Factos são factos!
Opovo foi chamado às urnas. E no exercício do seu direito/dever, escolheu quem pretende que governe os seus municípios e freguesias nos próximos quatro anos. O resultado agradou os vencedores e, claro, desagradou aos preteridos. Até aqui perfeitamente natural. Umas vezes somos os escolhidos do povo, outras vezes serão outros. O que já não é normal (ou aceitável) são as desculpas/interesses/justificações que advêm do resultado eleitoral.
As autárquicas regionais foram um sucesso retumbante para a Coligação PSD/CDS. Desde logo cotou-se como a força mais representativa na Região, ganhou as capitais das ilhas (Funchal e o Porto Santo) e recuperou bastante terreno em Machico (somando mais 1 vereador, mais 1 deputado municipal e mais 4 deputados de freguesia), em Santa Cruz (também mais 1 vereador, mais 3 deputados municipais e mais 2 deputados de freguesia), e até no Porto Moniz (com mais 1 vereador, mais 2 deputados municipais e mais 4 deputados de freguesia). Só a Ponta do Sol foi o patinho feio, fruto claro e exemplar das divergências internas nos partidos da coligação naquele concelho e apenas por interesses pessoais, que os pontassolenses perceberam e não perdoaram. Quanto aos restantes concelhos, todos os movimentos apoiados pelo PSD/CDS venceram sem apelo nem agravo (Ribeira Brava e São Vicente), com o CDS a manter Santana (pela primeira vez sem o Teófilo Cunha - parabéns Dinarte!!), e o PSD a fechar Câmara de Lobos e Calheta.
É claro que estes resultados da Coligação - que alguns vaticinavam um desastre - transtornaram o PS na Madeira e abriu a habitual conflitualidade interna (naquilo que é típico no partido socialista, que é a trituração dos seus líderes), mas sobretudo aborreceu e frustrou a resistência oposicionista às direções de PSD e CDS. Basta estar um pouco atento e ler nas entrelinhas das reações pós eleitorais. Aqui há duas teorias vigentes: a primeira é procurar desconsiderar o papel do CDS nos resultados da Coligação. Basta ver algumas das opiniões que têm saído em alguns matutinos que propositadamente ignoram o CDS ou rebaixam a sua participação e/ou até os seus eleitos para os diversos órgãos executivos em toda a Região. A segunda teoria é de que os resultados do CDS na realidade foram um ‘desastre’ (lá foram vereadores), incluindo desenterrarem algumas pessoas apenas para afirmarem que o seu presidente não tem condições para continuar e deveria demitir-se! Vamos por partes.
Desde logo, o primeiro argumento é feito para agradar a falange dos dois partidos que não queriam a coligação (esta e a governamental). Para dentro do PSD, para dar a ideia de que, de facto, o partido não necessita da ‘muleta’ do CDS e que o CDS é que vai “à boleia dos grandes resultados dos laranjas”. Para dentro do CDS para alimentar uma oposição ao Rui Barreto e dar crédito a uma eventual candidatura a outra(s) pessoa(s) no próximo congresso regional. O problema é que este argumentário é intelectualmente desonesto. Primeiro porque não é possível dizer qual o peso de cada partido nos resultados da coligação. Para isso seria necessário pegar nas 44.258 pessoas que votaram na coligação e perguntar-lhes diretamente: votou por causa do PSD? Votou por causa do CDS? Votou porque estão os dois em conjunto? Portanto, dizer que o peso do CDS nestes resultados é inexistente é extrapolar a vontade popular - quem escolheu, escolheu esta combinação. Ponto final. Tudo o resto é ‘ses’, sem qualquer fiabilidade ou racionalidade e, sobretudo, muita má-fé. Para além de que, nas Autárquicas o cunho personalista é muito vincado. Mais do que partidos, e dada a proximidade dos cargos da população, as pessoas votam nos candidatos. O que se pode retirar daqui é que, de facto, a Coligação teve os melhores candidatos, aos olhos do povo, o que é um mérito enorme às duas direções dos partidos da Coligação.
O segundo argumento é ainda mais parvo, perdoem-me a franqueza. Sendo verdade que não é possível destrinçar o peso dos dois partidos nos resultados da Coligação, por outro é impossível disfarçar que estes resultados permitiram ao CDS colocar uma série de elementos em lugares eleitos que não os tinha anteriormente. Só no Funchal, esta Coligação permitiu o CDS colocar mais 12 autarcas em relação a 2017, naquilo que é agora a maior participação autárquica de sempre na capital madeirense. Um vereador, 5 deputados municipais (eram 3 em 2017) e 22 membros de freguesia (eram 12) que, neste caso, também integrarão o executivo das juntas. Por exemplo, Machico e Porto Santo passam a contar com autarcas do CDS, onde antes destas eleições havia zero! Dir-me-ão, e os vereadores perdidos em Câmara de Lobos, Calheta e Ponta do Sol? Ou as duas juntas? É verdade. Se da Ponta do Sol acima já referi a causa, Câmara de Lobos e Calheta foram o resultado da mudança de candidatos nestes concelhos que não surtiu na desejada aceitação pela população, o que é algo perfeitamente natural. Mas o resultado não desanima e permite continuar, nesses concelhos, a mostrar estes valores do CDS e almejar recuperação em 2025.
Mas o que interessa retirar daqui é que a estratégia do CDS em vigor está a resultar. Em 2018 Rui Barreto na sua moção global definiu o CDS como partido de governo. Logo no ano a seguir o CDS integrou, em coligação, o Governo Regional. O prémio deste bom trabalho está no sucesso da mesma coligação nestas autárquicas. E assim, em pouco menos de 3 anos, o CDS integra o ‘governo’ de várias câmaras e juntas. Há quem ache que isto é um falhanço e que o CDS está a definhar. É uma opinião. Há quem goste só da sua capelinha. Mas há quem sonhe mais alto. O que é certo é que factos são factos. E estes são indesmentíveis e à prova de quaisquer teorias de derrotados.
Luís Miguel Rosa escreve ao domingo, de 2 em 2 semanas