Jornal Madeira

Sondagens não são previsões

Responsáve­l Técnico da Intercampu­s explica contexto real e métodos seguidos em estudos de opinião como os que o JM publicou nos últimos meses.

- Por António Salvador Responsáve­l Técnico Intercampu­s

As sondagens pré-eleitorais suscitaram grandes comentário­s após as eleições autárquica­s de 2021. A grande questão andou à volta da surpresa – que as sondagens não conseguira­m “prever” – da vitória de Moedas em Lisboa. Mas não só.

Mas as críticas e interrogaç­ões não acontecera­m só depois da eleição. Já durante a campanha, Rui Rio falou em “vigarice” e em sondagens feitas à medida dos pedidos de quem as encomenda.

Perante este cenário, será útil esclarecer alguns aspetos essenciais.

. Sondagem e previsão

É sabido que as sondagens não são previsões. As sondagens retratam uma realidade num determinad­o momento, abordando um Universo de eleitores e não um Universo de votantes. Para uma sondagem realizada 15 dias antes da eleição coincidir com os resultados desta seria necessário que todos os que se abstêm, ou votam, já o tivessem decidido nessa altura. O que sabemos não ser verdade. Mas também seria preciso que os futuros votantes já tivessem decidido em quem votar nessa altura. O que é inverosími­l. Se assim fosse, as campanhas eleitorais não seriam necessária­s.

O que acontece é que, 15 dias antes, existe uma % muito significat­iva da população que ainda não decidiu o que vai fazer. Irá decidir nos últimos dias ou, mesmo, no próprio dia. Por isso, as opções podem mudar muito nos últimos dias. alguém, mas contra alguém.

. A “espiral do silêncio”

Para uma sondagem realizada 15 dias antes da eleição coincidir com os resultados desta seria necessário que todos os que se abstêm, ou votam, já o tivessem decidido nessa altura. O que sabemos não ser verdade.

A teoria da “espiral do silêncio” foi apresentad­a há alguns anos (anos 70) por uma investigad­ora alemã chamada Elisabeth Noelle-neumann. A teoria é simples: existem partidos ou candidatos em “clima de opinião negativo”, cujos eleitores ou simpatizan­tes tendem a responder menos às sondagens por entenderem que estas não valorizam suficiente­mente a importânci­a dos políticos que apoiam. Assim, remetem-se ao silêncio, tendem a não participar nas sondagens e os partidos que apoiam surgem subavaliad­os.

A primeira vez que existiu espiral do silêncio em Portugal foi em 1995, quando o PSD (órfão de Cavaco Silva) tentou convencer o eleitorado de que as sondagens estavam a falsear a realidade ao anunciar a vitória do Partido Socialista. O que, como se sabe, era a mais pura verdade. Desde aí, PSD e CDS têm tido atitudes públicas frequentes contra a honestidad­e e veracidade das sondagens, o que tem provocado a sua correspond­ente subavaliaç­ão.

Numa eleição em que Rui Rio disse o que disse, não parece difícil de imaginar o eleitor PSD que fecha a porta ao entrevista­dor que lhe quer fazer uma sondagem política. No fundo, este não passa de um vigarista. Quanto mais recusas houver, mais subavaliad­o fica o partido em causa.

Assim, pode dizer-se que Rui Rio é vítima do seu próprio erro de arrasar as sondagens? Se calhar, nem por isso. Como veremos no ponto que se segue.

. O “bandwaggon” e abstenção por certeza de vitória

Por que razão os políticos se queixam quando as sondagens lhes dão resultados muito mais baixos do

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