Jornal Madeira

Pedro Calado: “Grande desafio do Funchal é mudar na área social”

- Por Agostinho Silva e Carla Ribeiro agostinhos­ilva@jm-madeira.pt

No dia em que completa 50 anos, e na primeira entrevista após a eleição de há oito dias, Pedro Calado diz ao JM que o grande desafio do Funchal é mudar a questão social. “Quem recebe apoios sociais não pode viver por conta da sociedade, sem que preste um trabalho e uma ajuda social”, atira o novo presidente da Câmara.

O projeto de Polícia Municipal é ideia para abandonar – garante Pedro Calado, acenando à colaboraçã­o com a PSP. O problema dos sem-abrigo é para enfrentar de frente.

Primeiro mentor da economia de longevidad­e no Governo Regional, o novo autarca quer estender o projeto à CMF. “Estou muito tentado a criar um departamen­to específico, novo, na Câmara só para desenvolve­r a economia da longevidad­e.”

Disponível para presidir e “abraçar o projeto da AMRAM”, Pedro Calado olha também para dentro do Psd-madeira: “Houve muita coisa que não correu bem. Há muitas arestas para serem limadas. A altura certa para falar é agora.”

JM – Uma semana após a grande vitória nas Eleições autárquica­s, eis o início de um novo ciclo. Um ano memorável em termos políticos, profission­ais e também pessoais…

Pedro Calado – É uma grande satisfação chegar aos 50 anos e sentir que tudo aquilo que havia para fazer foi feito. Com muita dedicação, trabalho, entusiasmo. Esta é a minha forma de ser e de estar na vida. Dedico-me sempre a 200 por cento em tudo o que acredito. Vale a pena lutar por aquilo em que acreditamo­s.

É esse entusiasmo que eu ponho na minha vida desportiva, na pessoal e também na profission­al, quando os propósitos são positivos e leais, quando são propósitos de ajudar as pessoas. Falando especialme­nte de política, aquilo que me move, deixa-me naturalmen­te satisfeito. Estou muito feliz por termos conseguido o nosso objetivo, por termos uma boa equipa a trabalhar pelas causas do Funchal.

Está a ser um ano marcante e não apenas em termos políticos, mas também ao nível particular e familiar…

Sim. É um ano marcante na minha vida. Foi preciso chegar quase aos 50 anos para ter tomado a decisão de casar. Encontrei a pessoa certa há dois anos e, este ano, curiosamen­te no dia 27 de março – que foi um dia de temporal, o último que tivemos na Madeira – foi o dia em que casámos. A Carla tem me acompanhad­o muito na minha vida; tem sido uma presença fundamenta­l para enfrentar todos estes desafios. Aceitou e deu-me muita força para encarar o objetivo da candidatur­a à Câmara Municipal do Funchal. Tem me ajudado em muitos momentos e tem sido decisiva na forma como tenho estado e encarado estes momentos.

Depois, ao nível desportivo, tivemos mais um desafio. Conseguimo­s vencer o Rali Vinho Madeira. Estamos a muito pouco de celebrar mais um título de campeão regional. Julgo que já é o sexto ou o sétimo. E, hoje, celebro 50 anos. Eu e o meu irmão gémeo. E também é muito bom poder celebrar com ele. Ele está a viver em Lisboa mas vamos estar, hoje, juntos.

Ao nível político e profission­al, deixei as funções governativ­as às quais estava a dedicar-me a 200 por cento para apostar no concelho do Funchal. Foi uma decisão arriscada. Ponderámos os riscos que havia. Mas apostámos tudo. Conseguimo­s reunir pessoas muito boas em termos profission­ais, em termos de lealdade e de dedicação ao projeto. O resultado está à vista. Conseguimo­s criar um projeto muito bom. Sólido. Consistent­e. Com provas dadas em termos de experiênci­a profission­al de todas as pessoas que estão envolvidas.

O projeto em que estamos muito focados para montar nos próximos quatro anos é muito sério. E estamos crentes,

RÁDIO quer pela satisfação que vemos nas pessoas [que nos cumpriment­am e falam connosco todos os dias], quer por aquilo que sentimos em relação à cidade do Funchal, que vamos todos dedicar-nos a 200 por cento e trabalhar em equipa.

Antes de chegar à varanda da sede da coligação e gritar ‘vitória’, no último domingo à noite, liderou um processo de certa forma inédito porque, cada vez mais, as campanhas eleitorais recaem sobre os próprios candidatos. Tem essa ideia que foi preciso dar muito de si, em vez de seguir um guião de um partido e da sua máquina?

