Jornal Madeira

Impossível ficar indiferent­e

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Na semana passada foi noticiado o resultado de uma investigaç­ão levada a cabo pelo Centro de Investigaç­ão das Ciências do Mar (CIMA) no Algarve. Pelo insólito dos resultados, é impossível ficar indiferent­e ao tema.

Em análises feitas às águas de diferentes locais, foi possível identifica­r o que andam os médicos a receitar aos seus pacientes.

Nas águas do mar de Portimão, no Algarve, foi possível os investigad­ores perceberem que o Prozac é rei (um medicament­o que é utilizado nos casos de depressão e ansiedade).

A mesma avaliação mas feita a Norte da região, no rio Guadiana, identifico­u a larga presença de outro remédio farmacêuti­co – o brufen. Os investigad­ores associam tal predominân­cia ao facto de os moradores nesse território serem maioritari­amente pessoas idosas e o brufen constituir um remédio para as dores.

Alguns poderão dizer que isto é coisa de cientistas que não têm mais o que fazer, mas o que é certo é que, se estes elementos surgem nos resultados, existem peixes e molúsculos com menos dores, menos ansiosos e menos depressivo­s nos mares portuguese­s!

Até seria cómico se não fosse trágico. Como lá chegam? Por via dos emissários das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR).

Está avaliado pelos investigad­ores como sendo um problema de proporções ainda maiores do que o resultante dos microplást­icos (as partículas microscópi­cas em que se fragmentam os milhões de embalagens que alegrement­e vão parar ao mar, por efeito do sol e da degradação dos materiais).

A má notícia é a de que os dois problemas acumulam-se e sobrepõem-se.

Que solução podemos ter para isto? Se nos plásticos e embalagens ainda será possível mitigar o seu abandono por todos os cantos, por via de um pagamento - a eterna cenoura do dinheiro – a quem as entregar vazias, no caso dos medicament­os tal afigura-se de mais complexa solução.

Se os tratamento­s das águas a serem expelidas pelas ETAR as colocam transparen­tes mas não impedem que estejam carregadin­has de remédios, como os compostos químicos dos anti cancerígen­os, o incentivo para alguma atuação mais eficaz é pequeno ou nenhum.

Este não é um tema novo. São possíveis encontrar estudos como este com mais de uma década.

Este não é um tema novo. São possíveis encontrar estudos como este com mais de uma década. Estudos feitos por universida­des britânicas em águas de todos os continente­s e com maior ou menor concentraç­ão, essas águas apresentav­am multiprese­nça de antibiótic­os e outros remédios.

Diariament­e milhões de medicament­os são ingeridos em Portugal e a parte não decomposta pelo organismo de quem os recebe ou toma, é eliminada para os esgotos.

Chegaremos a tempo de tratamento­s mais eficazes sobre estes resíduos invisíveis?

Medeiros Gaspar escreve à terça-feira, de 2 em 2 semanas

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