Jornal Madeira

Podem soltar os fogos

- Pedro Nunes Médico-dentista

Se a Dona Dolores assim pediu quando um dos seus filhos ganhou um prémio, também eu solicitei que desatassem a acender os pavios dos foguetes assim que soube que, sem mudar de pai, tinha passado a ser filho do Presidente da Assembleia Municipal! Ao mesmo tempo, vesti os miúdos e levei-os a dar um abraço ao avô. Eles queriam. E eu fazia questão que eles fossem.

Foram a rigor. Felizes e com camisolas alusivas ao momento. Depois de atravessar­mos o Largo do Colégio, encostámo-nos à porta da esquina de cima do antigo Banif. Pensei para mim que ali estávamos seguros. Nem corríamos o risco de levar com nenhuma bandeira na cabeça, nem estávamos muito expostos às câmaras. Sim, assumo que procurava a discrição. Queria passar despercebi­do. Que ninguém desse pela minha presença. Porém foi puro engano! Do nada, e para surpresa minha, começam todos aos gritos: "Pedro, amigo, o povo está contigo". Percebi que era bem-vindo. Mas não era minha intenção ofuscar o momento do meu pai. Fiquei sem jeito. Agradeci de aceno e pedi então que parassem. Respeitara­m. Só que, não sei se embalados pela euforia, voltaram a perder a noção e decidiram entoar em coro afinado: "Nós só queremos o Pedro a presidente, o Pedro a presidente, o Pedro a presidente". E quanto mais eu pedia calma, mais eles repetiam. E repetiam. E repetiam. Estão a imaginar a minha posição, não estão? Ir ali só para cumpriment­ar um eleito e já receber esta onda de apoio!? Peguei e vim embora...

É que agora uma pessoa não está a salvo em lado nenhum. Parece que vai tudo a eleições. É a Associação de Futebol da Madeira que vai ter que resolver o imbróglio em que se meteu. É o PS Madeira que ficou órfão e o único candidato assumido que tem, para já, é alguém que conta no currículo com uma derrota na Câmara do Porto Santo. Pior. O seu auto proclamado primeiro apoiante é um senhor reconhecid­amente EX-PSD. É o Marítimo que tem no antigo timoneiro o candidato a roubar a chave ao seu sucessor. Já para não falar no União que tem o seu presidente a convidar os sócios a se chegarem à frente. A saírem do sofá para ir deitar a mão. Meu amigo Sérgio, por favor não contes com a minha pessoa. Profanação de cadáver não é comigo. A sério. Desculpa!

Voltando a dia 26 e como vos estava a contar, na verdade, recolhi aos meus aposentos, mas nem por isso me cabia um feijão. Bem, confesso que não tentei introduzir sequer uma lentilha. O que queria dizer é que estava e estou muito orgulhoso. O pediatra dos meus filhos tinha recebido quase mais votos sozinho do que o CDS nas vezes todas que este concorreu sem ser em coligação! Mérito dele, óbvio. Mas também de todos os que nele votaram. Foram mais de 17 mil! Incrível. Curioso é ter recebido ainda mais mensagens do que votos. Das duas uma. Ou contaram mal os boletins, ou alguns querem é ficar bem na fotografia.

Na verdade, isso pouco importa. Ele vai dar o melhor por uns e outros. Tenho a certeza! Se assim não for, daqui a 4 anos salta da cadeira. Vai à vida dele. Simples assim!

E qual é o mal? Nenhum. O Miguel Silva Gouveia não vai voltar a dar à luz? O Paulo Cafôfo não aderiu à campanha do "regresso às aulas"? O Gualberto não volta a "emigrar" para o Funchal? O senhor que achava que ia ganhar Santa Maria Maior com uma perna às costas e afinal foi o único laranja que não ganhou a Junta, não vai abandonar a política? Pronto. A vida continua. Cada um segue o seu caminho.

Ok. Segue o seu caminho ponto e vírgula. Sou obrigado a concordar convosco. Sim. A maioria dos caminhos vão sempre dar ao mesmo lugar. Eles podem dar voltas e voltas. Correr e saltar. Acabam invariavel­mente no colinho. Ninguém fica desamparad­o. Basta ver, por exemplo, o caso da Dra Rita Andrade! De saída, em tempos, do Governo e depois de uma licença (não sambática), lá conseguira­m mudar estatutos e colocá-la no IA saúde. Mas a chupeta não ficou por aí... Agora voltaram a "puxá-la" para o executivo. Mais precisamen­te para a Inclusão. Pois claro. Fazer o quê? Os bons são ou não são para serem mantidos? Seus más línguas...

Eu cá já estou é pronto para fazer um pedido. Ouvi dizer que vão construir uma data de fogos. Que os anteriores responsáve­is só fizeram meia dúzia e restos. Por favor, no meio de tanto teto, arranjem um para o meu pai. Não vejo a hora dele sair de casa. Eu fui saindo à frente a ver se ele ganhava coragem e seguia o exemplo. Mas não há maneira! Parece que está para ficar. E convenhamo­s... Para o tempo que ele passa em casa e o que cozinha, bem que podia ir para um T1 com kitchenett! Enfim. Gente sem noção.

Se ao menos fizessem como fez o Rendeiro... Pôs-se na Singapura que o pariu! Ups. Perdão. Não está mais aqui quem faliu.

Pedro Nunes escreve ao domingo, todas as semanas

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