Jornal Madeira

Filhos de um Amor Maior

- Lúcia Ferreira Psicóloga Clínica

Os filhos não são nossos, são do mundo. Sempre ouvi dizer. Nesta altura em particular, em que muitos estão de partida e outros de chegada para ingressar no mundo do ensino superior, os abraços substituem as palavras que teimam em não sair, pois as despedidas revestem-se sempre de palavras dolorosas demais para se poderem expressar. Nesse momento, há um misto de dor e de alegria, de saudade e de orgulho, de tristeza e satisfação.

Os jovens ao partirem olham para o futuro, não se permitindo olhar para trás, onde deixam o que sempre conheceram, onde deixam o seu quintal e as suas memórias. Partem em busca do que sonham, em busca dos objetivos que encaram como sendo a concretiza­ção de anos de estudo, de esforço e de dedicação. Anos em que se privaram de viver de uma forma mais leve e despreocup­ada, com uma profissão no horizonte. Mas anos esses com esforços que valeram a pena. Muitos seguem para o desconheci­do, com inseguranç­as, mas com a coragem de enfrentar o que se seguir. Coragem para descobrir o desconheci­do, com passos trémulos, no entanto seguros, do que querem e sonham para si. Aí irão encontrar muitos desafios que os fazem crescer, que os tornam homens e mulheres capazes de enfrentar o que quer que o mundo lhes traga.

Os jovens devem voar livremente, mas com a responsabi­lidade de seguirem o que lhes foi ensinado, com a responsabi­lidade de cuidarem de si, de crescerem de forma saudável física e emocionalm­ente para que um dia, olhando para trás, sintam orgulho do seu percurso de vida, baseado no que a família lhes ensinou e os próprios puseram em prática e foram melhorando.

Vão descobrir que conseguem muito mais de si do que imaginavam, que conseguem lidar com as situações do dia-a-dia à medida que forem surgindo, que afinal conseguem viver sem a asa protetora dos pais, pois está na hora de aprenderem a viver sozinhos.

São tempos de mudança, de descoberta, de cresciment­o. São tempos em que testarão os seus limites e, certamente, se irão superar ficando orgulhosos do que vão conseguido alcançar. São tempos de se fazerem novas amizades, que algumas, certamente, ficarão para a vida, tendo como histórias a forma como se conheceram, as saídas mais ou menos programada­s, os amores e desamores que não se vão esquecer.

Um dia mais tarde, poderão querer voltar ao seu “ninho”, ao local seguro que um dia tiveram que deixar em busca do sonho, na luta pela concretiza­ção dos objetivos, muitos deles já de infância.

Voltarão para os braços dos seus pais de onde, na realidade, nunca saíram. Pois para os pais, por muito longe que seja a distância física, os filhos nunca saem dos seus braços, das suas preocupaçõ­es, das suas orações e pensamento­s mais profundos. Mas apesar da saudade e da dor da distância, o amor não é egoísta, não prende. Deixa voar, deixa crescer. Mesmo com o coração apertado deixam que os filhos cresçam, se realizem e se tornem os adultos de amanhã. A vida é assim mesmo! Os pais criam os filhos, dão-lhes as bases da vida, as regras de convivênci­a em sociedade, a educação e a moral que lhes vai servir de guia pela vida fora, quer estejam perto ou longe de si.

Os filhos não são nossos, mas o amor que sentimos por eles é inabalável, inatingíve­l e indescrití­vel.

Os jovens devem voar livremente, mas com a responsabi­lidade de seguirem o que lhes foi ensinado.

Caindo no risco do “cliché”, o amor pelos filhos é, efetivamen­te, o Amor Maior, aquele que nunca acaba, que não é mensurável e tem a beleza etérea do mais puro de um Ser!

Lúcia Ferreira escreve à quinta-feira, de 4 em 4 semanas

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