Aquacultura em terra também gera discórdia
Sob o lema ‘Um mar de oportunidades’, a EAS2021, que arrancou dia 4 de outubro, chega hoje ao fim, contando com a intervenção do ministro do Mar na sessão de encerramento.
A polémica em torno da aquacultura promete continuar na Madeira, pois nem o recurso a jaulas submersas ou em terra é capaz de reunir consenso entre os empresários, que consideram bem mais rentável a produção efetuada em estruturas visíveis no mar. O governante Teófilo Cunha valoriza todas as possibilidades e revela haver estudos em curso e investidores regionais interessados em avançar para este negócio.
O dia já ia longo quando o JM chegou à 'Aquaculture Europe 2021’, que arrancou na passada segunda-feira no Pestana Casino Park Hotel e no Centro de Congressos da Madeira e que termina hoje. Ainda assim, sentia-se no ar o fervilhar de ideias e o entusiasmo daqueles que se deslocaram à Região para frequentar esta que é uma das maiores conferências científicas e técnicas da Europa dedicadas à aquacultura, um tema que continua a dividir opiniões na Região.
Entre as sessões com oradores de renome ao nível internacional, as atividades estudantis, os workshops e os momentos de ‘happy hour’, os últimos dias têm-se revelado atarefados para os cerca de 1.200 participantes deste evento.
Quanto ao JM, só ao entrar na feira associada a esta conferência, mergulhámos a fundo no mundo da aquacultura. Aqui, há de tudo um pouco: centros de investigação e universidades que dão a conhecer os seus últimos projetos, stands que apresentam algumas das mais inovadoras tecnologias para o desenvolvimento desta atividade e até uma outra iniciativa que apresenta algumas sugestões de receitas a experimentar com águas-vivas, como parte do seu projeto que apresenta novas perspetivas sobre os recursos alimentares marinhos. Além disso, ali, numa cacofonia de línguas, trocam-se ideias, contactos e sorrisos, mesmo debaixo das máscaras.
François Simard, especialista em conservação marinha que trabalha para a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), sediada na Suíça, na qual foi responsável pelo Programa Global Marinho, foi um dos entusiastas que se mostrou satisfeito por marcar presença neste evento. Tendo visitado a Madeira há cerca de cinco anos, o profissional francês revelou ao JM conhecer bem o trabalho que tem sido realizado na Região na área da aquacultura e não tem dúvidas de que o arquipélago é um lugar privilegiado para o seu desenvolvimento.
Ainda assim, não deixou de fazer uma ressalva: “Há muitos tipos de aquacultura. Se me perguntar se a aquacultura é boa para a Madeira, respondo que sim. Mas há boa aquacultura e má aquacultura para a Madeira”, começou por apontar.
Recordando que na Região a aquacultura se cinge essencialmente à cultura de peixe em jaulas no mar, François Simard explica que o grande problema que se coloca é o local onde é desenvolvida esta produção. “Depende sempre de onde é feita. Isto porque se quiser a aquacultura lucrativa, tem de ser intensiva. Não podemos ter jaulas, que são muito caras, com poucos peixes lá dentro. E ao ter jaulas num determinado lugar, vamos ter algumas matérias orgânicas que vêm das jaulas e vão para o mar. Não há maneira de evitá-lo”, explicou.
No entanto, no entender do conferencista, a questão da poluição das águas não levanta grandes preocupações na Madeira. “Se fizermos num lugar com poucas correntes ou que as matérias vão parar ao fundo do mar, podemos ter alguma poluição. Mas se fizermos a alguns metros da costa, como na Madeira, em que há muita profundidade e há correntes marítimas, estas vão acabar por se diluir no mar. Mas fui ao leste da Madeira, a um miradouro onde é possível observar as jaulas, e não achei que houvesse qualquer problema. As jaulas estão bem localizadas”, assegurou.
Já no que toca às críticas feitas ao impacto visual destas estruturas no mar, François Simard considerou que tal também não é problemático e alerta que a solução de optar por jaulas submersas é bastante mais cara.
Segundo o investigador, o que é crucial é que todo o trabalho na aquacultura parta de um planeamento do uso do mar “forte” e “muito inteligente”, de forma a não permitir que os empresários “façam o que querem, onde querem”.
“E outro problema muito importante é aceitabilidade social. Se as pessoas não aceitam, porque não compreendem, vão usar qualquer argumento para dizer que não gostam, que é feio, ou que está a poluir o ambiente. Por isso, o planeamento deve ser também uma concertação com a comunidade”, aditou, reiterando que “se for bem feita, não há nenhuma razão para ser contra a aquacultura”.