Jornal Madeira

Vícios e virtudes

- Sancho Gonçalves Gomes

Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,

Há sem dúvida quem não queira nada (…)

Porque eu amo infinitame­nte o finito,

Porque eu desejo impossivel­mente o possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser...

No fim de mais uma campanha eleitoral, peço emprestado a Álvaro de Campos o título do poema que introduz este artigo: “o que há em mim é sobretudo cansaço”. Não, não pensem que com isto vou aqui zurzir nos políticos, nas atividades de campanha ou nos partidos. De facto, sinto é profundo cansaço daqueles que nunca saíram do conforto proporcion­ado pelo sofá ou pela facilidade da crítica escondida atrás dos ecrãs e que passam a vida a injuriar quem ousa dar a cara, quem se atreve a bater-se por um projeto ou por uma ideologia, quem, com lealdade, se mantém ao lado dos seus companheir­os, em busca de uma sociedade melhor, com mais riqueza, com maior desenvolvi­mento, com melhor justiça e equidade. Quem, carregando sonhos e ambições coletivas, acredita que é possível uma cidade com maior coesão social, mais resiliente e sustentáve­l, com oportunida­des para todos e onde ninguém fica de fora. Refutam-me: “isso é o que nós queremos”. Muito bem! Será verdade, com certeza. Mas a esmagadora maioria faz pouco para que isso aconteça.

Tenho ouvido muitas pessoas criticarem a qualidade política, ética e intelectua­l de vários candidatos, especialme­nte em relação àqueles que provêm dos partidos mais pequenos. Já o escrevi: muitos destes partidos estão, de facto, pejados de políticos de inferior qualidade, mal-preparados e sem competênci­a política. São muitos os que querem replicar o Tiririca ou, à nossa dimensão, o Coelho. Todavia, é preciso que se perceba que uma Região com 250 mil habitantes não tem massa crítica para tantos lugares que se apresentam a eleições. Não é fácil encontrar 100, quanto mais 200, 300, 400 políticos de elevada craveira, com vontade e disponibil­idade para intervir. O problema, porventura, não estará tanto nos partidos políticos, mas no sistema, que exige e dispõe de tantos lugares. E esta é uma reflexão que, mais tarde ou mais cedo, coletivame­nte teremos de fazer.

Também estou cansado daqueles que menorizam as eleições e as suas campanhas eleitorais: em democracia, as eleições são a oportunida­de dos cidadãos se fazerem ouvir. Assim, ridiculari­zar o processo eleitoral é revelar desprezo pela democracia. Não podemos nem temos o direito de andar sempre a criticar todos aqueles que dão parte do seu tempo, por vezes escasso, e se entregam à causa pública, emprestand­o o que de melhor possam ter para o debate de ideias, criando projetos e programas polí

ticos, para benefício de todos. A cobardia e a preguiça são vícios que não se querem na vida pública!

Nestas eleições, são estes os candidatos que temos. Os motivos que levam à indicação de candidatos, por parte das organizaçõ­es políticas, são díspares, sendo esmagadora­mente conjuntura­is: reconhecim­ento social; equilíbrio de poderes; interesses e objetivos estrutural­mente partidário­s; identifica­ção em termos ideológico­s; submissão aos líderes, etc. São, de facto, muitos, distintos, e nem sempre conciliáve­is ou transportá­veis de partido para partido, de eleição para eleição. Todavia, há exigências que nós, eleitores, também temos de fazer: se é certo que Ética e Política não se podem confundir, não é menos certo de que não podem estar dissociada­s. Qualidades como honestidad­e, honra, verticalid­ade, integridad­e, dignidade, seriedade, respeito são fundamenta­is à atividade política e ao “homem público”. Todos temos defeitos, mas o político tem o dever de combater os seus vícios privados, para que não maculem a sua atividade pública.

Temos de ser criterioso­s e exigentes. E se o meu caro leitor crê que algum candidato não é digno, não está habilitado, não revela competênci­a, se o senhor ou a senhora que fazem o favor de me ler, convictame­nte, se julgar melhor preparado, pois bem, venha a terreno e exponha as suas ideias e os seus projetos.

Dito isto, no próximo domingo, para o Funchal, estou em crer que é tempo de sair desta estagnação e apatia a que a cidade está votada.

Como ter confiança em quem em 8 anos não foi capaz de resolver um único problema da cidade, antes agudizando aqueles que já existiam e que prometeram combater? Como, sequer, ousam falar em confiança? A nossa cidade “querida” é esta que temos? Ou temos o direito a sonhar com mais?

Porque a minha cidade querida é muito mais do que aquilo que nos devolvem, ao abandono a que nos votaram, convictame­nte sei qual é a resposta. Porque não me resigno e porque a cidade que eu quero para a minha filha, para a sua filha, para as filhas de todos nós e para todos os meus concidadão­s funchalens­es é mais -, é muito mais! - no dia 26 colocarei, de facto, o Funchal sempre à Frente!

Sancho Gonçalves Gomes escreve à sexta-feira, de 4 em 4 semanas

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