Sondagens não são previsões
Responsável Técnico da Intercampus explica contexto real e métodos seguidos em estudos de opinião como os que o JM publicou nos últimos meses.
As sondagens pré-eleitorais suscitaram grandes comentários após as eleições autárquicas de 2021. A grande questão andou à volta da surpresa – que as sondagens não conseguiram “prever” – da vitória de Moedas em Lisboa. Mas não só.
Mas as críticas e interrogações não aconteceram só depois da eleição. Já durante a campanha, Rui Rio falou em “vigarice” e em sondagens feitas à medida dos pedidos de quem as encomenda.
Perante este cenário, será útil esclarecer alguns aspetos essenciais.
. Sondagem e previsão
É sabido que as sondagens não são previsões. As sondagens retratam uma realidade num determinado momento, abordando um Universo de eleitores e não um Universo de votantes. Para uma sondagem realizada 15 dias antes da eleição coincidir com os resultados desta seria necessário que todos os que se abstêm, ou votam, já o tivessem decidido nessa altura. O que sabemos não ser verdade. Mas também seria preciso que os futuros votantes já tivessem decidido em quem votar nessa altura. O que é inverosímil. Se assim fosse, as campanhas eleitorais não seriam necessárias.
O que acontece é que, 15 dias antes, existe uma % muito significativa da população que ainda não decidiu o que vai fazer. Irá decidir nos últimos dias ou, mesmo, no próprio dia. Por isso, as opções podem mudar muito nos últimos dias. alguém, mas contra alguém.
. A “espiral do silêncio”
Para uma sondagem realizada 15 dias antes da eleição coincidir com os resultados desta seria necessário que todos os que se abstêm, ou votam, já o tivessem decidido nessa altura. O que sabemos não ser verdade.
A teoria da “espiral do silêncio” foi apresentada há alguns anos (anos 70) por uma investigadora alemã chamada Elisabeth Noelle-neumann. A teoria é simples: existem partidos ou candidatos em “clima de opinião negativo”, cujos eleitores ou simpatizantes tendem a responder menos às sondagens por entenderem que estas não valorizam suficientemente a importância dos políticos que apoiam. Assim, remetem-se ao silêncio, tendem a não participar nas sondagens e os partidos que apoiam surgem subavaliados.
A primeira vez que existiu espiral do silêncio em Portugal foi em 1995, quando o PSD (órfão de Cavaco Silva) tentou convencer o eleitorado de que as sondagens estavam a falsear a realidade ao anunciar a vitória do Partido Socialista. O que, como se sabe, era a mais pura verdade. Desde aí, PSD e CDS têm tido atitudes públicas frequentes contra a honestidade e veracidade das sondagens, o que tem provocado a sua correspondente subavaliação.
Numa eleição em que Rui Rio disse o que disse, não parece difícil de imaginar o eleitor PSD que fecha a porta ao entrevistador que lhe quer fazer uma sondagem política. No fundo, este não passa de um vigarista. Quanto mais recusas houver, mais subavaliado fica o partido em causa.
Assim, pode dizer-se que Rui Rio é vítima do seu próprio erro de arrasar as sondagens? Se calhar, nem por isso. Como veremos no ponto que se segue.
. O “bandwaggon” e abstenção por certeza de vitória
Por que razão os políticos se queixam quando as sondagens lhes dão resultados muito mais baixos do