Talibãs geram ‘surpresa’
Os talibãs anunciaram ontem que vão adotar temporariamente uma Constituição datada de 1964, que concedia às mulheres o direito de voto no Afeganistão, mas excluindo os elementos desse texto contrários à sua interpretação da ‘sharia’ (lei islâmica).
A lei fundamental de 1964, elaborada por iniciativa do rei Mohammed Zaher Shah um ano após a sua subida ao poder, consagrou uma monarquia constitucional até este ser deposto, em 1973, e ajudou a promover a participação das mulheres na vida política.
“O Emirado Islâmico adotará a Constituição da época do antigo rei Mohammed Zaher Shah por um período temporário”, anunciou em comunicado o ministro da Justiça talibã, Mawlavi Abdul Hakim Sharaee.
Mas tudo o que no texto for considerado como não-conforme com a ‘sharia’ não será aplicado, precisou o ministro. A adoção desta Constituição pelos talibãs está a gerar surpresa, apesar dos limites que lhe impõem.
Sob o seu anterior regime, entre 1996 e 2001, as mulheres estavam totalmente excluídas da vida pública, não eram autorizadas a estudar, a trabalhar ou sequer a sair à rua sem um familiar masculino.
Mas desde o seu regresso ao poder no país, em meados de agosto, o grupo islâmico radical tem tentado tranquilizar a população afegã e a comunidade internacional, afirmando que se mostrará menos severo que no passado.
As suas promessas têm, contudo, causado ceticismo, tanto mais que o novo Governo é composto por muitos caciques do seu regime fundamentalista dos anos 1990 e não inclui mulher alguma, depois de se terem comprometido a formar um Governo “inclusivo”.