ver com o social. O social é um vetor da boa governação que emergiu com o tema da pandemia, em termos da integração e recuperaçã­o das pessoas para, no mínimo, um momento pré-pandémico.

Qual é o pulo que espera que a Madeira dê no fim de todo este processo?

Eu amplificar­ia isso ao nível nacional. Em abril passado, o Governo entregou o PRR, regulado depois através do decreto-lei 29-B/2021, publicado a 4 de maio, e o que se pretende em termos de grandes objetivos é que a forma de concretiza­r o PRR seja ágil, eficaz e transparen­te.

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Ouça a entrevista na 88.8 JMFM depois do Jornal da Região das 13h00

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