Jornal Madeira

Vida e morte da Confiança

- O ESPÍRITO DOS TEMPOS Bruno Miguel Macedo macedo.bm@gmail.com

Uma derrota amarga foi suficiente para mostrar o ADN de alguns democratas que andam pelo Funchal. Começando pela mandatária da Confiança, uma contadora de histórias de ficção científica pueris e patéticas, e acabando em alguns ex-presidente­s de junta, o mau-perder foi a constante, como outrora fora o não saber ganhar. Foram tão arrogantes que enfrentara­m esta eleição como uma coroação anunciada e sem direito a contraditó­rio, mas acabaram vítimas das suas próprias armadilhas cognitivas. Felizmente, quem vive no Funchal percebeu que nenhum dos grandes problemas da cidade era de natureza exógena ou tinha que ver com forças de bloqueio, com orçamentos chumbados ou com o Governo Regional, como tentaram fazer crer. Aliás, os problemas eram endógenos: a falta de limpeza, o desordenam­ento da cidade, as estradas degradadas, o trânsito, as pragas urbanas, a falta de apoio aos empresário­s e às famílias, as perdas de água, os documentos perdidos na burocracia inimiga dos investidor­es e dos munícipes, a obliteraçã­o de duas coligações. Tudo situações cujas soluções dependiam de acções internas, não de desculpas externas. Oito anos passados a cidade estava pior, apesar das promessas. E só cegos não viam a decadência do projecto político. Mas isso foi mais uma armadilha cognitiva. Com duas vias. E com duplo sentido.

Mais vale ser o primeiro na aldeia do que o segundo em Roma

Na política, as vitórias trazem imensos "amigos" e conhecidos, enquanto as derrotas nos deixam órfãos e quase sozinhos. A maioria dos políticos passa por estas experiênci­as de modos distintos. Há quem consiga superar o desaire, há quem nunca recupere. Mas a diferença entre sobreviver e cair tem mais que ver com a dimensão dos erros, do que propriamen­te com a dimensão das derrotas. No entanto, a maioria dos erros que os políticos cometem são erros de acção e de avaliação. É nessa lógica que a ambição é má companheir­a quando impele o incauto a dar passo maior que a perna; ou que a soberba é má conselheir­a quando insiste no equívoco de julgar o inimigo vencido, morto ou encostado às cordas. Foi uma mistura destas duas sentenças que fez o cocktail que matou politicame­nte Paulo Cafôfo. Primeiro, porque achou que os resultados autárquico­s de 2013 e 2017 lhe permitiam tudo e o tornavam imbatível. Depois, porque não soube perceber que era melhor ser primeiro na aldeia do que segundo em lugar nenhum. Quando a situação recomendav­a contenção, Cafôfo optou pela imprudênci­a, arriscou e chocou contra um muro que vacilou, mas não caiu. A jogada virou o feitiço contra o feiticeiro. Na realidade, em dois anos, o protagonis­ta deste parágrafo perdeu a aura e quatro eleições, o suficiente para a queda. E se as eleições autárquica­s de 2013 e de 2017 foram o oxigénio dos sonhos, as eleições autárquica­s de 2021 (numa curiosa ironia) são agora o oxigénio dos pesadelos. Por vezes, a política também escreve direito por linhas tortas.

O trigo e o joio

O melhor das campanhas eleitorais no meu partido, o PSD, é ver como tantos militantes e simpatizan­tes anónimos levam a bandeira da social-democracia pelas freguesias e concelhos da Região. Não têm vergonha do laranja, de falar com as pessoas e de bater à porta das suas casas. São humildes e acreditam nas ideias. Infelizmen­te, outros há que, estando bem instalados em cargos de nomeação da Administra­ção Regional (de directores regionais a membros de administra­ções, de adjuntos a assessores e outros que tais), parecem ter alergia ao povo e à campanha. Gostam da social-democracia para as regalias dos bons cargos, mas não gostam da social-democracia para pegar na bandeira e ajudar a justificá-los. Alguns ainda tentam camuflar aparecendo em arruadas de última da hora, quando uma fotografia pode valer uns likes nas redes da moda, de preferênci­a perto de senhores importante­s. Julgam cumprida a missão de ser vistos. Mas não chega. Porque quem não está disponível para servir a social-democracia nas campanhas eleitorais (e há várias formas de participar), também não devia ser abençoado com benesses para as quais não contribui ou se sacrifica. Espero que o presidente do Psd/madeira, um homem que considero justo, esteja atento.

Bruno Miguel Macedo escreve à sexta-feira, de 4 em 4 semanas

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