O turismo e a covid-19
Como investigador na área científica do turismo há 20 anos, no Dia Mundial do Turismo, não poderia deixar de refletir sobre um setor que em 2019 apresentou o maior volume de negócios a nível mundial e permitiu a chegada de 1,5 biliões de pessoas aos vários destinos turísticos.
A Organização Mundial de Turismo (OMT) determinou para o ano 2021 que o turismo permitisse o crescimento inclusivo, assim como alertou os responsáveis políticos internacionais para reconhecerem que a situação que o mundo atravessa “é uma oportunidade de olhar para além das estatísticas do turismo e reconhecer que por detrás de cada número existe uma pessoa”. Esta frase evidencia que as pessoas que dependem do turismo estão a passar por muitas dificuldades económicas e sociais e que é urgente uma maior solidariedade dos países do Norte (ricos) em relação aos países do
Sul (pobres).
O novo coronavírus SARS-COV-2 provocou quebras muito significativas nos fluxos turísticos nacionais e internacionais, atingindo as empresas ligadas direta ou indiretamente ao setor, assim como a milhões de trabalhadores que dependem do turismo.
Segundo a ONU, em 2020, a covid-19 destruiu as chegadas dos turistas aos vários destinos, atingindo níveis de 1990, com redução de 72% nos primeiros 10 meses, devido às restrições de viagens, pouca confiança do consumidor e também ao combate global para conter o vírus, sendo o pior ano da história do setor a nível mundial.
Em relação à pandemia de covid-19, o Papa Francisco tem apelado a toda a família humana porque «não podemos regressar às falsas seguranças das estruturas políticas e económicas que tínhamos antes da crise”. Toda a humanidade necessita de sistemas económicos que proporcione a todos ter acesso às necessidades básicas da vida: terra, casa e trabalho, indo de encontro ao crescimento inclusivo, em que todos devem ser considerados em qualquer modelo de desenvolvimento, mesmo que nos países em que o turismo é o setor de atividade principal e o “motor” desse desenvolvimento, ofereça melhor qualidade de vida a toda a população e emprego.
A referência ao turismo como fator de desenvolvimento e da globalização, baseia-se em evidências de eficácia do setor, como processo de criação de emprego e de enorme potencial económico, social e cultural, principalmente nos territórios que têm potencialidades para dinamizar este setor multifacetado. O turismo global é, na verdade, uma consequência de fatores locais, nacionais e ações regionais, sendo um importante instrumento para todos os governos no sentido de poderem eliminar a pobreza e aumentar o emprego e o crescimento económico, através da promoção dos destinos, salvaguardando os recursos - turismo sustentável.
Apesar da covid-19 ter afetado todos os países do mundo e provocado enormes dificuldades aos povos mais vulneráveis dos países do Sul, as vacinas foram fundamentais não só para travar o número de mortes, como também proporcionar às pessoas que completaram o processo de vacinação, acreditarem no futuro e, por conseguinte, poderem ainda, concretizar os seus sonhos.
A Madeira como região turística de excelência, também foi afetada pelo SARS-COV-2, em que quase todos os hotéis estiveram encerrados durante vários meses e muitas famílias passaram e ainda passam por dificuldades. No entanto, devido à boa intervenção dos governantes e colaboração dos madeirenses, o turismo está a recuperar progressivamente e, nos próximos meses, estou convicto que o setor voltará a apresentar indicadores idênticos ao ano de 2019.
A pandemia também veio demonstrar que nenhuma região deve apostar fortemente só num setor de atividade e por essa razão, urge elaborar um novo modelo de desenvolvimento para a Madeira, apostando na economia do mar, nas novas tecnologias, na captação de investimento estrangeiro, na agricultura, num sistema fiscal uniforme para toda a região e numa estratégia turística vocacionada para o turismo sustentável.