Marcelo trava nomeação do ‘herói’ Gouveia e Melo
Presidente da República esclarece três equívocos com o objetivo de colocar um ponto final nas especulações em torno da substituição do chefe do Estado-maior da Armada.
No dia em que finalizou a sua missão como coordenador da task force para a vacinação da covid-19, o vice-almirante Gouveia e Melo viu-se envolvido numa polémica que promete dar que falar.
Poucas horas depois de ter ‘passado a pasta’ da covid ao Governo e à ministra da Saúde, na terça-feira, numa cerimónia onde o ‘herói nacional’ afirmou que era chegado o momento de regressar ao anonimato das suas funções militares, fontes ligadas ao Ministério da Defesa confirmavam que o ministro João Gomes Cravinho iria propor ao Presidente da República a exoneração do chefe do Estado-maior da Armada, sendo que o nome do vice-almirante seria o indicado para substituir António Mendes Calado.
No entanto, esta informação não agradou Marcelo Rebelo de Sousa, que ontem lamentou ver o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo envolvido em notícias sobre a substituição do chefe do Estado-maior da Armada, numa situação que pode parecer "de atropelamento de pessoas ou de instituições".
O Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas defendeu que Henrique Gouveia e Melo "merece, pela sua carreira, a condecoração" que recebeu recentemente "e, pela atuação na campanha da vacinação, o agradecimento de todos os portugueses".
"E, por isso mesmo, o seu mérito, a sua classe, a sua categoria dispensam o ser envolvido numa situação em que pudesse aparecer como que de atropelamento de pessoas ou de instituições. Não é bom nem para as pessoas, nem para as substituições", considerou.
Marcelo Rebelo de Sousa disse que decidiu intervir publicamente neste caso para esclarecer o que qualificou de equívocos. "Primeiro equívoco: o senhor almirante chefe do Estado-maior da Armada viu o seu mandato renovado a partir do dia 1 de março deste ano. Normalmente essa renovação dura dois anos, mas mostrou uma disponibilidade, com elegância pessoal e institucional, para prescindir de parte do tempo para permitir que pudessem aceder à sua sucessão camaradas seus antes de deixarem a atividade, de deixarem o ativo. E, portanto, nessa altura foi acertado um determinado momento para isso ocorrer, que não é este momento", disse.
Existe ainda um "segundo equívoco", que respeita à "fundamentação para a cessação de funções do senhor almirante chefe do Estado-Maior da Armada". O Presidente da República contestou a que a saída de Mendes Calado da chefia da Armada esteja relacionada com "a intervenção que fez expondo o ponto de vista da Armada, como fizeram os senhores generais chefes do Estado-maior do Exército e do Estado-maior da Força Aérea" sobre a reforma orgânica das Forças Armadas.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "o terceiro equívoco diz respeito à substituição", em que só faz sentido falar "depois de terminado o exercício de funções".
"Eu esclareço estes três equívocos, porque se trata de salvaguardar a reputação das pessoas envolvidas e se trata de salvaguardar o prestígio das instituições. Portanto, é tudo muito mais simples e claro do que aquilo que me pareceu resultar de um erro de informação ou de perceção verificado nas últimas horas, desde ontem ao fim da tarde, começo da noite, e agora ao fim da manhã", declarou.
Marcelo reiterou ainda que a saída do chefe do Estado-maior da Armada antes do fim do mandato está acertada, mas não acontecerá agora, escusando-se a adiantar qual será a data.