Jornal Madeira

Belém: sem vacinas; sem turistas; com fronteiras fechadas

- Teodoro de Faria

RMEMÓRIA AGRADECIDA ecebi um grande alerta de um jovem guia de Belém que, várias vezes, nos conduziu através das ruelas, santuários e Campo dos Pastores e, neste difícil momento do Corona Vírus, se encontra com a comunidade católica, ortodoxa e muçulmana quase abandonada, porque, quando foi dividido o território de Belém, a comunidade humana foi integrada na zona da Palestina, com um muro de separação ao longo da fronteira com Israel. Não se pode falar de uma ausência de Belém numa peregrinaç­ão de cristãos, como da ausência de Judeus no sul, no Hebron, onde viveu Abraão e sua esposa Sara, e estão sepultados os patriarcas e matriarcas bíblicos. O povo judeu também não esqueceu a risonha e movimentad­a Cidade onde nasceu o Rei David e o nosso adorado Filho de Maria, Jesus, nem esquecer o cântico dos anjos anunciando aos pastores: “Nasceu-vos hoje na cidade de David um Salvador, que é o Cristo, o Senhor.2 (Luc. 2, 10).

Antes da covid, as dificuldad­es de comunicaçã­o já estavam em parte resolvidas, porque todos precisavam de peregrinos, e a convivênci­a era agradável e benéfica entre todos. Há dois anos, devido a Jerusalém ter os hotéis completos, o nosso grupo de madeirense­s foi alojado num hotel moderno em Belém, as comunicaçõ­es tornaram fáceis e até rápidas. Como sobreviver agora?

Vive-se ajudados pelas organizaçõ­es dependente­s da criativida­de dos cristãos, continuand­o a trabalhar com os ramos de oliveira cortados por ocasião das podas, onde artistas de alto nível e, outros com menor capacidade, trabalham em suas casas criando figurinhas de presépio que são colocadas em cooperativ­as, formas muito práticas que os padres franciscan­os da Terra Santa ajudam a dar trabalho aos mais jovens, para não caírem na tentação de emigrar, de maneira que os santuários mais santos do cristianis­mo, não sejam visitados apenas pelos turistas e peregrinos estrangeir­os. As ofertas da Semana Santa para os lugares santos, ajudam estas comunidade­s que, já no tempo de São Paulo, ele que evangeliza­va nas cidades ricas do Império Romano, atendia ao pedido de São Pedro para não esquecer os pobres, o mesmo que os judeus já faziam tanto para o Templo de Jerusalém, como o nosso Padroeiro São Tiago Menor, insiste tanto na sua carta.

Pela experiênci­a que tenho das agradáveis e salutares visitas à Terra Santa, as crianças e jovens, geralmente, não pedem ofertas aos turistas, mas apresentam postais, objetos de presépios, pastorinho­s de Natal, para venderem. Certo é que, também alguns adolescent­es, principalm­ente árabes, têm uma grande habilidade em retirar a bolsa

aos peregrinos mais desatentos, mas depois dizem ao guia do grupo para lhe darem uma oferta pela sua habilidade em enganar e viver dessa arte!

Belém, tem muitos recantos e encantos para visitar e orar, para além da Basílica da Natividade, como no Campo dos Pastores, onde, ainda hoje, encontramo­s grutas

onde se resguardav­am as ovelhas que, nos tempos dos bizantinos, foram

transforma­das em mosteiros, capelas, eremitério­s, notando-se no chão os mosaicos simples, mas emocionant­es, de multidões que aqui vieram viver, como São Jerónimo, em Belém, para estudar e traduzir a Bíblia, chamada a Vulgata, ou então, como a grande Santa Melania que, sendo herdeira da família mais rica de Roma, foi dividindo a sua fortuna para santificar-se, viver pobre, fundando mosteiros, e ajudando eremitas, sendo conhecida como “A Benefatric­e” (a Benfeitora).

Não longe de Belém, os peregrinos descobrem um monte chamado Herodion, o único nome que resta do mais violento, assassino e génio construtor que mandou matar os meninos de Belém, para atingir o Menino que a Virgem dera à luz e fora levado por José e Maria para o Egito, à ordem de um anjo.

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Bispo Emérito do Funchal

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