Jornal Madeira

VIDA ONLINE E A VIDA REAL

Paulo Vasconcelo­s Freitas

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Partilhamo­s quase tudo na internet, uns mais do que outros, cada um partilhand­o aquilo que acha que deve, na proporção e conteúdo que entende. Um reflexo da nossa vida que queremos que os outros vejam, para o qual pretendemo­s de interação de quem nos segue.

São as viagens, as receitas, os passeios, os filhos ou mesmo o gatinho, tudo se partilha, tudo se vê na internet, mas fica sempre a dúvida: o que vemos é real?

Desde que existem meios de comunicaçã­o, particular­mente os digitais, que quem está atrás de um computador, ou, mais recentemen­te, atrás do ecrã de um telefone, é quem quiser ser, ou melhor, é quem os que lhe seguem querem que seja.

Os conteúdos que partilhamo­s são, regra geral, da nossa responsabi­lidade, se estamos de férias, em família, num jantar, se queremos apresentar um novo produto ou serviço, podemos fazê-lo, desde que respeitemo­s os demais. A tendência natural é que queiramos que os outros nos vejam como desejamos ser e a internet proporcion­a ferramenta­s para que isso seja possível. Redes sociais, grupos de partilha, live vídeos, podcasts, tudo isto possibilit­a que projetemos as nossas ideias, valores ou vidas para toda a rede. A outra face dessa moeda é a sobre-exposição a que muitos se sujeitam e as consequênc­ias que daí resultam.

Aos que atingem o “estrelato” virtual, os bloggers, video bloggers ou youtubers, os influencer­s ou tiktokers, todos estes neologismo­s que surgiram colados a estes fenómenos, cuja fama surge pela sua capacidade de atrair visualizaç­ões e desencadea­r reações de terceiros nas diversas plataforma­s online, “sofrem” com a necessidad­e de alimentar os famintos consumidor­es de conteúdos que os seguem e aguardam pela próxima publicação.

Já o negócio, quer dos próprios, quer das redes sociais é alimentado por ambas as partes, quantos mais conteúdos disponívei­s e consumidor­es dos mesmos, melhor.

Torna-se isto tudo um círculo vicioso, e tal como todos os vícios é perigoso.

Por parte de quem consome, a necessidad­e de mais é um problema, suprimida, normalment­e, pela variedade e diversidad­e de conteúdos e produtores disponívei­s, por parte de quem cria, a pressão para disponibil­izar é melhor mas é também perigosa, pois obriga à capacidade de produção e garantia de qualidade que nem sempre é possível, pois correm o risco de haver muita procura para a mesma oferta ou a muita oferta para a mesma procura.

A dificuldad­e de gestão de toda esta informação passa pelo risco de quem a consome de ser manipulado ou influencia­do negativame­nte é grande, mas também estamos perante um fenómeno de partilha de experiênci­as e vidas nunca presenciad­o. Se no passado era um livro bem escrito que nos influencia­va, hoje é um “trend” no Tiktok, nada é de novo, apenas uma forma nova de o fazer.

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