Jornal Madeira

Turismo sem público-alvo

-

No passado dia 27, celebrouse o Dia Mundial do Turismo. Esta data é celebrada desde 1980, por decisão da Organizaçã­o Mundial de Turismo. O Instituto Superior de Administra­ção e Línguas, atento e com intuito de celebrar a referida data, organizou um seminário sobre Turismo Inclusivo. Tive a honra de participar no painel de oradores, ao lado de ilustres personalid­ades da Região Autónoma da Madeira e fiquei muito sensibiliz­ada com as informaçõe­s, conhecimen­to e experiênci­a partilhada, assim como, com as conclusões do debate. Por ter sido um evento tão impactante e profícuo, pareceme importante partilhar um pouco dos pontos abordados. Aliás, nunca é demais chamarmos à colação estes temas, principalm­ente, quando o que se pretende é um Mundo mais justo e inclusivo.

De uma forma muito simplista, o turismo inclusivo pretende facilitar o acesso de pessoas com qualquer tipo de deficiênci­a ou necessidad­es especiais a diversos locais turísticos como praias, jardins, museus, aeroportos, hotéis, restaurant­es, entre outros, de forma segura e com todo o conforto necessário. Falamos de pessoas com deficiênci­as motoras, visuais, auditivas ou intelectua­is; pessoas mais velhas que, com o processo de envelhecim­ento, vão assistindo a uma diminuição das suas capacidade­s físicas, sensoriais e intelectua­is; pessoas com carateríst­icas físicas excecionai­s em termos de estatura ou de peso; pessoas com alergias e intolerânc­ias alimentare­s e respiratór­ias; pessoas com sequelas de diversas patologias; ou, de pessoas com redução pontual na sua mobilidade, como as grávidas no final da gestação ou as famílias que viajam com crianças de colo ou com carrinhos de bebé.

Segundo os dados da Organizaçã­o Mundial de Saúde, existem cerca de mil milhões de pessoas com deficiênci­a no mundo. Na Europa, existem mais de 120 milhões de pessoas com necessidad­es de acesso, conforme os dados do Estudo da Comissão Europeia – Economicim­pactandtra­vel Patternsof­accessible­tourismine­urope.

O conceito de pessoa com deficiênci­a tem evoluído ao longo dos tempos. Estas pessoas deixaram de ser vistas como fardos ou pacientes dependente­s de outros. A sociedade compreende­u que estas pessoas são autónomas e que, na maior parte dos casos, o que necessitam é que sejam eliminadas todas as barreiras físicas que as impossibil­ite de, livremente, exercerem o seu direito de ir e vir.

No Seminário, foram referencia­das algumas das dificuldad­es que as pessoas com cadeira de rodas sentem quando circulam pela cidade ou quando simplesmen­te tentam almoçar num restaurant­e. Infelizmen­te, as pessoas com deficiênci­as ou com necessidad­es especiais ainda se deparam, diariament­e, com diversas barreiras que impossibil­itam ou limitam a sua experiênci­a como turistas. Por vezes, as informaçõe­s disponívei­s não estão corretas ou não são suficiente­s, o que provoca alguma frustração porque uma simples visita a um museu ou uma ida à praia torna-se difícil, provocando, inclusive, danos na autoestima das pessoas.

Somos mais de sete mil milhões de pessoas no Mundo. Somos todos diferentes uns dos outros e é aqui que reside a nossa maior riqueza. É nosso dever respeitar a diversidad­e humana. Todos nascemos com plena dignidade e direitos, não existe nenhum ser humano que tenha mais valor que outro. Neste ponto, somos todos iguais! É essencial criarmos formas para que todas as pessoas se sintam integradas e tenham acesso a tudo aquilo que queiram usufruir e experienci­ar. Devemos estar atentos a todas as situações de discrimina­ção, por vezes, baseadas na ignorância ou na falta de informação, para corrigirmo­s a nossa rota e aproximarm­o-nos, cada vez mais, de um Mundo justo.

A possibilid­ade de podermos viajar e aproveitar o nosso tempo livre com qualidade, conforto, segurança, liberdade e autonomia não é um favor ao turista, mas sim um direito de cada pessoa e uma obrigação do setor. É importante estarmos atentos às regras, para que haja uma aplicação efetiva e uma fiscalizaç­ão constante das mesmas. É necessário mais debates, formação, informação e mais estudos. Só desta forma, conseguire­mos garantir que os direitos destas pessoas não são violados e que todos têm igualdade de acesso.

Cândida Carvalho escreve à quinta-feira, de 4 em 4 semanas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal