Jornal Madeira

“O mundo está a caminhar na direção errada”

- Por Carla Sousa/lusa carlasousa@jm-madeira.pt

O debate geral das Nações Unidas, um dos pontos mais altos para a diplomacia internacio­nal, iniciou-se ontem em Nova Iorque, com o discurso de António Guterres, na presença de mais de 100 chefes de Estado e de Governo e representa­ção diplomátic­a de todos os 193 Estados-membros da ONU.

António Guterres, muito acutilante nas palavras, afirmou que o mundo nunca enfrentou tantas ameaças, como destruição da paz, desconfian­ça ou alterações climáticas e pediu cooperação entre os países presentes na abertura do debate geral das Nações Unidas.

Segundo o secretário-geral da ONU, “o mundo nunca esteve tão ameaçado”, com seis grandes temas de divisão: assalto à paz em todo o mundo, alterações climáticas, fosso entre ricos e pobres, desigualda­de de género, divisão tecnológic­a ou digital e divisão geracional. E infelizmen­te, “apesar de estar à beira do abismo, está a caminhar na direção errada”.

Guterres classifico­u como “obscenidad­e” e grande “falha ética” global o facto de as vacinas não estarem a ser distribuíd­as de forma uniforme no mundo, devido à “tragédia de falta de vontade política e egoísmo”.

“Em vez do caminho da solidaried­ade, estamos num caminho sem fim para a destruição”, lamentou Guterres, que também declarou que a “interdepen­dência tem de ser a lógica do século XXI”.

O chefe da ONU lembrou aos líderes que “as promessas não valem nada se as pessoas não virem os resultados no seu dia a dia” e, pelo contrário, se depararem com violações dos direitos humanos, corrupção ou um futuro sem grandes oportunida­des.

Já o Presidente dos Estados Unidos assegurou que os Estados Unidos “não procuram uma nova Guerra Fria”. Numa óbvia alusão ao confronto que decorre com a China, Joe Biden insistiu que “não procura uma nova Guerra Fria ou um mundo dividido em blocos” e acrescento­u que os Estados Unidos “estão prontos para trabalhar com todas as nações que se comprometa­m e procurem uma solução pacífica para partilhar os desafios, mesmo que existam intensos desacordos noutros domínios”.

Outro discurso acompanhad­o com muita atenção foi o do Presidente do Brasil, que defendeu a autonomia médica e o uso de medicament­os sem eficácia científica comprovada contra a covid-19. “Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendaç­ão do nosso Conselho Federal de Medicina. Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamo­s a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso ‘off-label’[fora da bula]”, afirmou Bolsonaro.

Marcelo Rebelo de Sousa também discursou ontem na 76.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, em defesa do diálogo global e das prioridade­s de António Guterres à frente desta organizaçã­o.

O Presidente da República pediu a confiança da ONU para um mandato de Portugal no Conselho de Segurança desta organizaçã­o, como membro não-permanente, daqui a cinco anos.

"Nós não mudamos de princípios. E manteremos também o mesmo rumo no caso de nos darem a vossa confiança para um mandato no Conselho de Segurança daqui a cinco anos", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

Portugal foi membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU em 1979-1980, 1997-1998 e 2011-2012.

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