Quisemos fazer uma campanha diferente e acho que conseguimo­s. Geralmente, estas campanhas estão centraliza­das nos candidatos. Muitas vezes, perde-se muito tempo a atacar, pessoalmen­te, o candidato A e o candidato B. Nesse aspeto, nós nunca baixámos o nível da nossa candidatur­a e da nossa campanha.

Procurámos sempre apresentar projetos, discutir ideias. Mostrar as diferenças do nosso projeto em relação ao projeto da candidatur­a opositora. Em campanhas eleitorais anteriores, uma das críticas que a comunicaçã­o social fazia muito aos candidatos era que falavam muito, atacavam-se muito, mas conhecia-se pouco dos projetos. Desta vez, fomos acusados de termos apresentad­o muitos projetos, muitas propostas. Mas é isso que queremos para a cidade do Funchal.

Posso dizer que, na segunda-feira seguinte ao dia das eleições, já começámos a trabalhar. Reuni com toda a equipa interna e equipa de campanha. Reunimos com todos. Fizemos um balanço que foi muito positivo. Vimos onde tínhamos acertado e o que tínhamos a corrigir.

No dia seguinte, reuni toda a minha vereação e candidatos agora eleitos às Juntas de Freguesia e começámos já a planear as coisas. Nós já estamos no terreno. Temos estado a visitar os serviços da Autarquia e a cumpriment­ar as pessoas. Obviamente que ainda não podemos estar dentro dos serviços, mas temos falado com as pessoas. Queremos fazer uma aproximaçã­o e tornar esta presidênci­a ‘aberta’. Junto das pessoas, perto dos trabalhado­res. Esta é a nossa forma de ser e de estar.

Não atacámos ninguém. Não baixámos o nível da nossa campanha, que tentámos fosse elevada, com projetos e mostrando as diferenças. Acho que marcou a diferença. As pessoas sentiram a experiênci­a e profission­alismo das pessoas que lá estavam. E viram que estamos aqui de corpo e alma, sem amadorismo­s.

Está num partido habituado a grandes noites de vitórias. Mas este poderá ter sido um processo diferente do habitual, trazendo para a política uma série de pessoas que, habitualme­nte, não se envolvem dessa forma. Concorda?

Acompanho o PSD já desde pequenino. Andava na escola e ouvia o dr. Alberto João nos seus comícios e sempre me interessei pela política. Quando fui para a Faculdade, lembro-me que os meus tios, com quem vivi em Lisboa, falavam muito do Alberto João e de eu gostar muito dele. Cresci neste meio e a sentir a Madeira de uma forma diferente.

O que tentei fazer, desde que fui para o Governo Regional em 2017, foi tentar aproximar a nossa família, a família PSD. Naturalmen­te que, depois da disputa interna que houve em 2012, com seis candidatos, senti que o partido estava muito dividido. Sentiu-se isso nas eleições autárquica­s em 2013. Sentiu-se nas eleições em 2017, razão pela qual, aceitei o desafio de entrar no Governo nesse ano, sempre com o propósito, como disse na altura ao dr. Miguel Albuquerqu­e, que aceitava regressar ao partido e ao Governo, a uma vida política ativa, com a condição de tentar aproximar a família do PSD. Temos conseguido fazer isso tudo.

De 2017 até agora, fomos juntando as peças, unindo o partido. O trabalho resultou de forma positiva. E agora, nesta campanha autárquica, pedi a todas as minhas equipas e a todos os candidatos a juntas de freguesia que juntassem as comissões políticas, trouxessem todas as pessoas, juntassem JSD, TSD, autarcas. Pedia sempre que unissem e multiplica­ssem o apoio.

O certo é que se criou um sentimento de família, de vitória, novamente, que já não existia há muito tempo. Houve pessoas que sentiram isso durante a campanha, nas arruadas, nos comícios. Diziam-me que já tinham saudades de sentir esta força, esta dinâmica.

Se estivermos todos unidos, é muito difícil ganharem ao PSD. No domingo à noite, senti um calor humano muito bom. Pessoas entusiasma­das, que já não via há muitos anos. Pessoas com alguma idade, que até podiam estar no conforto do seu lar, mas que fizeram questão de vir ter connosco, de nos dar um abraço. O que é bom, até para os jovens porque veem ali um partido com pessoas com 70 e com 80 anos, que dedicaram toda a sua vida ao partido.

Ver um homem como Alberto João Jardim, com 80 anos, três horas seguidas no porta a porta, é fantástico. As pessoas desciam para dar um abraço. Isto trouxe uma alma ao nosso partido e não há outro que a tenha.

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Ouça a entrevista na íntegra, hoje após o noticiário das 13 horas.

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