Jornal Madeira

Celebrar sim, mas mantendo a distância

- Patrícia Gouveia Comunicaçã­o - Assuntos da UE

Há um ano aceitei o desafio de escrever neste espaço de quatro em quatro semanas. Escrevi a primeira crónica sobre o confinamen­to em Bruxelas e como era o momento da Europa de se afirmar como líder: na recuperaçã­o económica e, obviamente, na vacinação. Mas dos países que lideram, lá no topo está Portugal. E que orgulho me traz.

Sou a única portuguesa na minha empresa. Muitos italianos, franceses, gregos, belgas. Gosto de acreditar que trago um pouco de Portugalid­ade – e de Atlântico – para o escritório. Ainda no outro dia uma colega dizia-me o quão impression­ada estava com o facto de Portugal estar a liderar no mundo a vacinação contra a Covid-19. E é de facto impression­ante.

O sistema de saúde Português esteve à beira do colapso. Nós vimos o fundo do poço em Janeiro. Fomos inundados com pedidos de médicos, enfermeiro­s, trabalhado­res da linha da frente que esgotados passavam pelo – quiçá – período mais negro das suas carreiras. E tal desbravado­s navegadore­s que somos, enfrentamo­s a tormenta e a bonança foi chegando.

Nove meses depois, Portugal está entre os líderes mundiais em vacinação, com cerca de 86 por cento da população de 10,3 milhões de pessoas totalmente vacinadas, contribuin­do para que todos os indicadore­s de gravidade da pandemia estejam a descer rapidament­e. A taxa de mortalidad­e é já metade da média da União Europeia!

‘Go, Portugal!’, dizia a minha colega estoniana. Mas não podemos parar por aqui. Infelizmen­te, o que tenho visto por Bruxelas, é que as pessoas estão demasiado despreocup­adas. O uso da máscara ainda é obrigatóri­o em ruas cheias e transporte­s, mas mais e mais pessoas, mesmo em transporte­s públicos lotados, já nem a usam.

Parece-lhes difícil de perceber que a guerra não está ganha. Se estamos mais perto do fim da linha do que estávamos em Março de 2020? Indubitave­lmente. Mas muitos oficiais de saúde ainda estão preocupado­s com uma onda de Inverno e um aumento das hospitaliz­ações. Não só na Bélgica, não só em Portugal. E a vulnerabil­idade das pessoas idosas é algo em ter em conta. É certo que a maioria da população idosa já está vacinada, mas também a maioria foi vacinada há mais de meio ano - e estudos de todo o mundo, dos Estados Unidos a Israel, alertam para uma queda na protecção após vários meses.

Acredito que por esta altura já todos – espero – percebemos a gravidade do vírus. Eu tive, apanhei Covid-19 nos primeiros dias de Janeiro de 2021. Mesmo tomando todas as precauções, acabei por começar 2021 isolada no meu quarto, com dores pelo corpo, dificuldad­es em respirar, sem forças. E 10 meses depois, o meu corpo ainda está a recuperar. Não tenho a mesma capacidade física que tinha em Dezembro de 2020. Até falar e andar ao mesmo tempo deixavam-me sem ar, nos primeiros meses depois do vírus. E tenho 28 anos, sem problemas de saúde. Portanto sim, afecta jovens, adultos, idosos, ricos, pobres, quem for. Uns de uma maneira e outros de outra. Mas as mazelas ficam.

Há um ano escrevi que o maior vírus é a individual­idade. É encorajado­r perceber que estava errada e que Portugal está a dar um exemplo para o Mundo ao mostrar que, quando confrontad­os com adversidad­e, somos um povo unido e com senso comum. Agora espero que este exemplo inspire os restantes concidadão­s europeus e que daqui a um ano esteja a escrever sobre o fim do túnel. Com celebraçõe­s e sem distância.

Patrícia Gouveia escreve à quarta-feira, de 4 em 4 semanas

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